Greve

Embate entre grevistas e sindicato mantém paralisação de ônibus em São Paulo

Trabalhadores não aceitam acordo feito entre o Sindicato dos Motoristas de São Paulo e empresas de ônibus

Zanone Fraissat/Folhapress

Motoristas bloqueiam o terminal Lapa, na zona oeste de SP, na manhã desta quarta-feira

São Paulo – A paralisação dos motoristas e cobradores em São Paulo segue nesta quarta-feira (21). Ao menos cinco empresas de ônibus não operam e 14 garagens estão paralisadas. De acordo com os grevistas, não há previsão para o fim da greve e não existe indicativo de conciliação entre trabalhadores, sindicato e empresas. Os funcionários não aceitam o acordo feito entre o Sindicato dos Motoristas de São Paulo e as empresas de ônibus, apresentado em assembleia na segunda-feira (19).

Em entrevista à RBA, um dos articuladores do movimento que opera na garagem da empresa Sambaíba, na zona norte da cidade, que se identificou apenas como Roberto, disse que o sindicato “traiu a categoria”. “Ele (sindicato) está nos roubando. Nós tínhamos um ato marcado para segunda. Transformaram em assembleia e aprovaram proposta acordada com os patrões”, destacou.

Além disso, ele garante que grande parte dos trabalhadores não foi informada sobre a assembleia, que teria contado, segundo o sindicato, com 4 mil trabalhadores. No entanto, vários grevistas negam que tenham sido informados. Um folheto sobre a assembleia, que circulava entre as garagens de ônibus, apontava que a realização seria na terça-feira (20), e não na segunda.

O presidente do sindicato, José Valdevan, o Noventa, rebateu a acusação. “É absurda a afirmação de que eu aceitaria uma proposta do sindicato patronal. É inaceitável fazer isso, porque os trabalhadores não tinham nenhuma reivindicação a mais para fazer”, ressaltou.

De acordo com Valdevan, todos os trabalhadores foram convocados para a assembleia e os diretores de garagens – que são os responsáveis por informar a categoria – teriam sido avisados que ela ocorreria na segunda-feira.

A reivindicação dos motoristas é de 19% de reajuste salarial, R$ 1.250 de participação nos lucros e resultados (PLR) e R$ 19 de vale-refeição por dia. No acordo firmado entre o sindicato patronal e o Sindicato dos Motoristas de São Paulo, o reajuste foi de 10%, a PLR passou para R$ 850 e o vale-refeição ficou acertado em R$ 16.

Além disso, grevistas e sindicato discutiam melhorias nos direitos gerais, como o aumento da licença-maternidade para as mulheres, melhorias na cesta básica e na assistência médica.

A greve começou ontem (20), durante a manhã e, ao longo do dia, afetou a cidade em diversos pontos. Motoristas de ônibus interditaram a avenida Rio Branco, no centro da cidade, e as linhas das empresas Santa Brígida e Sambaíba, que hoje teve a garagem bloqueada por cerca de 400 trabalhadores, tiveram a circulação interrompida.

A assessoria de imprensa da SPTrans afirmou que a prefeitura não é responsável pelo desacordo e não tem poder de definição sobre o salário dos trabalhadores. Ainda não há sinais de que a gestão municipal realize reunião de conciliação entre grevistas, sindicato e empresas de ônibus. Uma entrevista coletiva com representantes do poder público municipal ocorreu esta manhã.

Bloqueios

O cenário na cidade na manhã de hoje mostrava o fechamento de alguns terminais pelos motoristas. No Terminal Lapa, na zona oeste, as entradas estavam bloqueadas por vários ônibus. Identificado somente como Alemão, um dos trabalhadores acusou o sindicato de “não representar a categoria” e “de ser o maior inimigo dos trabalhadores hoje.”

“O sindicato faz acordos com o patronato. A greve é só uma explosão de insatisfações de 16 anos, em que a mesma diretoria está a frente do sindicato. Eles (os diretores) só se revezam nos cargos, mas são sempre os mesmos”, afirmou.

O motorista explica que a insatisfação, além do não atendimento do que seriam as reivindicações dos trabalhadores na atual pauta, também se deve a questões como horas-extras sem registro e a responsabilização dos trabalhadores de arcar com prejuízos causados por acidentes e roubos. “Se o trabalhador não paga os prejuízos, é demitido por justa causa”, enfatizou.

Nas ruas do centro, o vazio é grande. Nas áreas periféricas, os pontos estão lotados de pessoas revoltadas com a situação. “O que que a gente tem a ver com isso? Eu quero trabalhar e não tenho como ir. Ninguém explica o que está acontecendo”, reclamou a recepcionista Isadora Melo, moradora do Jardim Japão, zona norte da cidade. Há pessoas fazendo transporte em veículos comuns, cobrando até R$ 5 por trajeto. Somente as lotações estão operando normalmente.

Cerca de mil pessoas, segundo a Polícia Militar (PM), interditam a avenida M’Boi Mirim, na zona sul da capital paulista, no sentido centro. Os manifestantes são motoristas e cobradores.

De acordo com a SPTrans, os manifestantes da M’Boi Mirim tentaram bloquear a entrada do Terminal Jardim Ângela, mas não conseguiram. O local continua em funcionamento. Outros dois, o da Capelinha, na zona sul, e o do Parque Dom Pedro, no centro, foram bloqueados por motoristas e cobradores durante a manhã.

Negociação

Representantes dos sindicatos patronais e do Sindicato dos Motoristas se reuniram na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo com o objetivo de tentar um acordo para acabar com os protestos. O sindicato anunciou entrevista coletiva para as 13h30.