Futuro campus federal na zona leste (SP) espera há 2 anos por terreno da prefeitura

Área na Jacu-Pêssego para instalação da Unifesp foi decretada de interesse público em 2010, mas administração Gilberto Kassab (PSD) ainda não liberou dinheiro para desapropriação

São Paulo – Moradores da zona leste de São Paulo pedem pressa na liberação de verbas para a construção de um campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na avenida Jacu-Pêssego. A área de 175,5 mil metros quadrados foi decretada de interesse público em 2010 pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD), mas até hoje o dinheiro para desapropriação não foi aplicado. As secretarias municipais de Governo e Negócios Jurídicos afirmam que “em breve” os recursos serão liberados. Segundo a assessoria do órgão, o processo “leva tempo”.

A zona leste é a mais populosa da cidade de São Paulo e uma das mais carentes em equipamentos públicos. Grupos que reivindicam a presença da universidade na região acreditam que o novo campus seria capaz de fomentar desenvolvimento e garantiria que mais moradores da região tenham acesso ao ensino superior. 

Ministério da Educação, Unifesp e prefeitura entraram em acordo para construção do campus. Caberia ao poder municipal ceder uma área para abrigar a instituição. A área em questão foi apontada pelos próprios moradores. O terreno, que já conta com uma edificação, pertencia a uma indústria metalúrgica, a Gazarra, e estava abandonado desde 2002. Em maio de 2011 a área foi arrematada em um leilão por R$ 15 milhões. Dois meses depois, em junho, a administração municipal assinalou que pagaria R$ 62 milhões pelo terreno para que fosse construído o campus. O Ministério Público Estadual estranhou o valor, quatro vezes mais alto que o oferecido, e resolveu investigar, o que impediu o andamento da desapropriação. Esse ano, um laudo que atestava que o valor oferecido pela prefeitura estava de acordo com os praticados pelo mercado foi aceito em juízo e a desapropriação foi liberada. 

“No dia 18 fizemos um ato e chamamos o prefeito. Ele mandou uma carta dizendo que vai depositar o dinheiro, mas que tem um rito burocrático. No fundo, isso nos dá a entender que é um jogo político-eleitoral. Porque isso já vem há quatro anos”, afirma padre Antônio Marchioni, mais conhecido como padre Ticão, um dos líderes mais engajados na luta pela construção do campus na região. “Nós até comparamos com o estádio do Corinthians. Em seis meses resolveram tudo. Ainda deram R$ 500 milhões em abatimentos. E para uma universidade a gente vê essa distância do interesse”, compara. “No fundo, é esse modelo elitista brasileiro que sempre foi contra a universidade”, define. 

Padre Ticão acredita que, depois de cedido o terreno, o primeiro vestibular para a unidade poderia ser realizado em sete meses. “No Ministério da Educação está tudo certo para a implantação. Já tem 22 mil metros de construção lá, a engenharia pode ser mais rápida. Nossa expectativa é que, se saísse agora, em março poderia já ter o vestibular e começar as turmas”. Mas a demora na liberação das verbas o deixa pessimista. “Cada dia que passa, eu já acho que vai ficar para agosto de 2013. E cada semana que passa vai ficando mais lá para 2014”, lamenta. 

Além da demora em relação às definições do local onde será construída a universidade, outros fatores podem atrasar o começo das aulas na zona leste. Segundo a Unifesp, depois que o terreno for cedido pela prefeitura ainda será necessário construir instalações para a universidade e a formulação de um plano político-pedagógico. “O conselho universitário fez o aceito. Mas não existe nenhum projeto ainda para cursos de graduação, por exemplo”, afirma Carlos Francisco do Santos Júnior, assessor da reitoria. “Existe uma edificação no local, mas, do jeito que ela está, não é adequada para a universidade. Não é um projeto a curto prazo. Precisa de tempo suficiente para fazer as adequações e construir o projeto político-pedagógico, o que no serviço público demora um pouco”, admitiu.