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‘Direito à vida vem antes do direito de ir e vir’, defende Gonzalo Vecina

Negacionistas que rejeitam vacinas põem vidas em risco, defende o médico. Segundo ele, passaporte da vacina e questão coletiva se impõem

Tânia Rêgo/Abr
Tânia Rêgo/Abr
Gonzalo Vecina: "Não existe liberdade de provocar o mal ao paciente. Existe autonomia para fazer tudo que não fizer mal"

São Paulo – O Brasil registrou hoje (30) 627 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas e chegou a 596.749. Também foram notificados 27.527 novos casos da doença, totalizando 21.427.073 desde o início da pandemia, em março de 2020. Os registros de mortes seguem em situação de estabilidade, mas em patamar elevado, já que o número de casos é significativamente superior à média móvel atual, calculada em sete dias, que está em 16.985. Diante do cenário preocupante, o médico sanitarista e professora da USP Gonzalo Vecina cobra a obrigação do chamado passaporte da vacina para espaços fechados.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conselho Nacional dos Secretários de Sa´úde (Conass)

A preocupação de Vecina, um dos pioneiros da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), tem base nos fatos apontados pela ciência. Os Estados Unidos, por exemplo, relatam que mais de 90% das mortes por covid-19 no país são de negacionistas que se recusaram a tomar vacinas. Não por coincidência, o fato agora, com o domínio da variante delta, se repete no Brasil. De acordo com levantamento do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, 94% dos hospitalizados com covid-19 no hospital de referência Ronaldo Gazolla não foram vacinados. A informação foi levantada um dia depois de o desembargador Paulo Rangel, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, suspender a exigência do passaporte da vacina na capital fluminense. Mas no final da tarde de hoje a decisão acabou sendo derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).



Questão coletiva

“Saúde tem que ser pensada coletivamente”, defende Vecina, em entrevista ao programa Bom para Todos de hoje, na TVT. O sanitarista criticou a postura do juiz, porque este proferiu sua decisão ao defender o direito de livre locomoção. “O direito de ir e vir fica comprometido?”, questiona Vecina, que ressalta que a Constituição é clara ao delimitar: “O direito à vida vem antes do direito de ir e vir”. Assim, alerta o professor da USP, o uso do passaporte sanitário em determinadas condições precisa ser exigido. “Para não colocar em risco pessoas que estão relativamente protegidas. Porque não existe 100% de proteção. Não tenho dúvidas, o passaporte deve ser imposto”, completou o médico.

Gonzalo Vecina lembra o caso de uma auxiliar de enfermagem de São Bernardo do Campo, que acabou demitida por se recusar a tomar vacina e recorrer à Justiça e já perdeu em duas instâncias. Isso porque a profissional, com essa postura, põe em risco pacientes que está atendendo. “Isso foi confirmado em segunda instância. Em relação ao passaporte, se eu quiser a um lugar fechado, num restaurante, qual o risco de estar com pessoas não vacinadas? É o risco de pegar doença deste cara. A regra do vacinado é que quem não tomou vacina não vá para não contaminar as pessoas”, argumenta.

Autonomia para o mal

Além do passaporte da vacina, Vecina comentou sobre as investigações da CPI da Covid, que avançaram nesta semana sobre crimes e condutas imorais da Prevent Senior. O plano de saúde destinado à terceira idade adotou praticas como o corte de oxigênio em busca de economia, experimentos com medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19 sem consentimento dos pacientes e da família (cloroquina e ivermectina), entre outras ações sustentadas pelos argumentos negacionistas do presidente Jair Bolsonaro.

Os bolsonaristas da CPI carregam como instrumento de defesa para os crimes suposta “autonomia médica” que deve ser respeitada. Vecina explica que não é por ai. “A autonomia dos médicos é singida, amarrada, apertada e direcionada por algo muito antes de que pode fazer o que bem entender. Primeiramente, você não pode fazer o mal. Isso está no juramento de Hipócrates e no Código de Ética. Neste caso, você está dando medicamentos que fazem o mal. Não existe liberdade de provocar o mal ao paciente”, disse.

“Não existe liberdade de provocar o mal ao paciente. Existe autonomia para fazer tudo que não fizer mal. Neste caso, fazia mal e não tinha garantias de fazer o bem. Isso ficou muito demonstrado em centenas de estudos sobre cloroquina e ivermectina, tóxicas e sem benefício contra a covid-19. Então, esses caras têm que ser punidos”, completou.

Assista ao programa Bom para Todos


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