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Fiscalização de agrotóxicos em água é indevida, afirma especialista

Dos produtos fiscalizados pela Anvisa, cerca de 30% apresenta resíduos acima do limite permitido

O pimentão, o morango, o alface e o tomate são os produtos que mais registram a presença de agrotóxicos nas fiscalizações da Anvisa (Foto: Raimundo Pacco/Folhapress)

São Paulo – A análise de agrotóxicos em água é de atribuição dos municípios e estados, mas não é feita como deveria, disse a toxicologista do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Karen Friedrich à Rádio Brasil Atual.

A Anvisa faz um monitoramento anual de 18 gêneros alimentícios em que analisa cerca de 230 dos mais de 400 agrotóxicos registrados no país. Nos últimos anos, cerca de 30% dos alimentos analisados pelo órgão apresentam índices de resíduos acima do permitido, que representam risco elevado de doenças no sistema neurológico e imunológico e feitos nocivos à saúde.

“Existem limitações de laboratórios disponíveis, de recursos humanos e recursos financeiros , são poucos os municípios que analisam agrotóxicos em água. Não temos ideia de como andam os índices de contaminação na água.”

O pimentão, o morango, o alface e o tomate são os produtos que mais registram a presença de agrotóxicos nas fiscalizações da Anvisa. Mas outros alimentos também apresentam quantidades de agrotóxicos, comenta Karen. A carne e o leite estão frequentemente contaminados por agrotóxicos e não existe um programa de governo de monitoramento destes alimentos. Os efeitos colaterais envolvem diabetes, obesidade, câncer e efeitos sobre o sistema reprodutivo.

Segundo a toxicologista, no Sistema Único de Saúde (SUS), ainda não é possível detectar a causa destas doenças, ou seja, fazer a relação dos sintomas com os agrotóxicos. “Não há um corpo de atendimento na atenção básica que consiga associar um efeito à intoxicação. Geralmente moradores de regiões de lavoura conseguem, mas na cidade grande é mais difícil fazer a associação causal.”

O pesquisador e integrante da gerência técnica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidos (Idec) João Paulo Amaral destaca a diferença de preço entre os produtos orgânicos em feiras e em supermercados. “É impressionante , encontramos uma diferença de mais de 460% no preço entre os mesmos produtos, do mesmo produtor, numa mesma cidade.”

O Idec disponibiliza em seu site uma lista de feiras de produtos orgânicos no país. Foram detectados no final do ano passado 140 pontos em vários estados. Segundo o Instituto, hoje são contabilizados mais 60 pontos.

Ouça aqui a reportagem de Marilu Cabañas

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