São Paulo – Começa na próxima quarta-feira (13), em Teresina, a 10ª Marcha contra a Corrupção e pela Vida, que tem como meta percorrer 154 quilômetros em 15 dias. A Força-Tarefa Popular do Piauí, organizadora da caminhada, prevê a passagem por dez municípios. A marcha, tida como um exemplo de controle social, tem a finalidade de apurar possíveis desvios de verbas públicas pelas administrações municipais.

Todos os anos, em julho, os manifestantes vão a pé de cidade em cidade com planilhas da Controladoria Geral da União (CGU) em mãos. Foram selecionados para a edição deste ano 66 convênios estabelecidos com o governo federal. O cruzamento das informações prestadas pela administração local com recibos e com a realidade na execução das obras mostra se há ou não irregularidades.

Coordenador da Força-Tarefa Popular, Arimatéia Dantas informa que uma equipe visita cada município no dia anterior para promover uma articulação com a sociedade local e começar a apurar as suspeitas de irregularidades levantadas com antecedência. No dia da vistoria em si, à noite, ocorre uma reunião para mostrar de que maneira os cidadãos podem se envolver na fiscalização dos gastos públicos. “A gente explica pedagogicamente como o povo pode ter acesso às contas públicas, à Câmara Municipal. Vai desmistificando e mostrando que ninguém ali é super-herói. São cidadãos como eles e, portanto, eles também podem fazer isso.”

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Saldo positivo

Após a cerimônia de abertura, em Teresina, os ativistas rumam de ônibus para Pio IX, distante 438 quilômetros, de onde começa a marcha a pé. Lá, em uma viagem de reconhecimento realizada há poucas semanas, foi flagrada uma obra abandonada. A construção de um colégio agrícola, com casas e salas de aula, foi deixada de lado, e os fiscalizadores querem saber quando e por que, além de levantarem quanto custou o trabalho.

No dia seguinte (14), será feito o primeiro trecho da caminhada. Até o município de Fronteira são 22 quilômetros, que começam a ser percorridos durante a madrugada. Daí por diante continua o cotidiano que reveza marcha e fiscalização – até o dia 28, em Picos, quando já terão sido superados 154 quilômetros e nove municípios, uma distância até pequena na comparação com outras edições, quando foram superados mais de 250 quilômetros.

O saldo do movimento é positivo. Foram encontradas ruas que, no papel, estavam pavimentadas, mas na prática seguiam de chão batido; projetos de poços artesianos que tinham verba liberada pelo governo federal para a perfuração, mas não haviam sido levados adiante; e bairros às escuras, mesmo contando com recursos para a iluminação. “Quanto mais distantes as comunidades estão da capital, maiores os desvios”, resume Dantas.

O coordenador da Força-Tarefa pretende mostrar, na edição deste ano, que o Ministério Público Estadual e o Judiciário possuem pouco poder de fiscalização e punição destes crimes. Com equipes pequenas, têm condições restritas para visitar as localidades e se debruçar sobre cada problema. Ele lembra que essa limitação pode ser interessante para integrantes do Executivo e do Legislativo que queiram manter o controle sobre ações ilícitas.

O exemplo mais frequente é o da construção de  reservatórios de água. Para Dantas, muitas cidades não levam adiante projetos do gênero porque a manutenção dos caminhões-pipa pode servir à troca de favores eleitorais. “Quando o caminhão-pipa chega, a pessoa agradece o político responsável pela ação. Se tiver água na torneira, paga a conta e pronto. Não tem essa troca.”

Ao término da marcha, os relatórios a respeito de cada irregularidade são encaminhados ao Ministério Público e aos tribunais de contas do estado e da União. Ao longo do ano, os integrantes da Força-Tarefa mantêm a fiscalização sobre as contas municipais.

Clique aqui para acompanhar o roteiro completo da 10ª Marcha contra a Corrupção.