Bate Lata leva percussão a crianças da região sul de Bebedouro

O prazer de ver uma criança crescer e se tornar cidadão dá um baita orgulho, diz coordenador

Para João Batista, projeto fortalece vínculos com as famílias da comunidade e incentiva o sucesso escolar (Foto: Mauro Ramos)

O Bate Lata é um projeto de enriquecimento curricular do Departamento Municipal de Educação de Bebedouro, desenvolvido na Escola João Pereira Pinho desde o ano de 2000.

Idealizado pelos professores João Batista Perri e Cláudia Campos Perri, o Bate Lata une música, canto, dança, oficinas de reciclagem e confecção de instrumentos aos conteúdos do ensino regular.

Os alunos, por exemplo, têm a oportunidade de gravar CDs educativos com o repertório especial, usados como complemento do material didático.

Nesta entrevista, João Batista conta como o projeto fortalece os vínculos com as famílias da comunidade e incentiva o sucesso escolar da criança e do adolescente além, claro, de ampliar o repertório musical e a capacidade de interpretação, revelar talentos e apresentar uma nova opção de lazer e entretenimento.

Jornal Brasil Atual – Quantas crianças são atendidas pelo projeto?

João Batista – Cerca de 600 alunos têm aula de música, na escola de tempo integral. Desses, 130 integram o Bate Lata e participam das apresentações culturais.

Jornal Brasil Atual – Como são feitos os instrumentos?

João Batista – A gente usa desde vagens de flamboyant, que caem de árvores, garrafas pet, bacias e latinhas até tambores de óleo e suco. Tudo é preparado para soar com vários timbres. Nas oficinas de artesanato, alunos e professores confeccionam, pintam e testam os instrumentos. Depois, o regente cria os arranjos especiais, sempre com batidas diferentes das anteriores, daí o termo Bate Lata. Técnicas de ritmo, harmonia e contraponto reorganizam a estrutura das melodias de acordo com a habilidade das crianças. Isso exige ensaio e perseverança. Os alunos estudam música do erudito ao popular.

Jornal Brasil Atual – Que crianças participam?

João Batista – Crianças com problemas emocionais e comportamentais, ocasionados pelo meio em que vivem. Pertencem à região sul da cidade e dividem seu tempo entre a escola e as ruas. São jovens com baixa autoestima e estrutura familiar precária. Isso gera uma criança desinteressada na escola.

Jornal Brasil Atual – Como reverter isso?

João Batista – A gente convida alunos que têm alguma dificuldade e uma certa aptidão musical ou interesse pelas artes. Mas para permanecer no projeto o aluno tem de se comprometer nos estudos. A assiduidade e a disciplina são avaliadas. Assim, todos aprendem a tocar instrumentos e desenvolvem as habilidades e as expressões corporais, como a dança através da arte. Mães monitoras prestam serviços voluntários, cuidando da higiene pessoal, alimentação e vestuário, até a maquiagem e o penteado. Enfim, crianças e adolescentes desenvolvem habilidades que os levem a construir o contexto em que vivem, melhorando a qualidade de vida, através do exercício da cidadania. Com isso, vivem as atividades escolares de forma prazerosa, transformando o ambiente onde o seu fazer acontece. E a escola desenvolve o aprendizado, eleva a autoestima, desperta o gosto musical, revela talentos e apresenta uma nova opção de lazer e entretenimento.

Jornal Brasil Atual – O que representa esse trabalho?

João Batista – Representa nossa vida. Ver as crianças crescerem e tornarem-se cidadãos de bem é uma satisfação e um orgulho muito grande. É gratificante encontrarmos jovens bem-sucedidos que passaram pelas nossas mãos. O Bate Lata é um projeto modelo de educação musical que cresceu com o tempo e tornou-se uma referência. Ele recebe visitantes de todo o Estado, que vêm assistir aos ensaios e conhecer como funciona. Não há uma fórmula pronta para desenvolver o projeto, mas uma concepção diferenciada em relação ao ensinar e aprender, que será sempre uma relação de troca, onde todos são importantes parceiros e colaboradores. Vivenciamos experiências de vida que mostravam alunos em situação de risco, com conflitos familiares e condições de sobrevivência precárias que hoje estão superadas.

Jornal Brasil Atual – Dá pra fazer um balanço?

João Batista – É difícil saber o número exato de apresentações ao longo desses anos. A gente já se apresentou em diversos eventos culturais, feiras, congressos, seminários, formaturas, palestras, festas beneficentes, religiosas, inaugurações. Já esteve em entrega de título Prefeito amigo da criança em Brasília, festa do peão em Barretos, abertura de simpósios em Universidades, passeatas educativas, desfiles cívicos, concursos regionais e estaduais de corais, feira do livro em Ribeirão Preto, Usina da Dança em Orlândia, secretaria estadual de Educação, e até no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.