Manaus à direita

Bolsonarista termina em quinto lugar em Manaus, mas ‘populismo de direita’ segue ao 2º turno

Para Milton Pomar, as candidaturas de Amazonino Mendes (Podemos) e David Almeida (Avante), que disputam a prefeitura de Manaus, representam o mesmo projeto de direita

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Amazonino Mendes (Pdemos) e David Almeida (Avante) chegaram ao segundo turno com 23,91% e 22,36% dos votos, cada um, respectivamente

São Paulo – Em Manaus, onde o candidato à prefeitura apoiado por Jair Bolsonaro, o Coronel Menezes (Patriotas), não decolou, ainda é um projeto de direita que deverá assumir a cidade. A capital do Amazonas segue para o segundo turno com as candidaturas de Amazonino Mendes (Podemos) e David Almeida (Avante), que representam a mesma “lógica populista de governo de direita”. 

É o que avalia o mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Milton Pomar. Em entrevista à Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, ele destacou o avanço desse projeto mesmo após a derrota de Menezes, que teve 11,23% dos votos.

“Nessa conjuntura, tanto Amazonino como David podem ganhar, porque não faz diferença. A diferença é que o Amazonino é muito mais antigo, mas o David é de certa forma cria dele, com toda uma lógica populista de governo de direita”, garante o analista. 

Amazonino e a imprensa

À esquerda, o candidato Zé Ricardo (PT) chegou mais próximo da disputa do segundo turno, ocupando o terceiro lugar com 14,28% dos votos. Pomar acredita que o trabalho da mídia tenha contribuído para o resultado. De acordo com ele, desde o início da corrida eleitoral, o noticiário local, usando de pesquisas, já apontava a vitória de Amazonino. Aos 80 anos, ele é uma figura conhecida da política brasileira. Já foi três vezes prefeito de Manaus, quatro vezes governador e exerceu um mandato como senador. E registrou, nestas eleições, 23,91% dos votos, terminando o primeiro turno em primeiro lugar.

“Esse recado, propagado durante os dois meses de campanha de uma maneira absurda, foi propaganda subliminar. Foram criando no eleitorado aquela convicção ‘olha, não adianta votar em A, B ou C porque quem vai ganhar é o Amazonino.”

O candidato do Avante, contudo, também não deixa de ser um político tradicional. Foi deputado estadual por três vezes e chegou a ser governador interino depois da cassação do mandato do governador José Melo. No domingo (15), Almeida ficou em segundo lugar, com 22,36% dos votos. Mas o analista acredita que ainda assim o candidato do Podemos tenha uma preferência maior por parte da mídia. 

Legislativo à direita em Manaus

A Câmara dos Vereadores de Manaus também seguiu a disputa pelo Executivo e, entre as 41 cadeiras, foram eleitos quatro representantes do Avante e quatro do PSC, enquanto outros partidos do mesmo espectro político de direita, como PMN, Podemos, Patriota e Republicanos, conquistaram as segundas maiores bancadas, com três vagas cada um.

Principal centro financeiro da região Norte do Brasil, Manaus, por outro lado, foi a primeira cidade a registrar um colapso no sistema de saúde em função da pandemia de covid-19. A cidade, segundo Milton Pomar, abriga ainda uma população de 25 mil indígenas que foram duramente atingidos pelo novo coronavírus e vivem um descaso governamental. 

“Eles têm uma situação aqui em Manaus, quase de párias. Como eles não estão mais em suas terras, nas reservas, não são mais vistos como indígenas, mas também não são ‘cidadãos da cidade’, não têm direitos e acessos. Eles vivem um drama, estando numa cidade absurdamente grande, pobre e que eles não têm como se sustentar. É uma situação terrível”, comenta o analista. De acordo com ele, o município que gera muito riqueza é também bastante desigual. Pesquisa do IBGE, divulgada em maio, mostrou que o desemprego em Manaus foi o maior entre as capitais do país.

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção