Realidade paralela

Com deltacron e surto na China, Queiroga quer rebaixar pandemia para ‘endemia’

Epidemiologista da Fiocruz destaca que a pandemia não acabou, e mudar o status da covid-19 reduziria a capacidade de enfrentamento à doença

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Para Jesem Orellana (Fiocruz-Amazônia), deltacron revela capacidade de "surpreender" do novo coronavírus

São Paulo – O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem se encontrado com autoridades da República com o objetivo de flexibilizar o estado de emergência sanitária. Ele pretende mudar a classificação de pandemia da covid-19 para de endemia. Ao mesmo tempo que tenta flexibilizar a pandemia, Queiroga também confirmou hoje a existência de dois casos da nova variante deltacron no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que monitora “com atenção” os casos da mutação, já detectada na França, Holanda e Dinamarca, por exemplo.

Na semana passada, o ministro tratou do assunto com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Nesta terça (15), com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “Diante da sinalização, manifestei ao ministro preocupação com a nova onda do vírus, vista nos últimos dias na China”, reagiu Pacheco. Ainda assim, ele se comprometeu a levar a discussão para os líderes.

Enquanto isso, a China registrou ontem (14) o maior surto de covid-19 em dois anos. De acordo com a Comissão Nacional de Saúde (CNS), foram 5.280 novos casos em 24 horas. Com a finalidade de conter o avanço da doença, 13 cidades chinesas estão em confinamentos total e várias adotaram fechamento parcial. Assim, são cerca de 30 milhões de chineses submetidos a essas restrições. Além disso, medidas restritivas provocaram fechamento de inúmeras fábricas, entre elas a gigante Foxconn, principal fornecedora da Apple. Dezenas de voos foram cancelados nos aeroportos de Pequim e Xangai. As autoridades de saúde disseram que 19 províncias enfrentam surtos das variantes ômicron e delta.

Até o momento, a China registrou 120 mil casos de covid-19 e 4.636 mortes. O último óbito registrado oficialmente ocorreu ainda no início de 2021. O país vem aplicando a estratégia de “covid zero”, fazendo a busca ativa dos contaminados, na tentativa de conter cadeia de transmissão.

Deltracron

De acordo com o epidemiologista da Fiocruz-Amazônia Jesem Orellana, pouco se sabe sobre a letalidade ou transmissibilidade dessa nova variante. Menos ainda se ela poderia escapar da proteção conferida pelas vacinas.

“O que sabemos é que a deltacron já circula há semanas em diferentes países. Portanto, estamos falando de um fato indiscutível: a grande capacidade de surpreender do novo coronavírus. Especialmente quando a maioria quer acreditar que a pandemia acabou”, afirmou o especialista.

Para ele, acreditar que o Brasil vive o fim da pandemia configura uma espécie de “fuga da realidade”. Nesse sentido, ele criticou a investida de Queiroga para tentar mudar o status da covid-19 para “endemia”. Ele explicou, com a flexibilização do estado de emergência sanitária, seriam cortados os repasses do governo federal para o combate à doença.

“Seria como eliminar uma das principais ferramentas de combate à covid-19”, disse Jesem. Isso porque, desde o início da pandemia, Bolsonaro boicotou as demais medidas de enfrentamento, como a testagem em massa, o distanciamento social e o uso de máscaras. “Nega-se a realidade de respostas rápidas e específicas, deixando o vírus circular livremente, tal como o Bolsonaro sempre defendeu”, acrescentou.

Balanço da covid no Brasil

Hoje o Brasil registrou 336 mortes pela covid-19, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). A média móvel semanal de óbitos ficou em 394/dia. É a primeira vez desde 26 de janeiro que a média de mortes ficou abaixo dos 400.

Nas últimas 24 horas, as autoridades de saúde também registraram 52.094 casos da doença, quase cinco vezes mais do que no dia anterior. Por outro lado, cabe destacar que, ao longo da pandemia, as segundas-feiras apresentam números menores, em função dos dados represados durante o fim de semana.

Em pouco mais de um mês, a média móvel caiu de quase quase 200 mil casos para 50 mil. No entanto, houve estagnação nos últimos dias, o que acende o alerta para eventual reversão da tendência de queda. Atualmente, a média móvel semanal de casos está em 41.971. Há 10 dias, no entanto, estava em 40.130.

No total, já são 655.585 mortes pela covid-19 oficialmente registradas e mais de 29,4 milhões de casos da doença.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass)


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