Mês das Mulheres

Governo lança projeto para inclusão de meninas e mulheres na ciência. ‘Diversidade leva à excelência’

As ministras Luciana Santos e Cida Gonçalves anunciam R$ 100 milhões do CNPq para a formação de meninas e mulheres nas ciências exatas, engenharias e computação, áreas que registram baixa participação feminina

ASCOM/MCTI
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"Precisamos que a ciência tenha a cara desse país, que é um país diverso, negro, de mulheres, indígenas, LGBTQIAPN+. Porque essa diversidade não é só por justiça, que já seria o bastante, mas é também por excelência", afirmou a ministra

São Paulo – O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação abriu nesta quarta-feira (6) um edital no valor de R$ 100 milhões para estimular a inclusão de meninas e mulheres na produção de conhecimentos na área de exatas. Até 29 de abril, estudantes a partir do 8º ano até o ensino médio e a graduação, pesquisadoras e professoras da educação básica podem ser inscrever na chamada “Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação”, realizada em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A ideia da pasta é estimular o ingresso e a formação desse público nessas áreas que registram as menores porcentagens de participação feminina. Em 2021, a pesquisa Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, do IBGE, mostrou que, apesar delas serem maioria nos cursos de ensino superior, são minoria entre os alunos nas áreas ligadas às ciências exatas e maioria entre as funções ligadas a cuidados e educação.

A predominância das matrículas em áreas como bem-estar, que inclui o curso de serviço social (88,3%); saúde, excluindo medicina (77,3%); ciências sociais e comportamentais (70,4%); e educação (65,6%), era de mulheres. Enquanto elas representam apenas 13,3% dos alunos de Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e 21,6% dos cursos de engenharia e profissões correlatas. De acordo com a titular da pasta, a ministra Luciana Santos, essa sub-representação de mulheres nas exatas é ainda maior quando se trata de mulheres negras.

Desigualdade de gênero na ciência

Pouco antes de celebrar nesta terça o memorando de Ciência e Tecnologia com o governo da Espanha, Luciana participou do evento de lançamento do edital, onde também lembrou que 60% da iniciação científica no país é composta pela população feminina, mas no topo da carreira de cientistas elas são apenas 35% de todos os pesquisadores.

“Revelando que no meio do caminho tem amarras que impedem a mulher de exercer plenamente sua carreira científica. Muitas vezes são meninas e mulheres que têm a responsabilidade muito cedo da chamada política de cuidado. (…) E isso, objetivamente, provoca uma grande evasão escolar no ensino médio e na carreira científica também. Por isso estamos estudando no CNPq metodologias que punam as mulheres e por isso fazemos esse edital”, defendeu a ministra da Ciência. A chamada também pretende enfrentar desigualdades regionais e étnico-raciais. Pelo menos 40% das bolsas serão concedidas a meninas negras e indígenas.

A iniciativa se soma ao edital já aberto em parceria com os ministérios da Igualdade Racial, das Mulheres e dos Povos Indígenas. Por meio do CNPq, mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas serão contempladas com bolsas de doutorado sanduíche e pós-doutorado, ambas no exterior. “Precisamos que a ciência tenha a cara desse país, que é um país diverso, negro, de mulheres, indígenas, LGBTQIAPN+. Porque essa diversidade não é só por justiça, que já seria o bastante, mas é também por excelência. É essa diversidade que dá possibilidade de excelência científica”, garantiu Luciana.

As pioneiras

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, também ressaltou que, apesar das desigualdades de gênero que atrapalham as mulheres cientistas, o Brasil tem uma lista de estudiosas que mostram de maneira objetiva que o lugar da mulher também é na ciência. Entre elas, a doutora em Química Nuclear, Irene Batista de Aleluia, primeira mulher brasileira e negra a obter o título em uma universidade da Alemanha. “Ela sofreu muito preconceito, lutou muito, mas fez tudo isso”, afirmou o presidente do CNPq.

“Falo isso em função dessa chamada que lançamos hoje, esse estímulo da ministra. É importante dar oportunidade. Espero que muitas dessas jovens que vão ter essas bolsas possam resgatar e ter progressos para suas famílias. E, mais importante de tudo, como aconteceu com a Irene, não deixem que incutem em vocês, meninas e jovens, o medo do conhecimento. Lutem contra o medo do conhecimento, amem o conhecimento e tenham confiança em vocês, porque o Brasil precisa dessa contribuição para o nosso progresso”, acrescentou.

Diversidade e futuro

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, completou que a abertura do edital para incentivo da população feminina representa o futuro, assim como as grandes políticas estruturantes do atual governo. De acordo com ela, a medida é garantia de um país diferente do de hoje, marcado pela maioria de mulheres pobres, mães solos e que são, em sua maioria, negras.

“Esse edital é a garantia de que de fato podemos estar em um lugar diferente na ciência. Um lugar que nunca nos permitiu, nem na matemática, na física, na lua, mas que efetivamente possamos estar em todos os lugares e onde quisermos. Porque o nosso lugar é na política, mas é também na ciência, na literatura e nos espaços de poder. E a ciência é poder. O conhecimento é a garantia de que esse Brasil vai se desenvolver e vai se constituir na maior nação que garante democracia, igualdade, justiça e paridade para as mulheres”, defendeu Cida Gonçalves.  

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Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima


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