Negacionismo X Ciência

Mirandópolis e Araraquara: contrastes no combate à pandemia

Mirandópolis, em colapso, é governada pelo bolsonarista Everton Sodario. Em Araraquara, prefeito Edinho Silva segue a ciência e derruba número de casos de covid-19 e de mortes

Reprodução Twitter - Divulgação
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Como o "mito", Everton Sodario faz arminha e nega que é negacionista. Edinho Silva defende a ciência

São Paulo – O contraste entre as realidades de duas cidades do interior paulista, Mirandópolis e Araraquara, mostra que a adoção de protocolos científicos no combate à pandemia de coronavírus faz muita diferença. Mirandópolis, situada a noroeste do estado, com 29 mil habitantes, passa por grave crise sanitária e colapso do sistema de saúde. Seu prefeito, Everton Sodario (PSL), é um tradicional bolsonarista “de raiz”. Questionado em reportagem da Folha de S.Paulo sobre negacionismo, respondeu ao jornal, a exemplo do presidente Jair Bolsonaro, que “negacionistas são os que são contra o tratamento precoce, ou os que não entendem que as pessoas precisam também trabalhar”.

Araraquara, no centro-leste de São Paulo, com 239 mil habitantes, passou por momento difícil no início do ano, quando 100% dos leitos de UTI foram ocupados. Para reagir à pressão da pandemia sobre o sistema de saúde, o prefeito Edinho Silva (PT) decretou lockdown severo, após identificar a circulação da variante P1 do coronavírus na cidade. A medida – que vigorou de 21 de fevereiro a 2 de março – enfureceu seus adversários e ele recebeu ameaças, inclusive de morte.


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Como resultado do lockdown, todas as estatísticas da Covid-19 despencaram: média móvel de novos casos, pessoas contaminadas em quarentena, internações, óbitos e porcentagem de amostras positivadas. Foram 16 mortes provocadas pela Covid-19 de 1º a 14 de abril, contra 81 entre 1º e 14 de março. Os casos por semana, segundo a prefeitura, também caíram: de 1.327 entre 15 e 21 de fevereiro, chegaram a 398 entre 29 de março e 4 de abril. Na semana entre 5 a 11 de abril, houve novo aumento, para 464 casos. Mas o número de mortes, na comparação com o mesmo período de março, nove óbitos, representou redução de 78%.

Colapso

Em Mirandópolis, no período de 19 de março a 19 de abril, o total de mortes, segundo a prefeitura, passou de 24 para 65, o que representa aumento de 170,8%. O número de casos foi a 1.853, com aumento de 52,5% no período. O cenário levou o hospital estadual ao colapso, segundo a matéria da Folha.

O prefeito da cidade reagiu à reportagem. Disse ele que, em 2020, Mirandópolis teve 12 óbitos pelo “vírus chinês”. E que “agora a folha de SP tenta jogar em mim a culpa pelo aumento de óbitos em 2021”. Segundo ele, a culpa é do governador João Doria, que “mandou” a Mirandópolis pacientes de Araraquara e de outras cidades que estavam colapsadas. Com eles “vieram as variantes”, afirmou Sodario . A informação não parece lógica, dado que a viagem de Araraquara a Mirandópolis, de 365 quilômetros, leva aproximadamente quatro horas e meia. Como o seu “mito”, Sodario defende a hidroxicloroquina, ataca o distanciamento social, as restrições ao comércio e a CoronaVac.


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Em Araraquara, decreto publicado nos Atos Oficiais da prefeitura em 17 de abril propôs um pacto para o “retorno seguro” das atividades econômicas. Com isso, tenta adequar o município à fase de transição do Plano SP, do governo estadual. O objetivo principal é seguir com a flexibilização sem riscos de retroceder no enfrentamento da pandemia.

Medidas de abertura passaram a vigorar no domingo (18), prevendo um “teto” de 30% na taxa de positividade de testes por até três dias seguidos. Ultrapassada essa tolerância as flexibilizações serão suspensas, até que a taxa de positivados se iguale a 20% ou menos, também por três dias consecutivos.

Com 30% das amostras positivadas, disse Edinho Silva, “vamos fechar Araraquara por sete dias. Pois significa que vamos voltar a ter um descontrole da doença na cidade”. E prosseguiu: “Isso não foi tirado da minha cabeça nem da cabeça de secretários”. Segundo o prefeito de Araraquara “São normas construídas com os cientistas, pesquisadores, com aqueles que estão estudando a doença. Porque 30% significa que estamos a um passo de entrarmos em colapso novamente”, explicou o prefeito.

Redação: Eduardo Maretti
Edição: Paulo Donizetti de Souza