Fiscalização de agrotóxicos em água é indevida, afirma especialista
Dos produtos fiscalizados pela Anvisa, cerca de 30% apresenta resíduos acima do limite permitido
Publicado 06/05/2013 - 11h53
O pimentão, o morango, o alface e o tomate são os produtos que mais registram a presença de agrotóxicos nas fiscalizações da Anvisa (Foto: Raimundo Pacco/Folhapress)
São Paulo – A análise de agrotóxicos em água é de atribuição dos municípios e estados, mas não é feita como deveria, disse a toxicologista do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Karen Friedrich à Rádio Brasil Atual.
A Anvisa faz um monitoramento anual de 18 gêneros alimentícios em que analisa cerca de 230 dos mais de 400 agrotóxicos registrados no país. Nos últimos anos, cerca de 30% dos alimentos analisados pelo órgão apresentam índices de resíduos acima do permitido, que representam risco elevado de doenças no sistema neurológico e imunológico e feitos nocivos à saúde.
“Existem limitações de laboratórios disponíveis, de recursos humanos e recursos financeiros , são poucos os municípios que analisam agrotóxicos em água. Não temos ideia de como andam os índices de contaminação na água.”
O pimentão, o morango, o alface e o tomate são os produtos que mais registram a presença de agrotóxicos nas fiscalizações da Anvisa. Mas outros alimentos também apresentam quantidades de agrotóxicos, comenta Karen. A carne e o leite estão frequentemente contaminados por agrotóxicos e não existe um programa de governo de monitoramento destes alimentos. Os efeitos colaterais envolvem diabetes, obesidade, câncer e efeitos sobre o sistema reprodutivo.
Segundo a toxicologista, no Sistema Único de Saúde (SUS), ainda não é possível detectar a causa destas doenças, ou seja, fazer a relação dos sintomas com os agrotóxicos. “Não há um corpo de atendimento na atenção básica que consiga associar um efeito à intoxicação. Geralmente moradores de regiões de lavoura conseguem, mas na cidade grande é mais difícil fazer a associação causal.”
O pesquisador e integrante da gerência técnica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidos (Idec) João Paulo Amaral destaca a diferença de preço entre os produtos orgânicos em feiras e em supermercados. “É impressionante , encontramos uma diferença de mais de 460% no preço entre os mesmos produtos, do mesmo produtor, numa mesma cidade.”
O Idec disponibiliza em seu site uma lista de feiras de produtos orgânicos no país. Foram detectados no final do ano passado 140 pontos em vários estados. Segundo o Instituto, hoje são contabilizados mais 60 pontos.