Para Apeoesp, proibição a carro de som foi atitude irresponsável da PM

Sindicato dos professores de São Paulo explica que, sem caminhão, manifestação de quarta-feira poderia ter fugido ao controle

Polícia Militar acompanhou a passeata de perto (Maurício Moraes)

A Apeoesp, sindicato que representa os professores da rede pública paulista, considera que a proibição imposta pela Polícia Militar ao caminhão de som da entidade durante o ato de quarta-feira (31) foi irresponsável.

César Pimentel, advogado da entidade, explica que, sem o veículo, a categoria não tinha como orientar os milhares de presentes sobre qual caminho seguir e os problemas a serem evitados. “Argumentei com o tenente que o carro de som é fundamental. Sem ele, há risco de a assembleia virar uma balbúrdia, pois são milhares de pessoas. Foi inflexível. Disse estar cumprindo ordens do comando da PM”, afirma.

Durante a manhã de quarta, antes do início da assembleia da categoria que decidiu pela manutenção da greve iniciada na primeira semana de março, policiais militares impediram que o caminhão de som da Apeoesp ficasse no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo.

A Apeoesp aponta que o veículo estava estacionado de maneira regular e não entende porque o policial, identificado como tenente Esteves, ameaçou aplicar 17 multas contra o proprietário. Temendo a apreensão, o dono do veículo decidiu recolhê-lo à garagem.

A Polícia Militar, por outro lado, argumenta não havia permissão para circular naquela região devido à lei que delimita a Zona Máxima de Restrição de Caminhão. “É uma atitude também traiçoeira. Ontem, nos reunimos com a PM para discutir a assembleia de hoje e assegurar que a convivência seja a mais tranqüila possível. O assunto não foi ventilado. O governo realmente não quer a Apeoesp converse com os professores”, rebate o advogado César Pimentel.

Paralisação e ações

Os professores da rede pública estadual permanecem em greve por reajuste salarial de 34,3% e contra as provas de avaliação impostas pelo governo estadual. A próxima assembleia, marcada para quinta-feira (8), será a primeira sem José Serra à frente do governo do estado – o governador deixa o cargo esta semana para concorrer à Presidência da República nas eleições de outubro.

A expectativa é saber se, sem Serra, as negociações serão finalmente abertas. O governo do estado nega-se a discutir a questão alegando que a greve tem fins eleitoreiros. Com esse argumento, o PSDB ingressou com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a Apeoesp e sua presidente, Maria Izabel Noronha, por considerar que houve utilização de verba e estrutura sindicais para fazer campanha a favor do governo federal e contra os tucanos.

“Enganam-se Serra, o PSDB e seus aliados se pensam que me calarão com representações mal fundamentadas. Tenho opinião, estamos em litigio com o Estado e vou continuar criticando o governo que não nos recebe, quer nos humilhar e nos agride até mesmo fisicamente com a Polícia Militar”, manifestou a presidente da Apeoesp em seu blogue.

Na semana anterior, um ato dos professores nas proximidades do Palácio Bandeirantes, a residência oficial do governo, foi duramente reprimido pela polícia. Os docentes argumentam que, como todo o funcionalismo público paulista, tiveram reajuste salarial várias vezes menor que a inflação registrada ao longo dos anos em que José Serra comandou o estado.

“Ninguém pode ser obrigado a trabalhar de acordo apenas com as condições impostas pelo patrão. A relação trabalhista é um contrato entre as partes e queremos revê-lo.  Temos perdas e queremos discuti-las. Como profissionais da educação, temos o que reivindicar em relação às nossas condições de trabalho”,  pontua Maria Izabel Noronha.