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Contra precarização, metroviários de SP ameaçam parar dia 1º de março

Mudança na data do pagamento, suspensão de férias, adiamento e divisão do pagamento de participação nos resultados são alguns dos problemas apontados pelo sindicato da categoria

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

Trabalhadores avaliam que medidas da companhia podem prejudicar a população que usa o Metrô

São Paulo – Os trabalhadores da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) ameaçam parar em 1º de março contra uma série de medidas anunciadas pela empresa para conter gastos que estariam prejudicando a categoria, segundo o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior. “É uma situação inusitada. Nunca vivemos uma coisa assim. Mudaram a data de pagamento, suspenderam as férias, proibiram horas extras e adiaram o pagamento da Participação nos Resultados (PR)”, relatou Altino.

Segundo o dirigente, o pagamento do salário era realizado no final de cada mês e o adiantamento – o chamado “vale” –, no dia 15. Agora, o pagamento é no quinto dia útil e o vale, no dia 20. Férias, somente para quem já está estourando o limite que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite: 11 meses após o vencimento. A PR, normalmente paga no final de fevereiro, vai ser dividida em três parcelas, com a primeira paga no final de março. “Tudo isso foi decidido sem nenhum diálogo com os trabalhadores, numa clara afronta aos direitos trabalhistas”, ressaltou Altino.

Também estão suspensas as progressões salariais e o abono de periculosidade para trabalhadores gerenciais em obras.

De acordo com Altino, o Metrô alega estar em crise financeira. Porém, a companhia acumula resultados financeiros positivos. O lucro líquido da empresa saltou de R$ 28,4 milhões, em 2012, para R$ 76,4 milhões em 2013 e R$ 86,8 milhões, em 2014. Crescimento de 205% em três anos. “Os números de 2015 ainda não foram divulgados, mas sabemos que houve aumento no número de passageiros transportados, o que, com o aumento das tarifas, certamente elevou a receita”, afirmou.

O aumento no número de usuários transportados também preocupa os trabalhadores. Altino diz que o Metrô não repôs nenhum funcionário em 2015. E neste ano só contratou 12 pessoas. Com a proibição das horas extras, há poucos trabalhadores para atender à população. São 9.612 funcionários para 3,8 milhões de passageiros diários em média. Os dados são de 2014, os últimos disponíveis.

“O Metrô não vive sem hora extra. É uma conta simples. Se não repõe, os que estão na ativa têm de trabalhar mais. Mas com as medidas atuais, temos estações operando com um número mínimo de funcionários. À noite, a Estação República, da Linha 3-Vermelha, fica com apenas três operadores mais o pessoal da segurança”, afirma.

Sangramento

Altino acredita que esteja havendo um “sangramento” da companhia para sanar problemas orçamentários do governo Geraldo Alckmin (PSDB) em outras áreas. “Acredito que o governo estadual está tirando dinheiro do Metrô. Pode ser por meio de remanejamentos ou segurando o valor que deve ser reposto por conta das gratuidades. Não faz sentido o Metrô estar em crise”, afirmou.

O ano passado foi o quinto seguido de déficit orçamentário do governo Alckmin. As despesas superaram as receitas em R$ 1,38 bilhão, o pior rombo registrado no estado paulista em 17 anos. A diferença é 289% maior que em 2014, quando o déficit foi de R$ 355 milhões. A situação ocorreu mesmo após os cortes realizados pela gestão tucana em diversas áreas, o que levou as secretarias de Logística e Transportes, Saneamento e Recursos Hídricos, Transportes Metropolitanos e Habitação a deixar de executar um terço do orçamento previsto para o ano.

Desde que assumiu seu terceiro mandato, em 2011, Alckmin vem fechando as contas no vermelho. Naquele ano, o déficit foi de R$ 723,9 milhões. Em 2012, a diferença entre receita e despesas foi de R$ 240,5 milhões. Em 2013, chegou a R$ 995 milhões, e em 2014 recuou para R$ 355 milhões. Com o resultado do ano passado, Alckmin acumulou a cifra de R$ 3,7 bilhões em resultados negativos. Entre 1998 e 2011, o governo paulista não registrou nenhum déficit.

Por meio de nota, o Metrô defendeu que a proposta de pagamento parcelado em três vezes da PR 2015 aos metroviários “faz parte de um conjunto de medidas temporárias e emergenciais de ajustes, adotadas pela Cia para manter o equilíbrio financeiro, de forma a garantir o cumprimento dos compromissos com seus empregados, fornecedores e usuários, diante da grave crise econômica que afeta o país e, consequentemente, a empresa”. No entanto, a companhia não respondeu sobre os demais problemas apontados pelos trabalhadores.