EUA e Paquistão: o acordo secreto

Euro, Paquistão e os Estados Unidos, de Barack Obama: segredos explodem no ar (Fotos: G Schouten de Jel/Sxc.hu; Razaidi/Sxc.hu; e Pete Souza/Divulgação Casa Branca) Coisas secretas estão na moda. Os […]

Euro, Paquistão e os Estados Unidos, de Barack Obama: segredos explodem no ar (Fotos: G Schouten de Jel/Sxc.hu; Razaidi/Sxc.hu; e Pete Souza/Divulgação Casa Branca)

Coisas secretas estão na moda. Os EUA fizeram uma expedição secreta para matar Bin Laden. Em Luxemburgo, ministros da área financeira de 5 países (Grécia, Alemanha, França, Itália e Espanha), mais o encarregado da área financeira da União Européia, presididos pelo primeiro ministro daquele país (que é o presidente da Zona do Euro), fazem uma reunião secreta na noite de sexta-feira para examinar o que fazer com o atoleiro grego. O próprio primeiro ministro anfitrião negou, inicialmente, que houvesse reunião. Mas daí tudo vazou, e o mundo financeiro europeu entrou em pânico. Porque junto vinha a notícia (ou boato) de que a Grécia cogitava deixar o euro e voltar ao dracma, o que provocaria um terre-maremoto no sistema bancário do continente (*para detalhes do porquê, ver minha entrevista no Jornal Brasil Atual, do Colibri).

Nesta terça-feira, nova “secretude”  veio à tona. Dessa vez foi (de novo) com relação ao caso Osama Bin Laden. Noticiou o britânico The Guardian (um dos jornais de maior credibilidade no mundo) que houve um acordo secreto entre Estados Unidos e Paquistão ainda em 2001 (portanto logo depois do ataque às torres gêmeas em Nova York, e três anos antes da Al Qaeda e Osama Bin Laden terem reconhecido oficialmente a autoria) que autorizava o primeiro a fazer operações secretas no território do segundo (sem o conhecimento do governo deste), caso a cúpula da Al Qaeda, inclusive o número 1, lá estivessem.

O acordo, firmado entre o então presidente/ditador General Pervez Musharraf e o presidente George Bush (júnior),  teria sido renovado pouco antes do primeiro deixar o poder, durante um período conhecido como de “Transição Democrática”, quando o Paquistão já tinha um governo eleito. E tinha, de acordo com o jornal, uma claúsula especial: depois da operação o governo paquistanês armaria um “faz-de-conta” de indignação, exigindo explicações, prometendo represálias, etc., para dar uma satisfação interna e externa. mas ficaria tudo por isso mesmo.

Até o momento, o General Musharraf, que hoje vive exilado em Londres, não se pronunciou sobre a história. Do lado estadounidense, o Guardian só tinha conseguido ouvir confirmações “em off”. Resta saber se o atual governo paquistanês está agindo conforme os termos daquele acordo, ou se nem sequer dele saberia. O presidente Obama devia saber.

Isso, no entanto, só cria novos constrangimentos para todas as partes. Porque não resolve o problema da ilegalidade da operação perante o direito internacional, de sua contrariedade em relação a normas mínimas do direito, e de sua aplicação da “lei” do olho por olho, dente por dente.

Em épocas de Wikileaks, tudo que é secreto explode no ar.

Ou como dizem os críticos teatrais ingleses, em relação àqueles momentos em que o enredo se complica: “the plot thickens”. O que podemos traduzir livremente, na nossa linguagem mais chã, por “o caldo engrossa”.