Sinais claros

Fiocruz: casos de Síndrome Respiratória Grave sobem 135% em todo o país

Boletim Infogripe, com dados ainda anteriores às festas de fim de ano, mostra crescimento das Srags em 25 das 27 unidades da federação

CDStudio/Freepik
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Boletim da Fiocruz aponta que dados sobre aumento de Influenza e de covid-19 divulgados neste sábado são anteriores às festas de final de ano

São Paulo – O boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado neste sábado (15), mostra que houve aumento de 135% nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) das últimas três semanas de novembro em relação às três últimas semanas. Passou de 5,6 mil casos para 13 mil. Foi o primeiro boletim divulgado após mais de um mês em função do “apagão” no sistema do Ministério da Saúde, que inviabilizou o acesso aos dados sobre a pandemia de covid-19 no Brasil.

Os dados apontam um crescimento em todas as faixas etárias a partir de 10 anos de idade, desde o final de novembro e início de dezembro até o momento atual. Os números de laboratório indicam que esse aumento foi consequência tanto da epidemia de gripe quanto pela retomada do crescimento de casos de covid-19.

“A velocidade com que a covid-19 se espalha entre a população cresceu semanalmente de 4% para 30%”, disse o pesquisador Marcelo Gomes, responsável pelo InfoGripe.

Das 27 unidades da federação, 25 apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo até a SE 1 (período de 2 a 8 de janeiro). O estado do Rio de Janeiro, embora mostre estabilidade na tendência de longo prazo, tem indícios de crescimento na de curto prazo. Apenas Roraima mostra sinal de estabilidade nas tendências de longo e curto prazo.

Tendências de altas

Com exceção de Roraima e do Rio de Janeiro, todos os estados têm sinal de crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) na tendência de longo prazo, sendo que todos esses estão com o indicador em nível forte (probabilidade acima de 95%): Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.

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Destes, apenas Amazonas e Rondônia apresentam sinal de estabilidade na tendência de curto prazo, segundo a Fiocruz. Todos os demais apresentam sinal de crescimento, sendo este sinal moderado (probabilidade acima de 75%) no Amapá, Pará e Piauí e forte em todos os demais. No Rio de Janeiro observa-se sinal forte de crescimento na tendência de curto prazo, embora a tendência de longo prazo esteja em situação de estabilidade.

Exames laboratoriais

Em todas as faixas etárias verifica-se aumento significativo de casos associados ao vírus Influenza A (gripe) ao final de novembro e ao longo do mês de dezembro, tendo inclusive superado os registros de covid-19 em algumas dessas semanas. No entanto, os dados relativos ao final de dezembro e à primeira semana de janeiro apontam para a retomada do cenário de predomínio da covid-19.

Na população infantil, na qual os vírus sincicial respiratório (VSR) e Influenza A ainda prevalecem, também verifica-se tendência de aumento nos casos positivos para a covid-19. O pesquisador Marcelo Gomes observa que o cenário de aumento de casos graves de Influenza e de covid-19, anteriores às festas de final de ano, sugerem que tais eventos podem ter representado risco significativo para a população, especialmente em eventos com muitas pessoas.

Sede da Fiocruz, no Rio (Foto: Raquel Portugal)

“Praticamente todos os estados apresentaram sinal de crescimento entre 26 de dezembro e 1º de janeiro e de 2 a 8 de janeiro. Isso deixa claro que tal contexto é anterior às celebrações de final de ano. Também reforça a importância dos alertas quanto aos cuidados necessários à época”, ressalta o coordenador do InfoGripe.

Segundo Marcelo Gomes, “esse fato torna fundamental a retomada de ações de conscientização da população e minimização de risco para mitigar o impacto ao longo do início do ano de 2022. Tais dados também deixam claro a importância do cancelamento de grandes eventos de Réveillon por parte das autoridades de diversas localidades, ainda que os dados de notificação estivessem apresentando problemas na sua divulgação”.

Sinais claros

Os dados laboratoriais por unidades da federação seguem um quadro muito similar em praticamente todos os estados, “sendo claro o início da epidemia de Influenza A no Rio de Janeiro e rapidamente se espalhando para o restante do país”, comenta Gomes. Quanto à retomada do crescimento de SRAG associados à covid-19, o boletim mostra uma reversão clara a partir da segunda quinzena de dezembro em diversos estados, embora em alguns estados do Norte e Nordeste a covid-19 tenha mantido alta positividade ao longo de todo o final do ano: Amapá, Maranhão e Pará apresentam tendência de crescimento nesses casos desde os meses de outubro ou novembro. 

O pesquisador da Fiocruz alertou para o fato de que “sempre há atraso entre a identificação de casos, o resultado laboratorial e a inserção do resultado no [Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe] Sivep-Gripe. Com isso, a população viral associada a casos recentes pode sofrer alterações significativas em atualizações seguintes”.

Reportagem de Douglas Corrêa, da Agência Brasil – Redação RBA: Fábio M. Michel