Mais frágeis

Ministério Público cobra que governo regularize vacinação de crianças

Órgão critica falta de sintonia do governo com a ciência e pede vacinação de crianças contra a covid regularizada em 20 dias

Sandro Araújo/Agência Saúde-DF
Sandro Araújo/Agência Saúde-DF
As crianças são o grupo menos vacinado no país. Na faixa etária entre 3 e 4 anos, apenas 5,5% recebeu duas doses

São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao Ministério da Saúde que regularize a vacinação de crianças contra a covid-19. O órgão recomenda que a pasta ofereça, em até 20 dias, imunizantes em quantidade suficiente para aplicação em todas as crianças a partir de seis meses. A decisão ainda estabelece prazo de cinco dias para regularização dos estoques de vacina. O descumprimento pode desencadear medidas judiciais. Nos últimos meses, o governo Jair Bolsonaro vem dificultando a vacinação de jovens abaixo de três anos. Faltam vacinas para essa faixa etária em todo o país.

As crianças são o grupo que menos foi vacinado no país. Na faixa etária entre 3 e 4 anos, apenas 5,5% receberam duas doses. O MPF argumenta que o governo tem responsabilidade nisso pela falha na vacinação das crianças. O Ministério da Saúde nem sequer oferece dados para os mais novos, a partir de 6 meses. E reconhece que há “atraso ou insuficiência no fornecimento das doses” e que a falta vacinação expões as crianças “a risco de morte ou sequelas graves”.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza a aplicação das vacinas da Pfizer e a CoronaVac em todas as crianças. Contudo, o Ministério, até o momento, só recomenda para aquelas com comorbidades. O MPF lembra que essa decisão “não tem embasamento científico”. “Não bastasse isso, a pasta anunciou no último dia 10 a distribuição de apenas 1 milhão de doses pediátricas a todo o país, quantidade insuficiente até mesmo para a cobertura do público que se encaixa nesse perfil”, completou o MPF.

Crianças em risco

Cientistas argumentam que crianças não vacinadas estão entre os maiores grupos de risco para a covid-19, e por isso, a baixa vacinação dos mais jovens é um dos principais focos da ciência neste momento da pandemia. O infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Julio Croda, lembra que é mito que a covid-19 não é grave em crianças. Ainda mais durante uma nova onda de casos e internações que atinge o país.

“Comparativamente às doenças imunopreveníveis, a covid-19 matou mais do que qualquer outra doença prevenível pela vacinação. Então, é um risco bastante elevado as crianças estarem sem vacinação em uma nova onda. Essa é a população que está mais sob risco porque não há vacinas sendo ofertadas”, disse ao portal do Instituto Butantan.

Então, Croda também criticou a lentidão e a falta de cuidado do governo Bolsonaro com a população. “O Brasil está muito lento para ofertar vacinas para crianças de seis meses a cinco anos. Temos a CoronaVac, que está em falta em muitos estados porque o Ministério não adquiriu o suficiente (…) Quando a gente fala na sobrecarga do serviço de saúde, estamos falando mais dos idosos, mas, proporcionalmente, as crianças estão mais sob risco por conta de não estarem vacinadas neste momento.”

De acordo com um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a covid-19 matou ao menos duas crianças por dia entre 2020 e 2021. Desconsiderando a subnotificação, 1.439 jovens morreram da doença. “Comparado a outros países, o impacto da covid-19 no Brasil foi enorme nessa faixa etária. É muito importante a mobilização para que haja mais vacinas disponíveis para esse público, pois estão em falta. Não é justo que as crianças fiquem sem acesso às vacinas”, completou Croda.