‘Sem lockdown, feriadões só adiam a desgraça’, diz médica
“A cada cinco mortes, quatro seriam evitáveis se não houvesse negacionismo. Nem nos piores pesadelos imaginávamos que chegaríamos ao colapso no sistema funerário”
Publicado 30/03/2021 - 10h30
São Paulo – Sem a imposição de um lockdown nacional e com medidas de pouca efetividade, como as antecipações de feriados, o Brasil só está “adiando a desgraça”. A médica sanitarista Karina Calife alerta para a falta de políticas de combate à pandemia, em meio aos recordes diários nos mais diversos dados sobre a covid-19. E também ao colapso que já atinge o serviço funerário.
Nesta segunda-feira (29), por exemplo, a média de mortes calculada em sete dias chegou 2.634 vítimas do vírus. A médica destaca o fechamento total da cidade de Araraquara (SP), que impôs um lockdown de 30 dias. Na última sexta-feira (26), dia em que o estado de São Paulo registrou o maior número de mortos pela covid-19 em toda a pandemia (1.193 vítimas), o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), anunciou que o município não teve nenhum óbito pela doença.
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Para tentar restringir o número de pessoas nas ruas e aumentar o isolamento social, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), antecipou diversos feriados, mas houve pouca efetividade, pois os paulistanos foram ao litoral e encheram as estradas do estado. “O governo precisa assumir o que deve ser feito e a maior necessidade do país é o lockdown. Nós vimos o que ocorreu em Araraquara, reduzindo número de casos e mortes. É preciso fechar tudo, inclusive estradas e aeroportos. Não é eficiente adiantar feriado de 2022. O prefeito de Araraquara teve coragem para tomar a decisão, porque a gente só está adiando a desgraça”, afirmou Karina Calife, professora do Departamento de Saúde Coletiva na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, à jornalista Talita Galli, da TVT.
Colapso sanitário
O colapso no sistema de saúde também chegou ao sistema funerário. Tatno que, nos últimos dias, a prefeitura de São Paulo contratou vans escolares para transportar corpos de pessoas mortas pela covid-19 na cidade de São Paulo. Os veículos serão adaptados e atenderão os novos horários de sepultamento, que foram estendidos pela prefeitura, após o aumento de enterros. “Nem nos piores pesadelos imaginávamos que vivenciaríamos um dos piores problemas que pode ocorrer para o sistema de saúde é o colapso no serviço funerário. Eu vejo essa notícia com preocupação, mas não tem o que fazer”, lamentou Karina.
Diante da omissão do governo federal e da falta de medidas efetivas das gestões estaduais e municipais, a médica sanitarista acredita que a situação pode piorar. “Eu temo que a gente chegue a mais de 4 mil mortos por dia. E pior é que a cada cinco mortes, quatro seriam evitáveis se não houvesse o negacionismo e falta de coordenação. Por isso é preciso um lockdown.”