Serra e Haddad concordam sobre renegociar dívida de SP – e só isso

Concordâncias terminam por aí. Evento promovido pela Rede Nossa São Paulo marcou antagonismo de projetos para a cidade

Para Serra, São Paulo “está sendo extorquida” pelo governo federal (Foto: Danilo Verpa. Folhapress)

São Paulo – Divergindo em quase tudo nos últimos três meses, os candidatos do PT e do PSDB à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad e José Serra, enfim encontraram um ponto de concordância: o governo federal está levando vantagem em relação ao pagamento da dívida da cidade, que chega a R$ 67 bilhões, segundo o balanço geral de 2011 da prefeitura. Durante sabatina promovida hoje (22) pela organização não-governamental Nossa São Paulo, o petista disse que a “União está enriquecendo às custas do município”. O tucano foi ainda mais duro e afirmou que “São Paulo está sendo extorquida, está financiando o governo federal”. Ambos os candidatos defendem a renegociação da dívida. 

Mas as concordâncias param por aí. Ao longo de quase uma hora e meia que cada um teve para responder às perguntas feitas pelos grupos de trabalho que compõem a ONG, os candidatos apresentaram propostas antagônicas para as áreas de habitação, mobilidade, meio ambiente, assistência Social e segurança, trabalho, saúde e esporte, educação e cultura, governança, subprefeituras e transparência.

Haddad criticou a presença de coronéis em 30 das 31 subprefeituras da administração de Gilberto Kassab (PSD) e afirmou que romperá com o modelo atual de gestão das estruturas locais. O petista disse que os critérios dele para a seleção dos subprefeitos será baseado em compromisso com projeto da gestão, conhecimento da região, capacidade e liderança na comunidade. O candidato criticou o fato de a gestão atual ter trazido pessoas de cidades do interior para administrarem as subprefeituras.

Haddad afirmou que vai mudar o critério de nomeação dos subprefeitos, hoje coronéis da PM (Foto: Paulo Pinto. Campanha Haddad)

Serra defendeu a presença dos coronéis e disse que na gestão de Marta Suplicy (PT) havia um loteamento nesses órgãos. “Meu compromisso é não lotear”, afirmou. “Muita gente critica que tem coronéis. O que eu tenho dito é que vou nomear gente competente”. Ele também garantiu que irá reestruturar o atual modelo de administrações locais com a ajuda de empresas privadas que trabalhariam gratuitamente. “Nós vamos botar duas ou três empresas consultoras, de gente boa, comprovada. Que virão de graça pelo movimento Brasil Competitivo para redesenhar e dar eficiência para elas. Nós queremos levar padrão Poupatempo para todas as subprefeituras”.

Em relação à saúde, Serra apresentou uma proposta que não consta em seu plano de governo, a criação de uma fila única de atendimento, e afirmou que a cidade tem equipamentos suficientes para atender bem a população, mas parte deles estariam ociosos. Ele também voltou a afirmar que Fernando Haddad é contra as Organizações Sociais de Saúde (OSS), apesar da negativa do candidato petista. “Eu quero dizer que sim, tem ameaças hoje no programa do Fernando Haddad, ele disse aqui o contrário. Mas tem posição partidária para acabar com a titularidade dessas instituições nos hospitais e nos programas de saúde da família.”

Antes, Haddad já tinha negado que iria romper com o modelo de parcerias público-privadas. Para o petista, o problema é de gestão. “As OSS recebem 40% da verba do orçamento de saúde. Mas a população não consegue ver a qualidade do serviço prestado. Nós vamos pegar as orientações do tribunal de contas e garantir que esse recurso seja bem utilizado”, disse Haddad.

Irritação

Serra voltou a ser rude com interlocutores no incio da tarde de hoje (22). Dessa vez, além de um repórter de um jornal comunitário da zona leste, a representante do grupo de trabalho da Rede Nossa São Paulo foi interrompida abruptamente pelo candidato, que classificou a pergunta feita por ela sobre políticas culturais do município como “afirmação totalmente gratuita”. “Eu gostaria que você aprofundasse esse ponto, demostrando por que não existe uma política de cultura. Com pontos um, dois, três. O que está errado etc. Mas com profundidade. O que tem errado com a Virada Cultural? O que tem errado com os museus etc”. A representante da rede só pode concluir a pergunta, que também havia sido feita ao candidato petista Fernando Haddad depois da intervenção do mediador, o jornalista Minton Jung.

O tucano defendeu a Virada Cultural dizendo se tratar “da coisa mais democrática” que conhece. Ele afirmou que irá reforçar o evento, definido por ele como a “inovação mais espetacular” na área da cultura. Depois leu promessas que constam em seu plano de governo para a área, como a criação de museus e centros culturais na periferia.

Já para o candidato petista, a cidade vive hoje a “não política cultural”. O candidato afirmou que a cultura é uma forma de integrar a cidade e se comprometeu com a criação do Fundo Municipal para a área, além de investimentos em centros culturais nas periferias e na formação profissional do artista.