Dirigente diz que não ficará ‘sob tutela’ do MR-8 e não descarta deixar CGTB

Antonio Neto ainda espera voltar ao comando da central por nova decisão do Judiciário, mas lembra que 'o tempo da Justiça é diferente do tempo da política'

São Paulo – Pelo menos provisoriamente derrotado na disputa pelo comando da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Antonio Neto diz que ainda espera uma decisão final do Judiciário, mas não descarta a busca de outros caminhos no movimento sindical. “O que nós sabemos é que sob a tutela do MR-8 e do PPL não ficaremos”, afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd-SP).

Divergências internas na central levaram à realização de mais de um congresso – um com Neto à frente e outro com o então vice-presidente, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, ligado ao antigo MR-8, hoje agrupado no Partido Pátria Livre (PPL), cujo registro foi deferido em outubro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já Neto é filiado ao PMDB paulista e membro do diretório nacional.

Neto lembra que ainda há um agravo de instrumento para ser julgado, mas já pensa em alternativas, apesar de dizer que confia na Justiça. “Infelizmente, o tempo da Justiça não é o tempo da política”, comenta. Segundo ele, ainda nesta semana será realizada uma reunião com os mais de 70 sindicatos representados na diretoria eleita no congresso agora não reconhecido, para que se tenha uma definição. Incluídas as regionais, são mais de 140 entidades que podem deixar a central, por criticar o que chamam de “aparelhismo” (controle da entidade por grupos políticos).

Outra central

Chegou-se a falar na União Geral dos Trabalhadores (UGT) como destino de parte dos dirigentes cegetistas, mas Neto diz apenas que “nenhuma das possibilidades está descartada”. Ele conta já ter sido procurado por representantes de outras centrais. Na avaliação do sindicalista, no caso de uma nova filiação, a única dificuldade estaria na Central Única dos Trabalhadores (CUT), pelos diferentes pontos de vista em questões como unicidade, imposto sindical e sistema confederativo. Mas qualquer decisão, imediata ou mais adiante, está condicionada a uma conversa prévia com os demais companheiros de CGT que não concordam com a liderança de Bira. Este era diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, mas foi expulso da entidade, com outros dois dirigentes, ainda na gestão de Luiz Antônio de Medeiros, no início dos anos 1990.

A nova direção da CGTB publicou no site da entidade manifestações de dirigentes favoráveis a Bira, como a do novo 1º vice-presidente da central, Ernesto Belmiro Afonso, do Sindicato dos Trabalhadores em Instalações Elétricas do Rio de Janeiro. “Só não participou quem não quis”, afirmou, referindo-se a congresso realizado na última sexta-feira (4), questionado na Justiça pelo grupo de Neto.

A própria CGTB já é resultado de uma divisão ainda no final dos anos 1980. Em 1986, foi fundada a CGT, liderada por Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, que presidiu durante mais de 20 anos o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e chegou a suplente de senador pelo PMDB. Três anos depois, em um congresso polêmico, a CGT dividiu-se e Antônio Rogério Magri (presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e posteriormente ministro do Trabalho e Previdência no governo Collor) assumiu o comando da entidade. Joaquinzão formou outra central, que anos depois teve de acrescentar um “B” à sigla original. Ficaram, assim, duas CGTs, uma confederação (de Magri) e outra central (de Joaquinzão). A CGT-confederação foi uma das entidades incorporadas pela UGT em 2007.

Magri saiu do governo, aposentou-se pela Eletropaulo e hoje é assessor da Força Sindical. Joaquinzão morreu em 1997. A CGTB manteve-se ligada ao ex-governador Orestes Quércia, que morreu no ano passado. Durante anos, os grupos conviveram internamente. Agora, devem proporcionar outra mudança de cenário no movimento sindical.