Entre Vistas

‘Tarcísio e Bolsonaro têm o mesmo tipo de prática’, alerta Pedro Serrano a Juca Kfouri

Jurista acredita que Roberto Jefferson foi avisado sobre a operação da PF, que recebeu a tiros. E também suspeita que o episódio em Paraisópolis envolvendo o candidato bolsonarista a governador de São Paulo foi armação

Reprodução/TVT
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Serrano cobra investigação sobre prisão de Jefferson e alerta para os riscos da chegada da milícia em São Paulo, em caso de vitória de Tarcísio

São Paulo – Para o jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o espetáculo da prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, que disparou 50 tiros de fuzil e lançou três granadas contra agentes da Polícia Federal (PF), foi uma espécie de “atentado do Rio Centro“, que acabou “explodindo no colo do presidente Jair Bolsonaro“. Do mesmo modo, Serrano suspeita que o falso atentado contra Tarcísio de Freitas (Republicanos) também se tratou de uma “armação” promovida pela campanha do candidato bolsonarista ao governo de São Paulo. “Tarcísio e Bolsonaro têm o mesmo tipo de prática”, afirmou.

Às vésperas do segundo turno das eleições, Serrano foi o convidado dessa quinta-feira (27) do programa Entre Vistas, da TVT. Ele conversou com o jornalista Juca Kfouri sobre os destinos do país na reta final da campanha e ressaltou às ameaças do bolsonarismo à democracia.

O jurista citou que a PF já encontrou indícios de que o ataque de Jefferson foi planejado e premeditado. Para corroborar a tese de que tudo não passou de uma armação, Serrano cita que os policiais portavam armamentos leves, nem usavam coletes à prova de balas. Além disso, Jefferson nem sequer foi algemado, mesmo após ter atentado contra a vida dos agentes.

Além disso, ele afirmou que a participação do Padre Kelmon (PTB), como candidato à presidente em substituição a Jefferson, foi absolutamente ilegal. Mas o fator principal que leva Serrano a acreditar que se tratou de uma farsa montada foi o fato de Bolsonaro ter designado o ministro da Justiça, Anderson Torres, para negociar com o deputado. Assim, Serrano acredita que a Polícia Federal, ou pessoas ligadas a Bolsonaro, podem ter vazado a operação para o ex-deputado.

Tarcísio e as milícias

Já o caso relacionado a Tarcísio é ainda mais nebuloso. Na semana passada, Tarcísio cumpria uma agenda Paraisópolis, quando agentes da sua campanha se envolveram em um tiroteio, que deixou uma pessoa morta. Um cinegrafista da Jovem Pan, aliada de Bolsonaro, que filmou a troca de tiros, foi coagido por um integrante da campanha de Tarcísio a apagar o material.

Ontem, o cinegrafista pediu demissão, e disse que teme pela segurança da sua família. O integrante da campanha que coagiu o cinegrafista é um agente licenciado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Além disso, a arma que disparou o tiro que matou Felipe Silva de Lima, de 28 anos, não foi encontrada. A investigação do episódio corre em segredo de Justiça.

Para Serrano, o bolsonarismo tem um modo de agir violento, que tenta subverter a ordem constitucional. “Tarcísio não é uma exceção a isso”, ressaltou. Ele é integrante e um dos principais líderes desse movimento”. Nesse sentido, o jurista afirma que a eventual vitória de Tarcísio deve significar a chegada das milícias em território paulista.

“Paulistas e paulistanos, tratem de se habituar: se Tarcísio ganhar, nós podemos virar um outro Rio de Janeiro. Vamos começar a ter bala e tiro na nossa porta. Porque é isso que pode acontecer, quando chegar a milícia aqui e conflitar com o PCC”, alertou.

Fake news e abuso de poder

Voltando à disputa nacional, Serrano avalia como positiva a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no combate à máquina de fake news bolsonarista. Entretanto, ele afirma que a Corte Eleitoral “claudicou”, ao não coibir abusos de poder, econômico e político, praticados por Bolsonaro e sua campanha.

“Não tem sentido se produzir uma política pública de dar dinheiro para o povo em época de eleição. É um ilícito, é inconstitucional. E mais do que isso, caracteriza crime eleitoral”, afirmou ele, citando o aumento do Auxílio Brasil durante o período eleitoral. Ou ainda a utilização da Caixa Econômica Federal oferecendo empréstimo consignado aos beneficiários do programa, outra forma de compra de votos, segundo ele.

Do mesmo modo, Pedro Serrano ressaltou que Bolsonaro abusa da utilização de espaços públicos em atos de campanha, e citou o discurso do presidente na Assembleia-Geral da ONU, no mês passado. “Até na ONU, em que o Brasil deveria falar como um Estado, Bolsonaro vai para lá falar como um partido. Quer dizer, se utiliza de órgãos públicos para finalidades político-eleitorais. Isso tudo sempre foi ilegal no Brasil. Vamos ser objetivos”.

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