Atenção

OMS anuncia reunião para avaliar emergência da varíola do macaco

Encontro da OMS também deve renomear o vírus, que se comporta de modo atípico e já infectou mais de 1.700 pessoas em 40 países

CC0 - Wikimedia Commons
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No Brasil, são três casos confirmados; dois em São Paulo e um no Rio Grande do Sul. Também estão em estudo outros casos pelo país, sendo um no Acre e um em Minas Gerais

São Paulo – O Comitê de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) se reunirá na próxima semana para discutir a varíola do macaco. O órgão, vinculado à ONU, decidirá se a expansão do vírus no mundo representa uma nova Emergência de Saúde Pública em escala mundial, como a pandemia de covid-19. “Momento de atenção e preparação pelas autoridades de saúde no Brasil e no mundo”, define a epidemiologista Ethel Maciel.

A OMS também deverá renomear o vírus. O novo “batismo” tem fundamento em questões discriminatórias. De acordo com o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom, continuar chamando o vírus de varíola do macaco (ou monkeypox em inglês) pode induzir a opinião pública ao erro. Isso, porque os cientistas temem uma associação errônea com o continente africano, lar de grande variedade de macacos. Na realidade, a fonte do vírus segue desconhecida, e os casos estão espalhados por todo o mundo.

“No contexto de contágio global, continuar chamando o vírus por esta nomenclatura e pensando que o vírus seja africano não é apenas incorreto, mas discriminatório”, afirmou a OMS, em comunicado divulgado nesta terça-feira (14). De fato, a região da África sequer está entre as mais afetadas neste momento. De acordo com a OMS, os riscos são “altos” na Europa e “moderados” no resto do mundo. A assistente do diretor-geral, Ibrahima Socé Fall, disse ser necessário se debruçar sobre o tema neste momento. “Obviamente não queremos esperar até que a situação esteja fora do controle para declarar uma situação de preocupação internacional”, disse.

Situação global

Desde o início do ano, o mundo já registrou mais de 1.700 casos da doença em 40 países. É o maior surto global da doença já registrado. No Brasil, são três casos confirmados, dois em São Paulo e um no Rio Grande do Sul. Também estão em estudo outros casos, sendo um no Acre e outro em Minas Gerais, que teria desencadeado a morte de um homem. Se for confirmado, trata-se da primeira vítima em todo o mundo. Os cientistas tentam entender se houve mutação genética no vírus, que já é conhecido há décadas. Isso, porque este surto representa um comportamento atípico, com contágio muito mais veloz do que anteriormente registrado.

O vírus

A por enquanto chamada varíola do macaco é considerada uma zoonose, ou seja, é transmitida de outros animais para o ser humano, além da transmissão direta. O vírus foi detectado, inicialmente, em macacos. Contudo, não se sabe sua origem. O que se sabe é que outros mamíferos, como roedores, também podem hospedar o parasita.

Entre os principais sintomas, estão febre e erupções cutâneas. O contágio entre humanos acontece por contato com fluídos corporais diversos, incluindo mucosas de boca e garganta, o que torna o vírus transmissível via oral (como a covid-19). Também existe a possibilidade de contágio por superfícies e objetos contaminados.

Especialistas defendem que o rastreio de contágios é essencial para controle da doença. “A partir da infecção, o período de incubação do vírus (isto é, o momento entre a contato com vírus e o aparecimento dos sintomas) pode ser grande, abrangendo de 7-17 dias. Por isso, rastrear e isolar contatos é tão importante”, explica a neurocientista e coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra.

As vacinas

A vacina contra a varíola humana garante um bom nível de proteção contra a varíola do macaco. Há 40 anos, a OMS comemorou o mais bem sucedido caso de erradicação global de um vírus, justamente o da varíola. O Brasil erradicou o vírus antes disso, há 50 anos.

As vacinas existem, são seguras e foram aplicadas em massa ao longo de décadas. Contra o vírus que começa a preocupar boa parte do mundo, a proteção pode chegar a até 85%. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) já trabalha para reforçar o estoque de vacinas nas Américas. Estes imunizantes, contudo, deixaram de ser aplicados a partir de 1979, após constatado o fim do contágio global.

Como o contágio da varíola do macaco é mais restrito, a OMS indica a vacinação seletiva, apenas para públicos específicos, como os médicos que trabalham diretamente com zoonoses. Mesmo após o contato com a doença, a vacina de varíola confere proteção e é aliada no tratamento.


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