‘Precisa arrumar, mas sem destruir’, aponta lojista da Santa Ifigênia

Na Coreia do Sul, governo faz parceria com proprietários de imóveis degradados e financia reformas que são posteriormente pagas, explica empresário radicado no Brasil

Sede de indústria e loja de fontes corre risco com desapropriações para Projeto Nova Luz (Foto: Nodaji/divulgação)

São Paulo – Há 33 anos no Brasil, o empresário sul-coreano Young Kwan Lee vê com estranheza a Prefeitura de São Paulo condenar à desapropriação prédios novos, como parte do processo de revitalização da região de Santa Ifigênia. “Precisa arrumar, mas sem destruir”, aponta. Imóvel de Lee, reformado há dois anos, consta de área demarcada pela Prefeitura para desapropriação e demolição.

Lee demorou seis anos para reformar o prédio da Nodaji Casa das Fontes, indústria e loja de fontes de energia. Só há dois ele finalizou a obra. O prédio de quatro andares, com decoração hi-tech, funciona desde 1988 e Lee quer expandir a empresa, mas decidiu parar porque seu imóvel pode ser retirado para construção de empreendimentos do projeto Nova Luz.

Na região, a Prefeitura de São Paulo pretende implantar o projeto de requalificação Nova Luz ainda no primeiro semestre de 2012, de acordo com o prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM, em direção ao PSD). O principal argumento para a ação é a degradação do bairro, estigmatizado como “cracolândia”, porque parte das ruas da região convive com concentração de usuários de drogas.

Moradores e comerciantes do bairro, entretanto, são contrários ao projeto por deixar de lado abordagens de saúde pública para lidar com o problema das drogas e por usar o modelo de concessão urbanística, que permite a empresas particulares promoverem desapropriações. A medida prevê intervenções com desapropriações e demolições de até 60% das construções de 45 quadras do bairro de Santa Ifigênia e Luz, na área delimitada pela rua Mauá e pelas avenidas Ipiranga, São João, Duque de Caxias e Cásper Líbero.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, na sede da Nodaji Casa das Fontes, Lee disse estranhar que a Prefeitura queira revitalizar o bairro prevendo demolições de muitas áreas em boas condições. “Na Coreia quando é preciso renovar um bairro, o governo faz parceria com os proprietários, financia a melhoria e depois as pessoas pagam”, informa.

Ele criou a Nodaji e se notabilizou junto ao público de informática e eletroeletrônicos pela qualidade das fontes de energia produzidas. Ele também é conhecido por atender pessoalmente os clientes e fabricar fontes fora de linha, até mesmo uma única unidade, para atender as necessidades de quem o procura.

Dono da Nodaji preferiu paralisar investimentos com receio do futuro da região da Santa Ifigênia

Na sede da empresa, 150 funcionários atuam na loja e na fábrica de fontes, de montagem de cabos e acessórios e na injeção de plástico. A atuação  do empresário no Brasil chamou atenção do governo sul-coreano e de tevês de seu país. “Eu expliquei que sou um pequeno empresário, mas eles fizeram matérias aqui e o ministro veio me conhecer. Hoje é meu amigo”, diz.

Revistas brasileiras também descobriram o trabalho quase artesanal e o empreendedorismo de Lee que é autodidata na língua portuguesa e no mundo dos eletrônicos. Ele conta com engenheiros para os projetos da fábrica, mas é ele quem supervisiona, além de trabalhar na manutenção de boa parte dos equipamentos que dão entrada. “Consertar, recuperar é importante porque evita desmatamento, perdas para a natureza e de dinheiro”, explica.

Lee chegou ao Brasil aos 15 anos e quando viaja à Coreia, avisa os amigos: ‘sou brasileiro’. Do Brasil, ele espera justiça em relação ao projeto Nova Luz. “Quem não está preocupado?”, indaga. “A lei está acima de tudo, mas lei é povo e tem de ser ouvido”, pede.