Valorização dos usuários reflete avanços no SUS, analisa especialista
Gilson Carvalho lembra que São Paulo vai na contramão dessa melhoria, já que cidadãos devem perder 25% dos leitos do SUS para iniciativa privada
Publicado 10/02/2011 - 12h30
Saúde da Família é uma das políticas que melhoraram a percepção geral do SUS junto à população, diz analista (Foto: Danilo Ramos/Arquivo Rede Brasil Atual)
São Paulo – Para o especialista em saúde pública Gilson Carvalho, o reconhecimento pela população a respeito do Sistema Único de Saúde (SUS) já era esperado. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada na quarta-feira (9) revelou a aprovação de 80% dos usuários do Programa de Saúde da Família (PSF) e a valorização do acesso gratuito e universal à saúde. O médico lamenta que, apesar dos avanços, em estados como São Paulo, haja a perspectiva de retirada de vagas das unidades públicas.
Carvalho explica que o SUS avançou ao investir no programa no lugar das Unidades Básicas de Saúde (UBS). “O SUS novo, com investimentos no PSF no lugar da estrutura das UBSs, deu certo”, comemora o especialista. Em entrevista à Rede Brasil Atual, Carvalho destacou que o sucesso do acompanhamento domiciliar se deve à proximidade com a comunidade e à humanização da saúde.
Outro diferencial do programa é a atenção básica de saúde. “O grande investimento deve ser na atenção básica, ou seja, promoção, proteção e recuperação da saúde”, descreve.
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“A pesquisa não apontou nada que não soubéssemos antes, na prática, no dia a dia do SUS. Mas é bom ter a chancela, o reconhecimento da comunidade”, indica Carvalho. O Ipea ouviu 2.773 pessoas residentes em domicílios particulares permanentes no período de 3 a 19 de novembro de 2010 sobre os prestados serviços pelo SUS e planos privados de saúde.
O último levantamento de atividades do SUS, de 2009, indica que o sistema foi responsável por cerca de 3,4 bilhões de procedimentos médicos, entre eles, 1,2 bilhões de consultas.
Carvalho comenta ainda que as piores avaliações sobre o SUS partem de quem não utiliza o sistema. “A pessoa que não usa o sistema público ouve uma notícia negativa e desanca a falar mal sem conhecer”, dispara.
O especialista avalia que o crescimento do PSF, que já atende perto de 50% da população, em substituição às UBSs, vai transformar o atendimento público na saúde. “A população está mostrando que as UBS e as emergências precisam mudar. Por outro lado, o PSF e o atendimento especializado são bons”, detalha. “Quem é operado pelo SUS avalia bem o sistema”, declara.
Contramão
No estado de São Paulo, Carvalho lamenta a aprovação do Projeto de Lei 45/2010, que permite a destinação de 25% dos leitos e serviços hospitalares do SUS no estado para pacientes de planos e seguros de saúde privados.
O especialista alerta que a lei, além de inconstitucional, é contraditória. “Os parlamentares paulistas reclamavam da falta de assistência à saúde e do dia para a noite vendem 25% de serviços e estrutura pública!”, dispara.
Ele cita que em 2008 só as Organizações Sociais de Saúde que administram hospitais públicos realizaram 8 milhões de procedimentos por meio do SUS no estado e perder 25% desse contingente é incompreensível. “Perder 25% representa 2 milhões de procedimentos transferidos para a iniciativa privada”, vaticina.