Exemplo

Sem vacina, isolamento é a única saída, afirma prefeito de Araraquara

Após lockdown inédito em fevereiro, cidade do interior paulista viu números de novos casos da covid-19 caírem pela metade. O segredo, segundo Edinho Silva (PT), foi ter apostado na ciência

Reprodução/Prefeitura de Araraquara
Reprodução/Prefeitura de Araraquara
Além do isolamento, Araraquara também investiu na ampliação de leitos de enfermaria e de UTI para tratamento de pacientes com covid-19

São Paulo – Cerca de um mês atrás, a cidade de Araraquara (SP) entrou em lockdown, com o fechamento de todas as atividades não essenciais. Até mesmo supermercados foram fechados, e os transportes públicos completamente suspensos. Hoje o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), se diz “aliviado” por ter conseguido evitar o colapso do sistema de saúde da cidade. “Nenhum paciente de Araraquara faleceu sem que tivesse o direito de lutar pela vida. Nenhum paciente faleceu sem assistência médica”, disse Edinho, em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta quarta-feira (17).

“Se não tem vacina, se o sistema de saúde está à beira do colapso, não tem outra medida a não ser o isolamento social”, destacou. Depois de ser alvo de críticas, inclusive do presidente Jair Bolsonaro, Edinho ressalta que outras cidades do interior paulista – como Ribeirão Preto e São José do Rio Preto – também estão decretando o lockdown.

De acordo com o prefeito, o rígido isolamento foi responsável pela redução de 53% na média móvel de novos pacientes contaminados pela covid-19. Além disso, as internações caíram em cerca de 30%. Ademais, o número dos pacientes em quarentena também caiu 65%. Ou seja, a receita do sucesso foi ter seguido as orientações da ciência, afirmou Edinho.

“Fomos muito criticados, inclusive pelo presidente. Mas isso não fez com que eu alterasse minhas convicções. Porque não são minhas, mas da ciência, dos pesquisadores, daqueles que acompanham a doença desde o início. Simplesmente segui a orientação da ciência”.

Linhas de ação

O principal acerto foi ter detectado a presença da variante P1 do novo coronavírus, conhecida como “cepa de Manaus”, mais transmissível e letal. Isso ocorreu após um crescimento rápido nas taxas de ocupação de leitos para covid-19 nas primeiras semanas de fevereiro. E só foi possível devido ao alto índice de testes realizados na população araraquarense.

Além das rígidas medidas de isolamento, a prefeitura também buscou a ampliação de leitos de enfermaria e de UTI, inclusive com a reabertura de um hospital de campanha. Araraquara é citada inclusive pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como um exemplo a ser seguido na adoção de medidas de proteção da saúde e da vida da população, em meio ao pior colapso sanitário e hospitalar da história do país.

Edinho: “Fomos muito criticados, inclusive pelo presidente. Mas isso não fez com que eu alterasse minhas convicções. Porque não são minhas, mas da ciência” / (Foto: Divulgação)

Governo federal ausente

Edinho foi taxativo em dizer que a tragédia humanitária que o país vive hoje é resultado da ausência de atuação do governo federal. “Um governo que teve acesso às informações em dezembro, que sabia que tinha uma nova cepa circulando, que era agressiva – porque tinha Manaus escancarada à nossa frente –, e não tomou medidas. Hoje o povo brasileiro vive uma situação de genocídio. Se isso não é crime de responsabilidade, não sei mais o que é”, declarou o prefeito de Araraquara.

Ele apelou para que o governo concentre todos seus esforços na aquisição de vacinas, para acelerar o Plano Nacional de Imunização. Além disso, o governo deve financiar a abertura emergencial de novos leitos, porque a maioria dos pequenos e médios municípios já não têm mais capacidade financeira. E, ainda, coordenar junto à iniciativa privada esforço para a produção e distribuição de oxigênio para suprir as necessidades, que tendem a aumentar. Não é hora, segundo ele, de pensar em ajuste fiscal, já que vivemos uma situação de economia de guerra.

O prefeito de Araraquara também disse que, além de falsa, é “mentirosa” a dicotomia entre saúde e economia. “Qual investidor vai pôr dinheiro num país que está empilhando caixões?”. Ele também cobrou que o governo federal conceda linhas de crédito a pequenos e médios empresários, com longo prazo de carência, até que a população esteja “100% vacinada”. Disse que o governo também deve suspender ordens de despejo, porque as pessoas não estão conseguindo pagar seus alugueis. Além disso, afirmou que um auxílio emergencial menor que R$ 600 é “não entender a vida do povo brasileiro”.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima