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Cenário de horror se alastra pelo sistema de saúde do país

Helena Nader, da Academia Brasileira de Ciências, analisa crise sanitária no país e avisa que único medicamento contra covid-19 é o isolamento social

Santa Casa de Campo Grande/Divulgação
Santa Casa de Campo Grande/Divulgação
Novos infectados somaram 95.601 no último período, um dos dias com maior registro desde o início da pandemia, em março de 2020

São Paulo – Hospitais sem leitos. Equipes médicas exaustas e insuficientes. Planos de saúde recorrendo ao SUS, em busca de vagas. Insumos, como oxigênio e sedativos para intubação acabando. O cenário de horror se alastra pelo sistema de saúde do país. “É uma crise humanitária e sanitária como nunca imaginei que veríamos. Estamos chegando numa outra classe social sentindo a pandemia. A morte já não está só nas classes mais desprovidas”, observa a biomédica Helena Nader, vice-presidenta da Academia Brasileira de Ciências.

Em entrevista ao Revista Brasil TVT deste domingo (21), Helena Nader analisou a caótica realidade vivida no país.  “O governo brasileiro não aposta na ciência. Ela é encarada como um gasto, não investimento”, critica. Percepção diferente do que ocorre nos países mais desenvolvidos. “Eles sabem que pra cada dólar investido, o retorno é de aproximadamente oito dólares. Aqui no país, como exemplo, temos a agricultura líder em alguns setores, como soja e carne. Isso é resultado da ciência. No caso das vacinas, temos uma Fiocruz e o Instituto Butantan. São instituições centenárias e referências mundiais. Custava investir nisso?”, lamenta.

Não existe medicação para covid-19

Nader reforça que não existem medicamentos milagrosos contra a covid-19 e, por isso, o uso de máscara deve ser obrigatório, além de medidas de distanciamento social, como o lockdown. “Não existe medicação para a covid-19. O que temos são remédios para evitar outros problemas da doença. Por isso se ministra corticoides, em algumas situações. Para diminuir a inflamação. Também ministramos anticoagulantes, pois o vírus tem uma tendência de produzir coágulos”, explica.

A biomédica lista ainda outros tratamentos, em experimentação, como um soro produzido pelo Instituto Butantan, produzido semelhantemente aos anti-peçonhentos, obtidos por meio do sangue do cavalo. “Até mesmo o Remdesivir, capaz de diminuir o número de mortes, não é 100% eficiente.”

Por essa razão, a pesquisadora apela para a cidadania. “Qual medicamento temos? Isolamento social. Temos de diminuir a circulação do vírus.”

Carta-manifesto

Nader, por intermédio da entidade que representa, assinou a carta-manifesto Pacto pela Vida e pelo Brasil. Esse documento foi entregue ao governador do Piauí e presidente do Fórum Nacional de Governadores, Wellington Dias, no último dia 15. Assinam, além da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A pesquisadora falou, ainda, sobre a grave situação de desabastecimento dos chamados “kit intubação” no sistema de saúde do país. Em especial dos medicamentos sedativos, o que considerou extremamente preocupante. “Vários hospitais estão com estoque que dá para uma semana. E não é só o intubar. É preciso monitorar e cuidar do estado do paciente. Medir pressão, saturação e não temos esse número de equipes”, explica, citando a necessidade de anestesistas, intensivistas, enfermeiros, auxiliares e fisioterapeutas. “Uma equipe multiprofissional.”