'Situação gravíssima'

Fiocruz: Brasil vive pior colapso sanitário e hospitalar da história

São 24 estados e o DF com taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com índices iguais ou superiores a 90%. Pesquisadores pedem maior rigor nas medidas de restrição às atividades não essenciais e a ampliação de medidas de distanciamento físico e social, além do uso de máscaras em larga escala e um ritmo mais acelerado de vacinação

Pedro Guerreiro/Ag Pará
Pedro Guerreiro/Ag Pará
Pela primeira vez desde novembro do ano passado, a taxa de contaminação no Brasil está sob relativo controle. O indicador calculado pela Imperial College de Londres aponta que o índice chamado RT está em 0,96

São Paulo –  Em boletim extraordinário divulgado nesta terça-feira (16), a Fiocruz traz nova análise a respeito do estágio da pandemia de covid-19 no Brasil. E, segundo a avaliação de pesquisadores da instituição, o país passa hoje por uma “situação gravíssima”, configurando o maior colapso sanitário e hospitalar de sua história.

A Fiocruz destaca que são 24 estados e o Distrito Federal, entre as 27 unidades federativas, com taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 15 delas com índices iguais ou superiores a 90%. Entre as capitais, 25 das 27 estão com taxas de ocupação de leitos de UTI covid-19 para adultos iguais ou superiores à marca de 80%. Destas, 19 estão acima de 90%.

Mais uma vez, a instituição chama a atenção para a necessidade de serem tomadas iniciativas como de prevenção e controle, como o maior rigor nas medidas de restrição às atividades não essenciais e a ampliação de medidas de distanciamento físico e social, além do uso de máscaras em larga escala e um ritmo mais acelerado de vacinação.

“Ainda que alguns governadores e prefeitos venham realizando esforços no sentido da abertura de leitos de UTI para o atendimento de pacientes com Covid-19, os limites da estratégia frente ao crescimento de casos são postos em xeque ao se constatar a estabilidade da maior parte dos estados e do Distrito Federal em níveis muito elevados de taxas de ocupação dos leitos de UTI Covid-19, assim como o crescimento verificado em outros estados na última semana”, observa o boletim.

Os pesquisadores destacam que o processo de sincronização da epidemia no país fez com que a doença crescesse de forma simultânea em todas as regiões e um dos efeitos diretos desse processo é a impossibilidade de remanejamento de pacientes não apenas para o atendimento a casos de covid-19, mas também por conta daqueles relacionados a outras causas.

“As internações eletivas estão paralisadas na maior parte dos hospitais do país. Dentre esses procedimentos alguns podem trazer, além de óbitos, agravamentos e danos permanentes à saúde da população, como por exemplo cirurgias de catarata que estão sendo adiadas e podem aumentar casos de cegueira permanente de forma significante. Os danos causados pela doença em função das altas taxas de ocupação de leitos vão além dos óbitos diretos e indiretos observados, implicando em grave desassistência de saúde pública, provocando sequelas e criando um passivo de atendimento extremamente elevado”, dizem os pesquisadores.

Restrição de atividades não essenciais

O boletim da Fiocruz reforça como forma de combater a covid-19 o que já havia sido pontuado pela Carta dos Secretários Estaduais de Saúde à Nação Brasileira, de 1º de março, na qual se pede maior rigor nas medidas de restrição, conforme a “situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região, avaliadas semanalmente a partir de critérios técnicos, incluindo a restrição em nível máximo nas regiões com ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos”.

Entre as iniciativas listadas por pesquisadores estão a proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional; a suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país; toque de recolher nacional entre as 20h e as 6h da manhã e durante os finais de semana; fechamento das praias e bares, e adoção de trabalho remoto sempre que possível.

Além disso, o boletim também cita a adoção de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual; medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos, e a ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.

Segundo a Fiocruz, as medidas relacionadas para reduzir o contágio pela covid-19 são “extremamente relevantes para redução da transmissão em até 80%”, destacando que elas “demandam certo tempo para que produzam efeitos na redução da transmissão e casos, e por conseguinte na redução das taxas de ocupação de leitos hospitalares”. Para a redução das taxas de transmissão em cerca de 40%, “resultados de pesquisas apontam a necessidade de pelo menos 14 dias de adoção destas medidas, exigindo-se o monitoramento diário para acompanhar seus impactos na redução de casos, taxas de ocupação de leitos hospitalares e óbitos”, diz o boletim.

O uso de máscaras em larga escala também deve ser ampliado e estimulado, de acordo com os pesquisadores da Fiocruz, mesmo para pessoas vacinadas, já que apresenta grandes impactos na redução da transmissão. A entidade destaca que “máscaras de pano multicamadas podem diminuir entre 70%-80% o risco de infecção” e que, “com 80% ou mais da população utilizando máscaras há uma redução muito acentuada”. No entanto, são necessárias a realização de campanhas sobre a importância do uso e também sobre como utilizar, além da distribuição gratuita de máscaras em larga escala.


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