Associação de usuários quer que ANS seja criteriosa com venda da Amil

Aduseps aponta preocupação com entrada de capital estrangeiro no sistema de saúde nacional e teme que venda resulte no descredenciamento de hospitais e redução de profissionais

São Paulo – A Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps) pediu que a Agência Nacional de Saúde (ANS) seja criteriosa para aprovar a venda do grupo Amil para maior empresa norte-americana do setor, a UnitedHealth Group, anunciada hoje (9). O grupo estrangeiro pretende adquirir 90% do convênio brasileiro por US$ 4,3 bilhões.

Para que isso ocorra, no entanto, é necessária a aprovação da ANS. A agência informou, por nota, que “tomou conhecimento pelos meios de comunicação que a norte-americana UnitedHealth Group Incorporated negociou a aquisição do controle da Amil Participações S/A” e que “aguarda que a negociação seja submetida a sua aprovação”.

Para a coordenadora jurídica da Aduseps, Karla Guerra, este é o momento da agência agir com “muito critério”. “É um sistema de saúde brasileiro sendo controlado por uma empresa estrangeira, que segue um modelo do exterior”, afirma. “Toda vez que existe venda ou fusão os usuários são bastante afetados porque muda a rede credenciada e as regras de contratação de profissionais.”

Com a fusão, os 22 hospitais próprios da Amil passarão a ser administrados pela empresa estrangeira, o que é permitido pela legislação nacional, de acordo com a ANS. O órgão ressalta que a participação de capital estrangeiro nos planos de saúde nacional não são novidades, pois o capital destas empresas é negociado na bolsa de valores, “na qual é livre o acesso aos investidores estrangeiros”.

Para o médico Felipe Gonçalves, integrante do Fórum Popular de Saúde do Estado de São Paulo, a negociação mostra que o setor tem se tornado cada vez mais lucrativo no país. “Com um sistema público de saúde deficitário e com uma atuação fraca da ANS uma empresa estrangeira vem explorar o Brasil para ter lucro. O grande problema é submeter a saúde a questões financeiras, porque você inverte a lógica do atendimento médico e coloca o lucro na frente do bem-estar do paciente.”

O presidente da UnitedHealth reforçou que o negócio é lucrativo para a empresa uma vez que “o Brasil emergiu como um mercado de crescimento e evolução dos planos de saúde. Sua economia em crescimento, classe média em ascensão e políticas de estímulo em favor do setor de saúde suplementar o fazem um mercado com alto potencial de crescimento”. O fundador da Amil, Edson Bueno, informou em nota acreditar que a venda “permitirá trazer avançadas tecnologias” para o Brasil.

Para Karla, da Aduseps, a falta de transparência nas negociações de planos de saúde também prejudica os usuários, impedindo que eles possam acompanhar o processo e decidir se continuam ou não com a operadora. “Isso não é algo que se decide em uma semana. Com certeza, a negociação já estava ocorrendo há muito tempo e isso deveria se tornar público para que o consumidor pudesse optar. A negociação acontece na surdina e o tempo de escolha do paciente fica muito restrito.”

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