"Valiosa"

Segundo estojo de joias foi recebido por Michelle Bolsonaro no Alvorada, diz jornal

A partir de agora, a ex-primeira-dama é citada formalmente nas investigações e é provável que seja chamada a depor

Reprodução/Youtube
Reprodução/Youtube
Na tarde desta terça-feira, Michelle foi questionada por jornalistas sobre o assunto em Brasília

São Paulo – Uma servidora do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) – que presta serviço ao Gabinete Pessoal da Presidência da República – confirmou que “uma caixa com as joias já estava na posse da (então) primeira-dama”, Michelle Bolsonaro. Portanto, ela recebeu em mãos, no fim de 2022, o segundo kit de joias enviado pelo governo da Arábia Saudita, que continha um conjunto de peças masculinas. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.

O estojo, de cinco itens, incluía um relógio da marca suíça Chopard avaliado em cerca de R$ 800 mil. O modelo, conhecido como L.U.C. Tourbillon Qualité Fleurier Fairmined, teve apenas 25 unidades produzidas em todo o mundo. As outras quatro peças são uma caneta, um anel, um par de abotoaduras e um rosário, todos em ouro cravejado de diamantes. Ao todo, o mimo é avaliado em R$ 2,5 milhões.

Segundo a servidora citada pelo jornal, o coordenador-geral do GADH, Erick Moutinho Borges, informou que chegaria ao departamento um conjunto de joias para ser incorporado ao acervo do então presidente Jair Bolsonaro. No início do escândalo, o agora ex-mandatário afirmava que nunca pedira nada e desconhecia qualquer presente.

Com a nova informação revelada pela reportagem, a partir de agora a ex-primeira-dama é citada formalmente nas investigações e provavelmente será chamada a depor.

O segundo conjunto de joias, masculinas, entrou ilegalmente no país trazido pelo ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Já o primeiro estojo, de peças femininas, avaliado em R$ 16,5 milhões, foi apreendido pela Receita Federal na alfândega, embora, como amplamente divulgado, Bolsonaro tenha tentado recuperar até as vésperas de seu embarque para Orlando, dia 30 de dezembro.

Quem, eu?

Na tarde desta terça-feira, Michelle foi questionada sobre o assunto em Brasília por jornalistas ao chegar a evento do PL (Partido Liberal) no Congresso. Irônica, ela negou ter recebido a caixa em mãos, mas admitiu que os objetos chegaram ao Palácio da Alvorada, onde morava com o marido.

“Foi tudo feito pelo trâmite administrativo”, disse. Questionada se o material foi entregue em mãos, Michelle respondeu: “Eu não, (a caixa) estava no Alvorada. Ela é passada pela administração”. Diante da insistência de uma repórter, desconversou:

– Não, ela estava no Alvorada. Eu morava onde? No Alvorada, não é verdade?

Segundo o Estadão, conforme declarou a servidora à Polícia Federal (PF), o pastor Francisco de Assis Castelo Branco, braço direito de Michelle e uma espécie de “síndico” do Alvorada, teria feito contato com a servidora do GADH, à qual teria dito que “a caixa com as joias já estava na posse da primeira-dama, Michelle Bolsonaro”.

Os advogados do ex-presidente já devolveram dois estojos contendo joias recebidos de representantes do governo saudita. Há ainda um terceiro conjunto, avaliado em R$ 500 mil. No total, os três somados chegariam a R$ 19,5 milhões.

O mais valioso continha, que continha as joias femininas que não chegaram a Michelle, foi entregue pela Receita à PF no final de março e levada ao Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília.

Bento Albuquerque investigado

Por sua vez, o ex-ministro Bento Albuquerque passou formalmente da condição de testemunha à de investigado no inquérito da PF que apura a entrada não declarada das joias no Brasil.

Ainda no aeroporto, em 26 de outubro de 2021, Albuquerque disse aos auditores da Receita Federal que a caixa de R$ 16,5 milhões tinha como destino ser entregue a Michelle Bolsonaro. “Isso tudo vai entrar lá pra primeira-dama”, disse ele.