Para embaixada dos EUA, Agripino Maia e luta contra câncer reforçaram candidatura Dilma

Documentos vazados pelo Wikileaks revelam como EUA acompanharam o 'bizantino' processo eleitoral brasileiro

“Vitória” sobre o câncer poderia ter efeitos positivos para a campanha, avaliou funcionário da embaixada (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

São Paulo – Documentos sigilosos divulgados pelo Wikileaks nesta sexta-feira (10) revelam que membros da embaixada dos Estados Unidos no Brasil acompanharam de perto a evolução da candidatura da atual presidente eleita Dilma Rousseff. Os relatórios apontam a luta contra o câncer e o desempenho da então ministra-chefe da Casa Civil no Congresso Nacional em maio de 2009 foram passos importantes para consolidar a candidatura.

Segundo o relato da jornalista Natália Viana, responsável pelos documentos vazados a respeito do Brasil, há nove relatórios sobre o processo eleitoral. Os integrantes da estrutura consular dos EUA enviaram informações sobre o processo que chegaram a ser usadas em reuniões de “briefing” com o alto escalão de Washington.

A falta de carisma de Dilma é destacada, além do papel que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria na disputa. Especulações realizadas por analistas na mídia sobre alternativas dentro do PT e eventuais deslocamentos na oposição, envolvendo Aécio Neves (PSDB-MG), também são incluídas. A secretária de Estado Hillary Clinton chega a qualificar o sistema eleitoral brasileiro de “bizantino”, em função dos diversos partidos e forças envolvidas.

Em 20 julho de 2009, um relatório da diplomata Lisa Kubiske atribui o crescimento de Dilma nas pesquisas à projeção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o tratamento de nódulos linfáticos. “Enquanto Rousseff continuar parecendo uma lutadora que venceu o câncer, suas chances presidenciais vão aumentar”, relatou.

“Alguns analistas notaram que uma ‘vitória’ sobre o câncer jogará a seu favor e impulsionará a imagem de uma lutadora e vencedora. Mas se ela parecer fraca e derrotada, os eleitores vão minguar”, analisava outro documento, datado de 19 de junho.

Tortura

A participação de Dilma na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, em maio de 2008, foi destacada em outro relatório. Na ocasião, ela foi chamada para explicar as denúncias de um suposto dossiê com dados sobre despesas com cartões corporativos durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Meses antes, ministros e assessores do governo Lula foram alvos de denúncias de uso abusivo e ilegal dos cartões de crédito oficiais.

Na ocasião, ao formular seus questionamentos, o senador Agripino Maia (DEM-RN) insinuou que Dilma poderia estar mentindo, já que admitira, em entrevista de 2003, ter “mentido muito” durante depoimentos prestados, sob tortura, durante a ditadura militar. Ela respondeu que se orgulhava de ter mentido. “Diante da tortura, quem tem dignidade fala mentira (…). Me orgulho de ter mentido porque salvei companheiros da mesma tortura e da morte”, respondeu.

Segundo a visão do assessor da embaixada em Brasília, Phillip Chicola, o episódio ocorrido logo no início da sessão, permitiu que a então ministra controlasse toda a sessão. “A performance de Rousseff perante o comitê poderia ter prejudicado ou afundado suas chances presidenciais, se tivesse ido mal”, escreveu o funcionário. Porém, Agripino Maia “mancou feio” ao fazer a pergunta, ao passo que Dilma deu uma “resposta dramática e inquestionável”.

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