Sindicalistas brasileiros querem aproveitar ‘momento Lula’ para criar 6ª Internacional

Diretor de associação do setor de finanças considera que crescimento econômico é positivo para garantir organização dos trabalhadores e que crise na Europa deixa claro egoísmo de governos

“Às vezes acho que a imprensa brasileira é muito ruim porque o Lula lá fora é visto como uma grande liderança mundial”, diz Monzane (Foto: Maurício Morais. Sindicato dos Bancários)

São Paulo – O desejo de criar uma nova internacional dos trabalhadores ronda os sindicalistas brasileiros. No seminário internacional “sindicalismo e democracia”, realizado onrtem (25), em comemoração aos 90 anos do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Márcio Monzane, bancário do Santander Brasil e diretor da UNI Finanças, braço do sindicato mundial UNI Global Union, defendeu a ideia. Seria uma internacional para enfrentar a crise criada a partir de 2008 ou para rediscutir o papel do Estado? Monzane diz que é para discutir o papel do Estado pois muitos países querem a “experiência Lula”. 

Desde o final do século 19 até 1943, os sindicatos criaram cinco internacionais de trabalhadores, a primeira com a participação direta de Karl Marx, a segunda organizada por Friedrich Engels, a terceira formada a partir da revolução soviética, mais conhecida como Cominter, a quarta de orientação trotskista e a quinta numa divisão também trotskista. Ainda hoje vários partidos e correntes políticas se reivindicam dos programas de cada internacional.

O seminário reuniu representantes de Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, Portugal e Angola. No mesmo evento, Artur Henrique, ex-presidente da CUT, agora secretário adjunto de Relações Internacionais da entidade, falou que iria para uma reunião onde seriam discutidas ideias de mobilizações para que os sindicatos tenham mais protagonismo nos países em crise. “Acho que vamos fundar a outra internacional.”

Em entrevista à RBA, Márcio Monzane reafirma a proposta de criar uma internacional.

Este seminário revela uma nova relação entre os sindicatos? O fato de você, um brasileiro, estar na diretoria da UniGlobal, o sindicato mundial, mostra que vivemos uma nova efervescência sindical?

Sou otimista, estamos vivendo um bom momento, estamos num momento de crescimento, temos desenvolvido uma política de ajuda no Peru, Chile e Paraguai, melhoramos nossa capacidade administrativa, melhoramos o jeito de fazer mobilização e como organizar, isso só é possível num momento de crescimento pois se fosse num momento de enfrentamento não teríamos condições de fazer isso.  

Brasil e Lula atraem esse movimento?

Há pouco estive na África do Sul e sabe o que eles falavam? Esse é o momento Lula, temos de aproveitar o momento Lula. Eles falavam em revolução social através do momento Lula, o papel mundial que o Brasil tem é muito importante. Às vezes acho que a imprensa brasileira é muito ruim porque o Lula lá fora é visto como uma grande liderança mundial e quando chego aqui vejo que tentam criar fatos, acusá-lo de coisas absurdas, parece que estou em outro mundo, quando estou lá fora ouço que o Brasil está crescendo, que os investimentos estão olhando para o Brasil. 

Esse novo movimento sindical ganha visibilidade a partir de 2008, quando do início da crise na Europa e nos Estados Unidos. Esse novo momento sindical é uma resposta conjuntural à crise ou quer rediscutir o papel do Estado a partir da experiência brasileira?

Não é só uma resposta à crise, sem dúvida, é rediscutir o papel do Estado, o Lula criou um novo modelo, que o Estado é forte, que participa e ajuda a construir o desenvolvimento social e o desenvolvimento econômico. Fui para a Ásia e os sindicalistas pediam para falar como foi essa revolução, eles falam em revolução, qual é a mágica e eu digo que não houve mágica, só a mudança de pensamento.

O que há de novo no movimento sindical internacional?

Os bancários do Brasil e os sindicatos nos Estados Unidos iniciaram um forte intercâmbio, isso era impensável há quatro anos. Na África estamos juntando os sindicatos nos países da língua portuguesa, os sindicatos franceses foram para o norte da África para iniciar uma cooperação e vamos juntar os sindicatos da língua inglesa para discutir o plano de ação em relação das multinacionais da região, vamos para o Japão discutir o cooperativismo, tudo isso era impensável há quatro anos. Estamos reorganizando as entidades destruídas pelas ditaduras latino-americanas, como por exemplo, a federação dos bancários do Peru. 

Na palestra você falou, num tom de brincadeira – e o Artur Henrique o acompanhou –, em criar a quarta internacional, depois corrigiu para a quinta e agora lhe digo que é a sexta. É isso, está nascendo uma nova internacional dos trabalhadores? 

É isso, tem de nascer. Está muito claro, principalmente na Europa, que os governos não têm resposta para crise, está muito claro o egoísmo do setor empresarial que não quer discutir uma resposta para a crise e alguém ter que discutir uma saída, o movimento sindical tem que ser líder. Não sei se devemos chamar de internacional, esse é um nome interessante, mas devemos criar um movimento mundial que demonstre qual a resposta da crise, qual o papel dos trabalhadores na sociedade. A gente fala muito que o trabalho e os trabalhadores têm um papel muito importante na sociedade, que é preciso gerar trabalho para criar crescimento, é ele que vai fazer a diferença, é o trabalhador que produz e que consome. Essa internacional deve pensar nisso, como o trabalho pode solucionar os problemas no mundo.

 

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