GDias na CPMI

Senadora Eliziane Gama exibe vídeos que confirmam omissão da PM do DF no 8 de janeiro

Em depoimento do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência à CPMI, governistas desmontam “tese” bolsonarista de que vândalos eram “infiltrados”

Geraldo Magela/Agência Senado
Geraldo Magela/Agência Senado
Eliziane: “Uma hora antes das manifestações, olha a praça dos Três Poderes, não tinha um policial militar"

São Paulo – A relatora da comissão parlamentar mista do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), exibiu nesta quinta-feira (31) vídeos que mostram a ausência de agentes da PM do Distrito Federal na invasão da sede dos Três Poderes. As imagens, captadas por câmeras estrategicamente distribuídas pelo entorno, registraram os horários em que foram feitas. “Uma hora antes das manifestações, olha a praça dos Três Poderes. Não tinha um policial militar, e os gradis estavam lá”, apontou ela, durante sua inquirição.

“Às 14 horas em ponto, nenhum policial militar. Os manifestantes já estavam lá na frente, na altura do MJ (Ministério da Justiça). Às 14h30, nenhum policial militar. Então veja, gente, pelo amor de Deus, as imagens estão aqui, o fato está aqui diante de nós”, disse Eliziane, em sessão da comissão que ouviu o general Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.

Eliziane citou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) segundo a qual, mais do que conivência, houve participação planejada e ativa do alto comando da PM do DF no ataque a Brasília. A denúncia embasou a Operação Incúria no dia 18 de agosto, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que prendeu preventivamente sete oficiais da PM (leia aqui a íntegra da Denúncia da PGR/MPF).

Segundo Eliziane Gama, a omissão da PM foi “dolosa” (intencional) e “muito clara”, e os fatos estarão em seu relatório final, segundo ela.

Imagens não mentem

Durante a sessão da CPMI foi rodado também um vídeo que mostra o major do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete presidencial. No dia 8 de janeiro, o major era coordenador de segurança de instalações dos palácios presidenciais. Formado na Academia Militar de Agulhas Negras, ele foi nomeado ao GSI em 2020 pelo general Augusto Heleno, conhecido bolsonarista.

José Natale aparece no local circulando amistosamente entre os criminosos, aos quais oferece água. Não toma nenhuma atitude para prender os vândalos, que colocam garrafas de água sobre a mesa de onde haviam derrubado o relógio do século 17, do francês Balthazar Martinot, relíquia doada pelos franceses a D. João VI destruída pelos bolsonaristas.

Cerca de 20 minutos após Natale oferecer água aos vândalos, o general GDias, como é conhecido no meio militar, aparece no terceiro andar. Ele afirmou em depoimento à PF, em abril, que não prendeu ninguém porque seriam detidos assim que descessem ao segundo andar. Mas isso só aconteceu mais de uma hora depois, quando PMs conduzem invasores presos para fora do Palácio.

“Por que a gente não vê ação mais enérgica de sua parte, que está ali com certa tranquilidade?” inquiriu a senadora Eliziane ao general, que após o 8 de janeiro foi criticado por sua atitude considerada passiva ante os criminosos.

“Emprego parcelado da força”

“Fui treinado a vida toda para, em momentos difíceis da vida, gerenciar as crises. A senhora não gerencia uma crise apagando o fogo jogando gasolina, gerencia conversando e retirando as pessoas”, respondeu o general. Segundo ele, “há necessidade do emprego parcelado da força”, e as prisões devem ser realizadas prisões quando necessárias.

Ele acrescentou que, no início da invasão, havia 135 homens em um  prédio de 36 mil metros quadrados. E que os reforços chegaram apenas às 15h40, 16h40 e 17h10. “No início não dava pra fazer prisões, tinha que gerenciar a crise, evacuar o máximo de pessoas para não haver depredações, mortes e feridos. Não adiantava sair batendo nas pessoas. Depois as prisões foram feitas no segundo andar”, explicou.

Para o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG), as imagens captadas no 8 de janeiro desmentem a “tese” bolsonarista de que os criminosos seriam “infiltrados”. A alegação é absurda, na opinião do parlamentar, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia tomado posse e não tinha interesse em crise e violência.