São Paulo –  Quatro atores encenando a criação do mundo pela perspectiva religiosa, mas com olhar caipira e cômico. A inusitada ideia foi assistida por quem passava pela praça do Patriarca, no Centro de São Paulo, na tarde desta terça-feira (9). A peça “O Comecim das Coisas”, parte da 5ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, foi encenada pelo grupo La Cascata Cia. Cômica.

Cerca de 60 pessoas acompanharam a atração, realizada em pleno horário comercial. A peça conta a criação do mundo baseada no relato bíblico do Gênesis misturando elementos de cultura popular do Vale do Paraíba (SP). Para os atores, a mistura aproxima os temas do público. “A linguagem da interpretação enriquece o conhecimento do espectador até nos temas mais complexos”, defende Paulo Willians, um dos componentes da companhia teatral.

A mostra é itinerante e organizada pelo Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR/SP). A edição deste ano distribui as locações pela cidade, dando espaço para todas as regiões de São Paulo em diferentes datas. As apresentações dos 22 grupos teatrais continuam até o dia 14 de novembro. Confira aqui a programação completa.

Segundo a interpretação de La Cascata Cia. Cômica, as primeiras montanhas do mundo foram as do lugarejo assim como o rio Paraíba do Sul também foi originária do “fruto da lágrima divina”. O homem, portanto, foi criado para fazer companhia à Deus e o corpo da mulher, inspirado nas curvas da Serra da Mantiqueira.

Como o próprio nome da peça diz, tanto o ambiente quanto o sotaque remetem ao sertanejo. O personagem Deus (interpretado por Paulo Willians) toma o aspecto de violeiro, tocando modas algumas vezes durante a apresentação além de diversos diálogos cômicos com Adão (Marcio Douglas), cuja conversa aborda temas contemporâneos. No enredo, também se destacam as passagens da criação de Eva (Glauce Carvalho) e a tentação da Serpente (Eva Siellawa).

Liberdade de expressão

Em agosto deste ano, o MTR/SP levou carta aberta à prefeitura de São Paulo reivindicando posicionamento dos órgãos públicos a respeito do cerceamento dos espaços abertos para realização de atividades artísticas. Para eles, a medida atenta contra o artigo 5º da Constituição. Na ocasião, dezenas de atores de rua protestaram simulando o “cemitério da liberdade de expressão”.