Após marcha unitária e reunião com Dilma, centrais saem divididas

Paulinho da Força reafirma pessimismo e críticas na relação com o governo, e é repreendido pelo ministro do Trabalho, Brizola Neto, para quem a postura do colega de PDT fecha canais de diálogo

O compromisso do governo sobre a Convenção 151 da OIT foi um dos principais avanços, segundo a CUT (Foto: Roberto Stuckert Filho. Planalto)

 

Brasília – A organização foi unitária e levou meses, o evento reuniu dezenas de milhares de pessoas, mas as centrais, notadamente CUT e Força Sindical, saíram divididas ao final da marcha e da reunião com a presidenta Dilma Rousseff, que terminou às 20h de hoje (6), no Palácio do Planalto. Enquanto o presidente da CUT, Vagner Freitas, considerou o encontro “bastante proveitoso”, o presidente da Força, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), disse que saiu pessimista e com “visão crítica”. Nem o anúncio do decreto do governo sobre a Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre negociação coletiva no setor público, animou o dirigente. O ministro do Trabalho, Brizola Neto, também do PDT, disse discordar da avaliação de Paulinho e fez ressalvas à postura do sindicalista, voltando a evidenciar a divergência interna do partido.

Segundo Freitas, além da Convenção 151, o governo se mostrou disposto a discutir a questão do fim do fator previdenciário e a redução da jornada, duas das principais bandeiras da marcha. “A presidenta entende que é possível, em negociação, construir acordos em torno disso”, disse à saída da reunião. Na audiência, de aproximadamente uma hora, também se falou da Convenção 158, sobre dispensa imotivada, que tem rejeição das entidades empresariais. “Ela (Dilma) diz com todas as letras que a rotatividade atrapalha o país. Atrapalha, inclusive, empresários sérios. Teremos um processo de negociação em torno desses temas.” O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, disse hoje que uma comissão especial, a ser instalada na semana que vem, tentará formular uma proposta a ser negociada com o governo.

Durante a marcha, houve divergências entre os sindicalistas, apesar de os discursos reforçarem a importância da unidade em torno de pontos comuns. Representantes das seis centrais que organizaram o ato foram à reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros, mas nem todos compareceram às reunião com os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. Antes mesmo do encontro no STF, a CUT avisava que não iria participar, porque o encontro não constava da agenda comum – a reunião com Barbosa foi articulada pela Força Sindical.

O dirigente cutista espera que uma parte da pauta apresentada pelas centrais possa ser atendida até 1º de maio, para ser anunciada no Dia do Trabalho. “Está aberta oficialmente a negociação. Esperamos que haja um desfecho em 1º de maio.” Conforme seu relato, a presidenta também falou da aceleração do processo de reforma agrária (tema sobre o qual ela havia se manifestado na véspera, no congresso da Contag) e os 10% do PIB para a educação. Sobre a Medida Provisória (MP) 595, que trata de mudanças na gestão dos portos, Freitas disse que os sindicalistas enfatizaram que não aceitarão nenhum prejuízo aos trabalhadores do setor.

Paulinho falou na sequência e não compartilhou da visão da CUT. “Eu não saio com otimismo da reunião, até porque o governo está com pouco crédito com a Força Sindical”, afirmou o sindicalista e parlamentar, que esta semana se reuniu com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que também tem ensaiado lançar-se à oposição de Dilma. “A nossa visão sobre a reunião é bastante crítica. Foram alguns pequenos avanços, como a Convenção 151, e algumas promessas de resolver. Sobre portos, ela nem quis ouvir”, disse Paulinho, que também atacou a política econômica. “Não achamos que uma política de crescimento de 0,9% seja correta”, reclamou, referindo-se ao resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012. Durante o dia, o dirigente da Força chegou a dizer que apoiaria Luiz Inácio Lula da Silva em 2014, se ele fosse candidato, mas não dará apoio a Dilma se ela tentar a reeleição. E disse que o partido estaria rumando para a oposição.

O ministro do Trabalho reagiu às declarações de Paulinho. “É natural que haja uma pauta e o governo responda a essa pauta, O governo tem de equilibrar essa demanda. Claro que é importante ter equilíbrio no tom”, comentou. Ao sair do tom, acrescentou Brizola Neto, o risco é de “perder pontes importantes de diálogo”. Assim, ele disse discordar do presidente da Força. “Qualquer trabalhador brasileiro sairia contente de uma reunião como esta.”