Campanha dos Bancários

Greve entra no terceiro dia depois de alcançar 8.763 agências no país

Em São Paulo, 50 mil aderem à paralisação. Sindicato denuncia coação de funcionários para dormir em centro administrativo e montagem de unidades de execução de serviços fora do locais de origem

Mauricio Morais/Sind Bancarios SP

Categoria vem de greves desde 2003 sempre encerradas com aumento real; adesão neste ano aumentou

São Paulo – O segundo dia da greve nacional dos bancários teve ontem (7) crescimento de 40% da adesão. De acordo como o Comando Nacional da categoria, 8.763 agências e centros administrativos permaneceram fechados durante todo o dia em 26 estados e no Distrito Federal. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Roberto von der Osten, afirmou que a consolidação da greve revela o nível de insatisfação dos trabalhadores. “Os bancários ficaram ainda mais indignados com a divulgação, pela imprensa, da correção de salários e com o tamanho da remuneração dos altos executivos dos bancos”, afirmou.

A proposta salarial feita pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) é de 5,5% de reajuste, ante uma inflação (INPC) acumulada de 9,88%, com um abono de R$ 2.500. O comando assegura que não se chegará a um acordo sem uma propostas que contemple reposição da inflação e aumento real.

Segundo o dirigente da Contraf, a principal divergência da negociação persiste. “Os bancários querem continuar com o modelo de negociação que deu certo nos últimos onze anos, que é a reposição da inflação, mais um ganho real. Os banqueiros querem voltar a um desenho com um índice menor que a inflação mais um abono. Esse formato, que traz redução de salário, foi derrotado nos anos 90. Isso é um retrocesso que não vamos admitir.”

No balanço feito pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, a paralisação atingiu ontem 616 locais de trabalho, sendo 23 centros administrativos e 593 agências, na base da entidade. “Tivemos a adesão de 50 mil bancários, 43% maior que o segundo dia de greve do ano passado. A categoria não aceita essa proposta desrespeitosa: com perda real de 4%, abono que não faz parte do salário e sem o percentual mínimo de distribuição da PLR (participação nos lucros ou resultados), que vem caindo cada vez mais, com o Itaú distribuindo apenas 5,4% e Bradesco 6,7% do lucro”, disse a presidenta do sindicato, Juvandia Moreira. “Esperamos uma nova proposta. O silêncio dos bancos é um desrespeito aos trabalhadores e à população.”

A categoria realiza novas assembleias na próxima terça-feira (13) para avaliar os desdobramentos e a continuidade do movimento. Durante a greve, o autoatendimento continua funcionando normalmente. A convenção coletiva de trabalho, com validade nacional, tem data-base em 1º de setembro. São mais de 500 mil bancários no Brasil, sendo 142 mil na base do sindicato de São Paulo.

Pouso forçado

Integrantes do sindicato em São Paulo disseram ter flagrado a presença de 400 bancários fora do horário de trabalho, muito deles dormindo em condições precárias, no Centro Administrativo Tatuapé do Itaú, na zona leste. Segundo o diretor da entidade Sérgio Lopes, funcionário do Itaú, funcionários foram coagidos a chegar de madrugada e até a dormir da unidade. A equipe do sindicato chegou ao local e, depois de receber denúncia anônima, diz ter confirmado a irregularidade.

“Encontramos pessoas dormindo em colchonetes no chão, sofás e outros debruçados nas estações de trabalho. Isso é prática antissindical. Um desrespeito ao direito de greve, previsto na Constituição”, relata o dirigente sindical. Segundo ele, havia uma grande fila de táxis que levavam bancários até a concentração. Foram encontradas ainda máquinas com um aviso para não serem desligadas. “O banco faz isso com objetivo de contingenciar. Com o computador ligado, o funcionário pode acessar de outro local e trabalhar remotamente”, disse Lopes.

A entidade informa ainda que as instituições financeiras se organizam para driblar o direito de greve com práticas ilegais e antissindicais, como ameaças de advertência, listas de retaliação, transporte irregular para outras unidades, aluguel de imóveis para montagem de contingenciamentos que muitas vezes colocam em risco a segurança dos empregados. “Essa situação é mais uma faceta que demonstra o desrespeito dos bancos”, critica Juvandia. “Isso só faz aumentar a insatisfação dos trabalhadores que já é gigantesca com a proposta rebaixada apresentada pela Fenaban.”