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Araraquara e Bauru refletem a diferença entre seguir ou não a ciência

Enquanto uma cidade adotou o lockdown, o outro município, que não aplicou medidas mais restritivas de distanciamento social, vê número de casos de covid-19 subir

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Média de mortes em Araraquara também despencou e, em alguns dias, a cidade não registrou nenhuma vítima do novo coronavírus

São Paulo – Araraquara e Bauru, ambas no interior de São Paulo, são dois retratos de cidades que, durante o momento mais crítico da pandemia de covid-19, divergem sobre a adoção de medidas mais restritivas de circulação de pessoas, entre elas o lockdown, com resultados bastante distintos em relação ao enfrentamento ao novo coronavírus.

Levantamento da BBC Brasil, com dados da última quarta-feira (7), mostra que, enquanto Araraquara tem uma média de 11,9 mortes por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias, a taxa de Bauru, no mesmo período, é bem mais alta: 26,4 mortes por 100 mil habitantes.

A maior diferença entre os dois municípios está nas ações de combate à pandemia. De um lado, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), decretou um rigoroso lockdown em fevereiro e suspendeu todos os serviços que não têm relação direta com a área da saúde, incluindo transporte público e supermercados.

Por outro lado, em Bauru, a prefeita Suéllen Rosim (Patriota) impôs restrições mais leves. Segundo ela, em entrevista ao portal UOL, o “lockdown não funciona” e “Araraquara é prova disso”. Entretanto, após o endurecimento do isolamento social em Araraquara, houve queda em casos diários e mortes decorrentes da covid-19, ocorrendo o contrário em Bauru.

Araraquara

Lockdown em Araraquara

Os dados apontam que Araraquara teve queda de mais de 50% na média de novos casos diários, passando de quase 140 no final de fevereiro para pouco mais de 60 em meados de março.

A média de mortes em Araraquara também despencou e, em alguns dias, a cidade não registrou nenhuma vítima do novo coronavírus. “Araraquara fez aquilo que a ciência diz que se deve fazer. A melhor maneira de proteger a economia de um país é salvar a vida de seu povo”, afirmou Edinho Silva.

O município viu, nos últimos dias, sua média móvel de internações se manter em um nível relativamente estável após crescer em fevereiro. De acordo com a prefeitura, após a desaceleração nos casos locais, a cidade passou a atender pacientes de fora do município.

O epidemiologista Davi Rumel, que foi vice-diretor da Anvisa e professor de saúde pública da USP, disse à BBC Brasil que o confinamento promovido por Araraquara “foi pra valer”, e não um “faz de conta” – termo que ele usa para descrever a situação em cidades que usaram o termo lockdown mas não pararam ou reduziram as atividades e circulação de fato.

araraquara

Bauru e o negacionismo

Se a cidade de Bauru age de maneira oposta à de Araraquara, seus dados também apresentam disparidade. O número de casos em Bauru subiu nas últimas semanas e chegou a 190 pessoas infectadas por dia. As informações sobre fevereiro e março mostram alta na média diária de internações em Bauru, que se aproximou de 130 na segunda quinzena de março.

A cidade do interior paulista também viu disparar o número de óbitos pela covid-19. A média móvel de mortos na primeira quinzena de março era de três pessoas ao dia. No final do mês passado, o número subiu para nove – um aumento de de 300%.

À BBC Brasil, assessoria da prefeitura de Bauru disse ainda que a prefeita “mantém o mesmo posicionamento sobre o lockdown, diante da realidade econômica e social do país” e considera que “o momento é crítico, como ocorre em praticamente todos os municípios”.

Davi Rumel alerta para os riscos que a cidade corre sem restringir a circulação de pessoas. “Bauru corre o risco de querer adiar o lockdown e chegar em uma circunstância em que nem vai adiantar mais porque já é tarde. E aí vai enxugar gelo em situação de alta transmissibilidade”, disse à BBC.

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