Enfrentamento

Ministério da Saúde lança campanha para eliminar a tuberculose até 2030

Dados do governo divulgados hoje, Dia Mundial de Combate à Tuberculose, mostram aumento de casos da doença sob Bolsonaro, que bateu a pior taxa de mortalidade, com 5 mil óbitos em 2021

Ministério da Saúde/YouTube/Reprodução
Ministério da Saúde/YouTube/Reprodução
O foco da iniciativa será alertar a população brasileira para a importância do diagnóstico precoce da doença. Assim como reforçar a campanha de vacinação e tratamento

São Paulo – O Ministério da Saúde assumiu o compromisso, nesta sexta-feira (24), de eliminar até 2030 casos de tuberculose no Brasil. A meta – mais ambiciosa do que a prevista pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que fixou prazo para 2035 – foi divulgada durante o lançamento da Campanha Nacional de Combate à Tuberculose no início da tarde de hoje, que marca também Dia Mundial de Combate à Tuberculose. 

O foco da iniciativa será alertar a população para a importância do diagnóstico precoce da doença. Assim como reforçar a campanha de vacinação e tratamento nas regiões em que a tuberculose é mais incidente. Nesse caso, Manaus, Belém, Rio Branco, Recife e Rio de Janeiro. Durante a cerimônia, o médico Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi), ligado ao Ministério da Saúde, explicou que a erradicação é não aplicável sobre a tuberculose, porque ela só é alcançável com doenças imunopreveníveis, como cólera, poliomielite e varíola. 

“Doenças essas que eliminamos porque temos vacina e cobertura vacinal. Doenças sem vacina, nós eliminamos como problema de saúde pública, mas não erradica”, explicou ele. Atualmente, o Brasil dispõe da vacina BCG que protege contra formas graves da tuberculose que, sem a prevenção, pode afetar os pulmões, ossos, rins e meninges – membranas que envolvem o cérebro. Contudo, de acordo com o diretor do Dathi, por conta do negacionismo, alimentado pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), o Brasil nos últimos anos vem cada vez mais reduzindo a cobertura vacinal contra a doença. 

Piora social e na saúde

“Na tuberculose era até difícil explicar para a imprensa que a gente tinha cobertura (vacinal) de mais de 100%. Porque o cálculo da população não era preciso e a vacinação nas unidades de saúde era precisa. Então a gente vacinava mais gente do que teoricamente existia na população, especialmente nas crianças recém-nascidas que eram vacinadas no momento do nascimento. Mas hoje, mesmo nessa população de nascituros, estamos com a cobertura de 88%”, apontou o especialista. 

Os dados do Ministério da Saúde também mostram recrudescimento da doença, com aumento de casos e mortes e redução na taxa de cura de 2021 para cá. Essa piora está relacionada, segundo Barreira, com o “processo de piora de todos os indicadores sociais nos últimos seis anos”. O próprio departamento focado na doença chegou a ser desmontado no governo anterior. 

“A tuberculose é uma doença basicamente determinada por essas questões sociais”, ressalta o especialista, que aponta para dois fatores fundamentais. “O impacto negativo da pandemia e o abandono das medidas de proteção social e investimento nas questões sociais. Nós tivemos uma piora de todas essas doenças que têm esse forte determinante social”, acrescenta. 

Mortalidade mais alta em 10 anos

Em 2021, último ano de análise, foi identificado aumento de 5% nos casos da doença, que bateram recorde de 78 mil novos diagnósticos. Até então, a média brasileira era de 70 mil casos por ano, já aquém dos objetivos do novo governo federal. O Brasil ainda figura entre os 30 países com alta carga de tuberculose pelo volume de pessoas acometidas pela doença. As taxas de mortalidade também refletem essa piora, segundo o Ministério da Saúde. Naquele ano, o Brasil atingiu o maior número de óbitos da última década, mesmo com a pandemia, que fez reduzir o registro por outras mortes.

Foram 2,38 mortes por 100 mil habitantes. O que significou 5 mil óbitos em 2021. “Traduzindo para algo mais palpável, são 14 pessoas que morrem todos os dias no Brasil por uma doença que a maioria da população imagina que já não existe”, contestou o diretor do Dathi. Para Barreira, o lançamento da campanha nacional é também importante para levar informação à população. Também houve uma diminuição na taxa de cura, que registrou queda de 66,5%. Quando em tratamento correto, a taxa de cura fica acima de 95%. 

Os dados também revelam que a tuberculose atinge principalmente homens de 20 a 64 anos, que têm um risco três vezes maior de serem acometidos pela doença. Em comum, essas vítimas são arrimo de família e estão sobretudo nas classes de renda mais baixa, C, D e E. Com destaque para as pessoas em situação de rua, as comunidades indígenas, os refugiados, as pessoas vivendo com HIV e Aids e as pessoas privadas de liberdade. 

Ação interministerial

Por isso, a campanha será uma ação interministerial, conforme destacou a titular da Saúde, Nísia Trindade. “É uma orientação do presidente Lula. E, no caso da tuberculose e outras questões de saúde, isso é fundamental. Então trabalharemos junto com o Ministério do Desenvolvimento Social, da Justiça, dos Direitos Humanos e Cidadania, da Ciência, Tecnologia e Inovação, entre outras pastas, exatamente para fazer frente ao desafio.” 

“Sabemos que a tuberculose é a segunda doença infecciosa que ainda mais mata no mundo. E eu friso ‘ainda’ porque temos prevenção, novas ferramentas de diagnóstico e a capacidade de ter tratamento. Por isso é mais lamentável que se persista como um grave problema de saúde pública”, lamentou a ministra. 

Uma das ações prioritárias do governo federal é reduzir o coeficiente de incidência da tuberculose em 90%. Assim como reduzir o número de mortes em 95%, o que representa menos de 230 óbitos por ano até 2035. O Ministério da Saúde também fará um esforço para ampliar a cobertura vacinal. A pasta já fez a compra de importações do imunizante e prevê para 2024 a volta da produção nacional da vacina BCG. Um acordo está sendo firmado nesse sentido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná. 

Amanhã (25) também será formada aliança em Varanasi, na Índia, para a eliminação da tuberculose ser uma causa mundial. A ideia é formar uma coalizão de líderes para mobilizar essa agenda na Assembleia Geral da ONU, em setembro, nos Estados Unidos. “Porque temos muita clareza e a OMS e a Opas repetem muito isso, e é verdade, que a tuberculose em um lugar é tuberculose em todo o lugar”, alertou Draurio Barreira.