Em São Paulo, ONG italiana de economia solidária narra cenário ‘devastador’ da Europa

Presidenta de organização afirma durante seminário promovido pela CUT de São Paulo que herança do período neoliberal está viva e que movimento sindical europeu está na defensiva

São Paulo – Presidenta ONG Nexus Emilia Romagna, filiada a uma central sindical italiana com 6 milhões de filiados, Sandra Pareschi, há 45 anos no país europeu, conta que tem certa “depressão” quando vem ao Brasil e volta para casa, pela atual situação do Velho Continente. “O cenário europeu é devastador”, diz, citando um slogan da ex-primeira-ministra britânica, Margareth Thatcher, conhecido como “Tina”(“There is no alternative”, “Não há alternativa”). “Ela se foi, mas deixou sua herança”, comenta Sandra, durante seminário sobre alternativas de desenvolvimento promovido pela CUT de São Paulo.

“Estão cortando políticas públicas. O sistema europeu do bem-estar social está acabando”, acrescentou Sandra, citando as 19 greves gerais na Grécia nos cinco últimos anos, a volta de doenças como a tuberculose e consequências políticas da deterioração econômica, como a presença de “movimentos de direita muito fortes”. Ao fazer essa referência, ela fez questão de lembrar que hoje, 25 de abril, comemora-se na Itália o dia da “libertação” do nazifascismo, em 1945. Naquele pais, a taxa média de desemprego está em torno de 12%, mas chega a 25% na região sul e atinge dois terços dos jovens.

A ONG dirigida por Sandra desenvolve atividades de cooperação internacional relacionadas ao trabalho decente, apoiando experiências de cooperativismo e economia solidária. “A crise pode ser enfrentada com políticas diferentes”, afirma. Para ela, “alternativas” é uma palavra-chave nesse processo. E recorda de uma visita de um grupo de brasileiros à Itália, anos atrás, que incluiu o ainda não presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o sindicalista metalúrgico Luiz Marinho, hoje prefeito de São Bernardo, e o economista Aloizio Mercadante, atual ministro da Educação, entre outros, para conhecer essas experiências. Dali surgiria, tempos depois, a brasileira Unisol, uma central de cooperativas e de economia solidária.

Hoje, Sandra vê o movimento sindical italiano mais em posição defensiva, tentando manter direitos, e com menos poder de visão estratégica. O que afeta as chamadas alternativas. “O movimento cooperativista na minha região foi forte porque o sindicalismo também era muito forte. Lá (Itália), o Estado desapareceu. A economia solidária é do movimento social.” 

Ela considera que esses movimentos não podem permitir uma espécie de “auto-exploração” dos trabalhadores, dos sócios das cooperativas. Falando do caso brasileira, Sandra observa que a CUT “não pode achar que esses empreendimentos não são lugar dela”.