Eleições

Vice do agronegócio com Padilha pode rachar setor fundamental para Alckmin

Para setores mais pragmáticos do PT, política de alianças deve proporcionar diálogo com eleitorado 'um pouco mais conservador que não vota no partido', repetindo estratégia Lula-Alencar em 2002

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Geraldo Alckmin e Alexandre Padilha, que devem polarizar intenções de voto nas eleições paulistas em 2014

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, algumas das principais lideranças do Partido dos Trabalhadores e aliados históricos consideram que a viabilização do segundo turno na eleição para o governo de São Paulo em 2014 depende decisivamente da ampliação das alianças com setores conservadores do estado. O alvo principal é o interior, onde o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que disputará a reeleição, chega a 51% das intenções de voto, segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha no início de dezembro. Em todo o estado, Alckmin tem 43% e, na capital, 36%.

Após a vitória de Dilma Rousseff na disputa pelo Planalto, em 2010, e da retomada do comando da prefeitura de São Paulo por Fernando Haddad, em 2012, as atenções do partido se voltaram para a conquista do Palácio dos Bandeirantes, objetivo até hoje muito distante.

As lideranças mais pragmáticas do PT e Lula devem apostar no agronegócio para ocupar a vice na chapa encabeçada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e tentar superar o favoritismo do tucano ao romper o monopólio de Alckmin em um setor fundamental da economia paulista. A lógica é a mesma utilizada em 2002, quando Lula foi eleito presidente da República tendo o então empresário mineiro José Alencar como vice.

Para o deputado estadual Edinho Silva, presidente estadual do PT até o domingo 8 de dezembro, quando foi substituído pelo ex-prefeito de Osasco Emidio de Souza, sem o chamado pragmatismo é muito difícil superar os 35% a 37% que a legenda conseguiu atingir em algumas eleições e ameaçar a hegemonia tucana de duas décadas.

“O grande desafio do PT é efetivamente ampliar seu eleitorado. E há uma leitura de que é necessário trazermos setores, na política de alianças, que dialoguem com esse eleitorado um pouco mais conservador que não vota no PT”, avalia Edinho. “E aí se trava o debate de um perfil de vice que tenha capacidade de ampliação, principalmente no interior do estado, onde, em muitas regiões, o PT chega a ter dois votos por um negativamente, e em muitas regiões chega a quase três por um.”

Apontado como nome cotado para ser vice de Padilha ou disputar o Palácio dos Bandeirantes pelo PCdoB, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), está fora do páreo, segundo o vereador e presidente do partido no estado, Orlando Silva. “O Aldo decidiu junto com a presidenta Dilma que não será candidato. Seguirá no Ministério do Esporte em 2014. A presidenta pediu, em função da realização do Mundial de 2014. É uma decisão política que já foi tomada entre Aldo e a presidenta Dilma”, garante. A conversa entre a presidenta e o ministro ocorreu em meados de outubro. Dificilmente o PCdoB terá candidato próprio. “Sem o Aldo é difícil”, diz o vereador.

Com ou sem Aldo, a estratégia passa por atrair o setor do agronegócio, do qual o ministro do Esporte angariou simpatias como relator do Código Florestal, e ao mesmo tempo lançar o maior número de candidaturas possível para dividir o eleitorado ao máximo, o que aumenta as chances de segundo turno.

“O presidente Lula me falou uma vez: ‘Temos que ganhar os votos que não temos. Os votos da esquerda nós já temos’”, conta Orlando Silva. “Essa é a lógica. Temos de fazer algum movimento, e eu concordo, para atrair o eleitorado que não temos, senão não vamos disputar a eleição para valer.”

O empresário Maurilio Biagi Filho, do setor sucroalcooleiro paulista, é um nome cotado para representar as forças empresariais na chapa encabeçada por Padilha. Observadores atentos aos “movimentos” políticos no estado não deixaram de notar a filiação de Biagi ao Partido da República (PR), no início de outubro. Presidente do grupo Maubisa, o empresário tem em seu perfil outro dado significativo: é integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República, o chamado “Conselhão”.

O deputado federal Duarte Nogueira (PSDB), de Ribeirão Preto, conhecido representante do agronegócio na política paulista e presidente do diretório tucano de São Paulo, desconversa sobre as movimentações que disputam o voto do setor no interior do estado. “Ouvi alguma coisa na imprensa. Sempre há especulação para gerar notícias e criar fatos”, avalia.

Para ele, os processos decisórios ainda estão “longe”. “As convenções vão acontecer somente em junho. Todas essas estratégias antecipadas podem não se confirmar, porque o cenário da política às vezes é muito dinâmico”, diz Nogueira. “Cada partido constrói as suas alianças em cima de uma estratégia que lhe parecer mais pertinente. Não sei qual vai ser a estratégia do PT. Nós vamos concentrar nossas energias na montagem da nossa aliança em torno do nome do governador Geraldo Alckmin.”

Sem consenso

Mas, do lado do PT, a estratégia está longe de ser consensual. A RBA ouviu de um deputado petista que a aliança com setores conservadores como o agronegócio “é útil para ganhar, mas ruim para governar” e reproduziria em São Paulo uma política de alianças que impede o governo federal de desenvolver políticas mais “à esquerda”. Segundo essa ala descontente, do ponto de vista eleitoral a lógica está certa. Mas, considerando a questão política, é uma solução equivocada. O agronegócio não dá emprego, mas subemprego, dizem os defensores do chamado “PT histórico”.

A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD), reeleita em 2012 em disputa acirrada justamente contra Duarte Nogueira, é apontada como uma solução mais política do que eleitoreira, e mais aceitável diante de uma opção que contemplaria um setor considerado antagônico às bandeiras petistas. A solução Dárcy, que é radialista, agrada devido ao perfil politicamente correto (é mulher) e mais neutro. Contra ela pesa um processo movido pelo Ministério Público Eleitoral, que a acusa de, como prefeita na gestão anterior, ter utilizado servidores comissionados na campanha de reeleição. Seja como for, o que mais incomoda é mesmo a aliança com o agronegócio.

“Não existe um debate específico sobre agronegócio. O que existe é uma leitura de que, para se ganhar o governo de São Paulo, é preciso o PT conseguir 50% mais um dos votos do estado. É difícil distinguir o eleitoral do político”, justifica Edinho Silva, que considera “um equívoco” a avaliação de que a estratégia seja mais eleitoral do que política. “É difícil distinguir o eleitoral do político. Se queremos governar São Paulo, implantar no estado a mesma política transformadora implantada no Brasil, temos que ganhar o governo do estado. E para isso, temos que ampliar eleitoralmente, mas sem abrir mão do nosso projeto.”

O líder do PT na Assembleia Legislativa, Luiz Claudio Marcolino, tem entendimento semelhante. “O PT sozinho não consegue ganhar uma disputa eleitoral no estado de São Paulo. É necessário dialogar com outros segmentos da sociedade. Um governador precisa dialogar com todo o estado de São Paulo”, diz.

“Nosso foco é montar uma estratégia para derrotar os tucanos no estado. Para nós é importante ter múltiplas candidaturas”, acrescenta o comunista Orlando Silva. Nesse contexto, além de Alexandre Padilha, ele cita as possíveis candidaturas de Paulo Skaf, pelo PMDB, e de Gilberto Kassab, pelo PSD, como as que farão parte da estratégia de dividir o eleitorado. “Vemos com bons olhos as candidaturas do Skaf e do Kassab, porque são lideranças que tiram votos do campo de lá, do PSDB.  A primeira questão é estimular essas candidaturas e, no segundo turno, fazer uma aliança mais ampla para derrotá-los.”