Perversão bolsonarista

Damares é acusada de omissão por suposto caso de crianças abusadas sexualmente

Em pregação na Assembleia de Deus em Goiânia, e com crianças presentes, a ex-ministra de Bolsonaro afirmou que menores de 4 anos têm seus dentes arrancados para sexo oral. Parlamentares cobram investigação do MP sobre conduta da futura senadora

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Na ocasião, a senadora afirmou que crianças do Marajó tinham seus dentes arrancados para evitar mordidas durante práticas sexuais

São Paulo – Parlamentares cobraram nesta segunda-feira (10) investigação do Ministério Público contra a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos), eleita senadora pelo Distrito Federal. A ex-chefe da pasta do governo de Jair Bolsonaro (PL) vem sendo acusada de ter se omitido diante de supostos casos de crimes sexuais contra crianças na Ilha de Marajó, no Pará.

A denúncia veio à tona em um vídeo que vem circulando nas redes sociais desde ontem (9). A gravação mostra um discurso de Damares em um templo da Assembleia de Deus, em Goiânia, em que fez graves acusações para tentar angariar votos ao presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição no próximo dia 30. Na ocasião, ela contava que uma comitiva do governo federal, da qual teria feito parte, teria ido à região e descoberto que menores de idade estavam sendo traficados.

A ex-ministra, que era assistida por uma plateia cheia de crianças, ao ressaltar que a ilha fazia fronteiras com diversos países, declarou ter “imagens de crianças de 4 anos, 3 anos que, quando cruzam as fronteiras, sequestradas, têm seus dentinhos arrancados para elas não morderem durante o sexo oral”. A futura senadora pelo Distrito Federal ainda dispara, sem apresentar quaisquer provas, que “essas crianças comem comidas pastosas para que o intestino fique livre para a hora do sexo anal”. A ex-ministra conclui sua fala pedindo voto para o atual presidente, afirmando que Bolsonaro estaria enfrentando uma “guerra espiritual”. 

Parlamentares apontam omissão

Em seu discurso, no entanto, Damares não cita nenhuma medida do governo federal para combater o crime que descreve. Tampouco explicou por que ela, então ministra, não fez as devidas denúncias públicas à época. A senadora eleita declarou apenas que a gestão bolsonarista teria recebido informações sobre as vítimas de tráfico humano e iria atrás de cada uma das crianças. E a reação da sociedade, segundo ela, foi que “o inferno se levantou contra Bolsonaro”, que estaria enfrentando uma “guerra espiritual”. 

O uso político do relato, contudo, chamou atenção de parlamentares que apontam possível cometimento de crimes por parte da ex-ministra. Tanto no teor de sua fala, quanto pela falta de atuação sobre o caso. A deputada estadual eleita Elika Takimoto (PT-RJ) destacou a presença de crianças na plateia que foram expostas ao relato de violência, sem qualquer tipo de proteção por parte da ex-ministra.  

“Damares, que é contra educação sexual em escolas, falou em um (aparente) culto que são arrancados dentes de crianças para elas fazerem sexo oral sem morder e que criança é obrigada a comer comida pastosa para fazer sexo anal. Tinha crianças na plateia. Isso é crime, senadora!”, comentou em seu Twitter.  

Por usa vez, a antropóloga, professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UNB) Debora Diniz também questionou por que não foi feita nenhuma denúncia, nem foi determinada pela ministra dos Direitos Humanos medidas de resgate e de proteção às crianças vítimas. “Se o vídeo de Damares sobre criancinhas e sexo oral em Marajó for verdadeiro, o Ministério Público tem o dever de investigar”, destacou.

Damares e a estratégia de pânico moral

O pedido de investigação também foi reforçado pela vereadora Erika Hilton (Psol-SP), eleita deputada federal. “É papel de uma ministra silenciar sobre esses absurdos enquanto estava empossada no cargo de ministra? E abrir a público uma máfia internacional, dessas, dentro de uma igreja?”, questionou a parlamentar.

O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) acusou ainda Damares de “mentir e distribuir mentiras para as pessoas de forma consciente” como estratégia eleitoral. “Isso é doentio. Ela não apresenta nenhuma prova, nenhuma evidência”, adverte. 

“Não tem nenhum fato que ligue isso à realidade, a não ser uma mente deturpada. (…) Ela é capaz de dizer as mais absurdas arbitrariedades para tentar criar no país um ambiente de quê? Essas pessoas são pessoas, porque elas não têm limite. Impressionante como são tomados por um fanatismo e passam a acreditar na sua própria mentira. Não é possível que ela diga o que disse impunemente, sem apresentar provas. São coisas assim que ninguém imagina que uma senadora, uma ministra, chegue a tão baixo nível, ao subterrâneo. É o pântano da política, a escória da política. E tudo gira em torno de um distúrbio de natureza sexual”, completou. 

Também nas redes sociais houve repúdio de internautas que cobraram investigação e responsabilização de Damares sobre o episódio. O caso também se soma ao debate sobre o combate às fake news nestas eleições. 

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