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Vannuchi: ao não ouvir as bases, Marina cai em contradição com ‘nova política’

Colunista da Rádio Brasil Atual diz que ex-senadora se portou como cacique ao migrar para o PSB, mas ao menos teve coerência ao rejeitar PPS. Entre Dilma e Aécio, vê o mineiro como maior prejudicado

José Cruz/ABr

Marina se filiou ao PSB no sábado, após sofrer derrota do Tribunal Superior Eleitoral na criação do Rede

São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi, comentarista da Rádio Brasil Atual, afirmou hoje (7) que Marina Silva, ao se filiar ao PSB após sofrer derrota no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na criação do partido Rede, cai em duas contradições, já que sua filiação contraria a retórica de ares novos na política.

“Quando ela fala em uma nova maneira de se fazer política, não tem nada de novo isso, foi uma decisão de cacique, ela não ouviu ninguém. Ela decide tudo sozinha, com dois ou três assessores que nunca divergem, como bem colocou o Alfredo Sirkis, ex-colega de partido”, diz Vannuchi.

O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), um dos articuladores para a criação do Rede, escreveu em seu blog, na sexta-feira, após a derrota no TSE, duras críticas a Marina, afirmando que a ex-senadora tem limitações, e cultiva um processo de decisão “caótico”. Sirkis afirmou também que ela não saberia trabalhar com quem não tem adesão incondicional a ela.

Outra contradição apontada por Vannuchi é a questão ambientalista, que seria a alma política de Marina, já que Eduardo Campos (PSB), provável candidato ao Planalto em 2014, se equivale a Dilma Rousseff como desenvolvimentista, muito voltado para a execução de obras, sem uma atenção especial para a temática ambiental.

Por outro lado, diz Vannuchi, Marina evitou uma incoerência mais grave ao decidir pelo PSB. “Ela foi coerente quando evita se lançar como candidata pelo PPS, de Roberto Freire, que é uma verdadeira sublegenda tucana. Isso seria uma mudança total de lado, e Marina não o fez.”

Chavismo

A ex-senadora disse, em reunião com assessores na madrugada sexta-feira (4) para sábado (5), que se filiaria ao PSB para ser vice de Eduardo Campos na disputa presidencial do ano que vem, e que sua filiação teria como objetivo principal combater o “chavismo” no Brasil. Em entrevista coletiva, a ex-senadora não negou que seja a dona da afirmação. “Se ela fez isso, é o sentimento de desforro, a ideia do ressentimento. Pergunto: cadê o sonho? Porque a ideia de uma nova maneira de política envolve o resgate do sonho, e aí não tem nada de sonho, é voltar para trás”, afirma Vannuchi.

A declaração de Marina teria se inspirado na demora de cartórios eleitorais em validar as assinaturas apresentadas para a criação da Rede – ela não atingiu os 492 mil apoios necessários para obter a validação pela Justiça Eleitoral. “Espero que ela não tenha atribuído o chavismo nem a Lula nem a Dilma, porque se uma pessoa, que durante décadas foi alvo de preconceito e demonização deste tipo começa a fazer o mesmo, criamos um campo de deformação política.”

Previsões

Sobre as previsões que saem do novo cenário, ele afirma que Dilma pode sofrer, em algum grau, um prejuízo, mas que o sofrido por Aécio Neves (PSDB), também provável candidato à Presidência em 2014, será muito maior. “A ponto de rapidamente voltarmos à pergunta se ele não se candidatará ao governo de Minas Gerais, onde provavelmente terá mais chances de sucesso.”

Ele lembrou do desempenho fraco de Aécio nas últimas pesquisas de intenção de voto, e que, no novo quadro, é possível que José Serra tente, mais uma vez, se lançar à disputa pelo Planalto. “Sendo Serra quem é, é inevitável que ele levante a discussão de que, com o novo cenário, ele tem mais chance de ir para o segundo turno que Aécio, para evitar o vexame que seria o PSDB ficar de fora do segundo turno.”

Ainda em relação à reeleição de Dilma, o analista lembrou que tanto Marina Silva como Eduardo Campos são ex-ministros do governo Lula, e o comportamento do PSB na campanha eleitoral também será decisivo para o resultado. “É complicado, porque se forem para o confronto com Lula eles se chocarão com a pessoa que lidera amplamente a aprovação da maioria dos brasileiros mais pobres, que decidem as eleições. E se forem para menções elogiosas a Lula, separando sua figura de Dilma, eles deixam na mão do próprio Lula, como poderoso cabo eleitoral, o poder de decisão final.”