Belchior e Emicida

Democracia deve ser ‘luta prioritária’ para a próxima direção da CUT, afirma dirigente

Onda conservadora mundial deu o tom no primeiro dia de congresso da central. Sindicalistas internacionais enfatizaram combate ao "fascismo"

Roberto Parizotti/CUT
Roberto Parizotti/CUT
Na hora do discurso, os temas centrais foram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as ameaças à democracia, não apenas no Brasil

Praia Grande (SP) – Antes da abertura formal do 13º Congresso Nacional da CUT, na noite desta segunda-feira (7), um grupo de choro de Praia Grande entreteve o público com peças de Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, entre outros clássicos. A trilha sonora ganhou reforço de Emicida, com a exibição do clipe de AmarElo, música que conta com a participação das cantoras Majur e Pabllo Vitar, com citação do poema Permita que Eu Fale, do próprio rapper, e da canção Sujeito de Sorte, de Belchior (“Ano passado eu morri/ Mas este ano eu não morro”). O telão exibiu cartazes de todos os congressos cutistas, desde 1984, com A Internacional tocada em ritmo de rock. Na hora do discurso, os temas centrais foram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as ameaças à democracia, não apenas no Brasil.

“Vamos brigar juntos contra o fascismo no Brasil e em cada país”, afirmou o secretário-geral adjunto da Confederação Sindical Internacional (CSI), Victor Baez. Antes dele, o secretário-geral da Confederação Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire, disse que toda a região vê com “muita esperança” o congresso da CUT no enfrentamento da “onda ultraconservadora e fundamentalista”. “Somos nós que temos a responsabilidade de combater essa onda. Queremos juntar os partidos de esquerda para construir uma grande resistência nas Américas”, acrescentou.

A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, destacou que esta será um das principais preocupações da próxima gestão da central, que terá nova direção eleita na próxima quinta-feira (10). “Este congresso marca um novo processo, deve apontar a luta prioritária por democracia”, afirmou, quase ao encerramento do primeiro dia de debates, já depois das 23h. “A nossa missão política no próximo período é de carregar um projeto de desenvolvimento para o Brasil”, acrescentou, ao lado do atual presidente, Vagner Freitas, que ao final puxou um coro dos 2.100 delegados contra Jair Bolsonaro. Além deles, participam do congresso aproximadamente uma centena de convidados de 38 representações internacionais. Todos os países (ou regiões, caso da Galícia e do País Basco, na Espanha) foram apresentados individualmente.

Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, a unidade das centrais precisa continuar, como ocorreu no 1º de Maio deste ano. “A subtração do mandato constitucional da presidenta Dilma Rousseff abriu caminho para a implementação de uma agenda ultraliberal”, afirmou, falando em golpe contra a democracia. Mas ele vê também alguns sinais positivos. “A sinalização de vitória nas próximas eleições da Argentina, da Bolívia e do Uruguai serve como um aprendizado para nós, brasileiros”, disse Adilson.

Ao seu lado, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, defendeu Dilma (“Enfrentou a pior justiça que se pode enfrentar”) e afirmou que o movimento sindical tem a “obrigação” de se manter unido. “Em defesa da democracia, das instituições e do futuro das nossas famílias e dos nossos filhos.” Depois de pedir para que todos os delegados ficassem em pé e se dessem as mãos, reforçou o coro de “Lula livre”, entoado durante todo o dia.

Lula dá nome ao congresso da CUT. Barracas vendem vários objetos com a figura do ex-presidente. Logo na entrada do ginásio, uma grande faixa traz os dizeres “Lula livre, Moro mente”, citando o ex-juiz e atual ministro Sergio Moro. O petista escreveu carta aos delegados, lida por Fernando Haddad. 

A discussão em torno de Lula provocou um único momento de vaias na plenária, ao ser anunciada a presença de um dirigente da CSP-Conlutas, Atenágoras Lopes. Em congresso recém realizado, a central refutou a campanha pela liberdade do ex-presidente. Também estavam na mesa o secretário-geral da UGT, Francisco Canindé Pegado, e o presidente da Nova Central em São Paulo, Luiz Gonçalves, o Luizinho, um participante da 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em 1981, além do secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio.

No próximo dia 17, as centrais se reúnem em São Paulo para discutir os próximos passos na campanha contra a “reforma” da Previdência, entre outros temas. O diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Martin Hahn, fez uma breve saudação, assim como a vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Elida Elena, e o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim.

Um dos coordenadores do Concut, o secretário-geral da central, Sérgio Nobre, disse que o evento “se dá em uma conjuntura extremamente difícil e desafiadora, mas é em momentos assim que a classe trabalhadora dá seus grandes saltos”. E a secretária-geral adjunta, Maria Faria, lembrou que este ano houve uma mudança no calendário, com o congresso nacional sendo realizado antes dos estaduais (Cecuts), que ocorrerão a partir do próximo dia 15 e até 15 de dezembro.