Girar a roda

Retomar obras paradas e moradias populares para criar emprego, propõe Haddad

Candidato do PT também detalhou propostas para a cultura, agricultura e o combate as drogas. E disse que é hora de se livrar do Centrão

Reprodução/Youtube/g1
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Haddad afirmou que São Paulo "precisa se modernizar" nas agendas ambiental, educacional, de Segurança, dentre outras áreas

São Paulo – Em entrevista ao portal g1 nesta terça-feira (23), o candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, afirmou que vai retomar obras paradas como forma de combater o desemprego no estado. De acordo com o IBGE, 9,2% da população paulista está desocupada, e outros 31% estão na informalidade. Outra medida para a criação de vagas de trabalho é a retomada da construção de moradias populares, nos moldes do programa Minha Casa Minha Vida.

“Tem mais de 500 obras paradas e mais de 300 obras atrasadas no estado de São Paulo”, destacou o candidato. “O Minha Casa Minha Vida foi um grande empregador, porque estava produzindo milhões de moradias no Brasil. Só em São Paulo foram entregues, em quatro anos, 130 mil unidades habitacionais. E esse programa está praticamente extinto. Vamos retomar, com subsídios para famílias de zero a três mínimos. E com a vantagem de poder inclusive emprega-las, em regime de associação ou de mutirão”, afirmou.

Também como forma de aquecer a economia do estado, o candidato propõe reajustar o salário mínimo regional para R$ 1.580. “Não é favor nenhum”, afirmou. “O (ex-governador) Doria e o (atual governador) Rodrigo (Garcia) deixaram o salário mínimo congelado dois anos durante a pandemia, enquanto o preço dos alimentos disparou. Somos o terceiro produtor de alimentos do mundo. Por que as pessoas estão passando fome e não estão conseguindo fazer o mercado? Porque o salário está defasado”.

Além disso, ele pretende fazer uma política de valorização do salário mínimo regional atrelada à da União. “Vamos ver quem vai ganhar o pleito presidencial, para não descasar as políticas”.

Braços abertos e combate ao tráfico

Haddad também afirmou que pretende levar o programa Braços Abertos, de acolhimento e tratamento para dependentes químicos, em todas as regiões do estado “que tenha concentração de consumo de drogas em área pública”. Ele explicou que o programa é baseado em três “Ts”: teto (moradia), tratamento e trabalho.

“Tem três caminhos para o usuário: Quando ele põe em risco a vida dele, ou a de alguém, é a internação compulsória na forma da lei, com laudo médico; Quando ele pede a internação e um médico atesta que é viável; Ou a chamada redução de danos”, explicou. “Para cada usuário, uma metodologia adequada. A que dá mais certo, proporcionalmente, é a redução de danos.”

Ele classificou a aplicação do programa Braços Abertos, na região da Luz, na capital paulista, como bem-sucedido. Disse que só começou a dar errado quando a Polícia Militar abandonou o policiamento ostensivo na região. “Eu falei, ‘vocês vão sair de lá e o tráfico vai voltar’. E foi o que aconteceu”, criticou.

O candidato também disse que não é favorável à “saidinha temporária” para todos os tipos de presos. “. O sistema carcerário moderno é aquele que trata desigualmente os desiguais. (…) Vamos tratar de acordo com a gravidade do crime”. Além disso, ele afirmou que o sistema prisional sofre de problemas de gestão, que resultam na superlotação das unidades prisionais. Ele destacou o excesso de presos provisórios e o atraso nos julgamentos. Mas também defendeu a aplicação de penas alternativas para crimes de baixo teor ofensivo, como furto de baixo valor, por exemplo.

Interiorização da cultura

Na área da Cultura, Haddad propõe levar experiências bem-sucedidas adotadas na capital para as demais regiões do estado. Ele disse, por exemplo, que pretende capitalizar a SP Cine, para disponibilizar editais de fomento à produção audiovisual para outras áreas do estado. E replicar o modelo para as outras “linguagens culturais”. Segundo ele, política cultural não é simplesmente “contratar shows”.

“Cada linguagem cultural tem que ter o seu edital. E tem que ter um olhar direcionado para o interior. Vamos parar de pensar o interior como área para produzir boi e soja. Não. O interior pode produzir cultura, conhecimento, pesquisa”, afirmou.

Haddad e a agricultura

Haddad também afirmou que é falsa a dicotomia que opõe o agronegócio aos empreendimentos da agricultura familiar. Nesse sentido, destacou o aumento da produção agrícola durante os anos em que o PT comandou o governo federal. “E não tinha essa coisa de fazer uma opção: ou o agricultor familiar ou o agronegócio. O Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados, será que a gente não terá suficiente para plantar feijão?”

Ele classificou apenas como “ideológica” a resistência ao PT em setores do agronegócio. Parte disso, segundo o candidato, com base em “boataria de internet”, como, por exemplo, de que o MST invadiria propriedades produtivas. “Qual a fazenda produtiva que foi invadida?”. Em caso de invasão, ele prometeu “aplicar a lei”, mas ressaltou: “Não vou ficar jogando bomba.” Como modelo, citou que, na capital paulista, em propriedades com ocupação “consolidada”, ele acabou baixando decretos de interesse público, indenizando o proprietário.

PSDB e a relação com o Centrão

Sobre política partidária, Haddad disse que o PSDB “mudou demais” a partir do chegada de Doria. De origem socialdemocrata, a legenda foi “empurrada” para a direita pelo ex-governador. “O Doria empurrou o partido mais para a direita, apoiou Bolsonaro com muito vigor em 2018. Trouxe o Rodrigo Garcia do DEM para o PSDB, o que acabou ocasionando a saída do Alckmin para o PSB.”

Além disso, Haddad afirmou que, caso eleito, pretende governar sem o Centrão. O bloco de partidos, formado principalmente por PP, PL e Republicanos, é conhecido pelo histórico de fisiologismo. No entanto, ele classificou esse grupamento político como “o grande mal” do país. Nesse sentido, disse que pretende governar com os seis partidos que estão na sua coligação – PT, PSB, PCdoB, PV, Rede e Psol. E “gastar um pouco mais de tempo” para ampliar a base de sustentação, em vez de se aliar a partidos fisiológicos.

“Se eu puder isolar o Centrão, vou isolar. Não suporto mais o Centrão. O Centrão está destruindo esse país. Prejudicou o governo FHC, prejudicou o governo Lula o quanto pôde. Hoje o Centrão é o governo Bolsonaro. Chegou o momento da gente se livrar dessa turma. Deixa eles na oposição. Eles no governo, é um estrago medonho”.