Dieese: telecomunicações reduziu oferta e qualidade de empregos após privatização

Terceirização, demissões e dificuldade em negociações explicam redução de rendimento médio no setor

As relações de trabalho no setor de telecomunicações não se modernizaram com a mesma rapidez que os serviços oferecidos ao consumidor, avalia estudo publicado nesta segunda-feira (27) pelo Dieese tendo como foco as mudanças desde o processo de privatização, em 1997. Mais do que isso, houve perda do emprego tanto na questão quantitativa quanto em termos salariais e de condições de trabalho, afirma Clóvis Scherer, supervisor da pesquisa.

Segundo os últimos dados disponíveis, de 2007, 95% dos trabalhadores do setor ganham até quatro salários mínimos e nem a explosão de serviços de teleatendimento pode promover a expansão de vagas. A remuneração média, que em 1997 era de R$ 3.100, passou em 2007 para R$ 2.600 em valores corrigidos.

Ao longo de mais de uma década, o mercado ficou mais jovem, com a participação de pessoas de até 24 anos aumentando de 10,8% para 23,8%. A idade média, com isso, passou de 37,6 anos em 1997 para 31,9 anos em 2005. Mas não foi só a faixa etária que recuou. Para Clóvis Scherer, o aumento do número de jovens em substituição a antigos funcionários de estatais é um dos fatores que explicam a redução dos salários.

Outro aspecto “deve-se a saídas de um contingente de trabalhadores com maior idade que estava em condições ou em vias de se aposentar. Estimulados pelas empresas e por novas regras da previdência, eles aderem a planos de demissão voluntária ou a regimes de aposentadoria com medo de ficar sem o benefício”, afirma.

Ao mesmo tempo, o setor registrou perdas salariais ao longo dos primeiros anos de privatização e só em 2003, com a economia crescendo, inicia-se uma recuperação que ainda assim não é condizente com o avanço do desenvolvimento.

Isso não ocorreu apenas na questão salarial, mas também no número de postos de trabalho. Em 1994, o setor empregava 128,5 mil pessoas. Em 2005, eram cerca de 118 mil trabalhadores formais. 2003 foi o ponto mais baixo, com apenas 88 mil trabalhadores em telecomunicações.

Para Scherer, o período extremamente favorável economicamente para o setor leva a concluir que a produtividade “está sendo mascarada pela precarização dos postos de trabalho, uma vez que parte dos serviços passaram a ser executados por terceirizados que, como se sabe, no Brasil têm condições de trabalho bastante inferiores”.

Mesmo o relativo aumento da participação feminina, hoje em 37% do total de vagas, não é motivo para comemoração. Em sua maioria, as mulheres foram absorvidas pelo mercado de telemarketing, que tem exatamente as características descritas acima pelo pesquisador do Dieese. Dentro da precarização inserem-se  vínculos de trabalho extremamente curtos e remuneração baixa.

Entre os atendentes do teleatendimento, a maioria é de jovens (54,7% entre 18 e 24 anos) e 80,6% têm ensino médio completo, com outros 16% que estão fazendo o grau superior ou já o concluíram. 

Scherer acredita que a deterioração das condições de trabalho desde a privatização está ligada à lógica muito agressiva de concorrência e à regulação do trabalho, ou seja, à dificuldade do movimento sindical em negociar com as entidades patronais. Antes da privatização, havia um único pólo negociador em que eram realizadas as conversas relativas aos trabalhadores de todo o país. A partir do fim da década de 90, no entanto, as tratativas ficam descentralizadas e aumenta exponencialmente a terceirização dos serviços, dificultando a manutenção de boas condições de trabalho.