Aliança

PSB consolida Marina Silva como vice na chapa de Eduardo Campos

Partido caminha para buscar a transferência de popularidade da ex-senadora para o cabeça da chapa. Em evento dupla promete campanha sem ataques pessoais e critica o governo Dilma

Sérgio Lima/Folhapress

Campos e Marina confirmam chapa e tentarão nacionalizar nome do pernambucano

Brasília – O PSB lançou, nesta segunda-feira (14), a pré-candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e a ex-ministra Marina Silva, respectivamente, à presidência e vice-presidência da República. O anúncio era esperado, embora o fato de Marina estar à frente de Campos nas pesquisas proporcionasse apostas numa possível surpresa. A ex-ministra tratou de fazer um discurso para justificar os motivos que a levaram a aceitar ser vice e não a cabeça de chapa.

Candidata derrotada em 2010, mas com nada desprezíveis 20 milhões de votos que a projetaram nacionalmente, a ex-senadora aparece com 12% de intenção de votos na última pesquisa do Datafolha; Campos, com 8%. Mesmo assim, discursou em tom de “momento de união”, não de divisões. E enfatizou que não poderia rejeitar o convite apenas por uma questão de vaidade. “Estou aqui para me colocar lado a lado, vamos andar pelo Brasil inteiro, afirmar o Brasil que queremos. Não vamos dividir e sim unir. Não é para separar, mas encontrar, buscar o debate”, repetiu-se.

Marina pediu aos presentes que pesquisassem bem a vida dos candidatos em quem pretendem votar, para que “ajudem a eleger pessoas de bem” e destacou que o PSB pretende fazer uma campanha sem ataques pessoais. Ao mesmo tempo, ao falar sobre o partido que tentou criar e não conseguiu, o Rede Sustentabilidade, não deixou de escapar sua mágoa com o PT. De acordo com Marina Silva, a Rede, embora não tenha sido formalizada, por não alcançar a representatividade mínima exigida pela Justiça Eleitoral, já é um “partido de fato”. Ela lembrou sua condição religiosa, como evangélica, e assegurou que não transformará os palanques em púlpito, nem usará a igreja evangélica para pedir votos.

‘Realinhamento’

Eduardo Campos foi mais incisivo. Afirmou que o desenvolvimento do país nos últimos anos se deve a um conjunto de transformações que aconteceram “conquista por conquista”, atrelados a processos de “contínua renovação”. O ex-governador e ex-ministro da Ciência e Tecnologia afirmou que a renovação política levou à estabilidade econômica, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e à inclusão social, no governo Lula (PT), mas esbarrou na gestão da presidenta Dilma Rousseff, quando então ficou estancada.

“Esse projeto de transformações ficou estancado a partir de 2010, não se discutiu mais o Brasil. Era tudo ou nada”, criticou. De acordo com Campos, o Brasil “parou” no governo Dilma, e haveria hoje, no país, “um clamor coletivo” por novas respostas. “São as demandas de quem não se contenta meramente em sair da linha da pobreza. O Brasil perdeu seu rumo estratégico. Disse que iria para um lado e foi para outro. Foi perdendo seus fundamentos macroeconômicos na inclusão social. Não podemos deixar o povo brasileiro desanimar da nossa luta”, completou.

Alternância

O evento contou com a participação de partidos que apoiam a chapa – como PPL e PPS – e até mesmo de políticos de partidos não alinhados com ela. Foi o caso dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Cristovam Buarque (PDT-DF). “Não se faz democracia sem alternância, mas também não se faz alternância para trás. Eduardo e Marina são a alternância para a frente”, disse Cristovam.

Roberto Freire, presidente nacional do PPS, acentuou que a decisão de Marina Silva traz para a aliança “algo difícil de encontrar”. “Ela qualifica a chapa e isso é muito bom”, ressaltou.

O escritor Ariano Suassuna, que foi de Pernambuco a Brasília apenas para o evento – superando, assim, o seu famoso pânico de viajar de avião – disse que considera Eduardo Campos o homem mais brilhante que ele já conheceu. Amigo de longa data e companheiro de legenda e luta política do avô do ex-governador, o político Miguel Arraes, Suassuna defendeu que é preciso ser feito o que chamou de “esforço”, para levar o país a conhecer o candidato socialista.“Precisamos mostrar quem é Eduardo Campos, o que faz e como faz. Eduardo decepciona ao contrário. Eu esperava que ele fizesse 70, mas ele fez 120. O Nordeste já sabe e espero que o Brasil o conheça”, frisou.

Num dos momentos mais inflamados de sua fala, o escritor disse que Eduardo e Marina são exatamente o que o país precisa para seguir adiante e pediu: “Chega de eleição onde a disputa é do presente contra o passado. Agora, é presente contra o futuro”.

O evento teve apresentação do pianista Arthur Moreira Lima, na abertura, declamações de versos e declarações de artistas, como o poeta Antonio Marinho e o ator global Marcos Palmeira. Ao final, Campos e Marina abriram espaço para responder a perguntes de internautas.

A estratégia dos socialistas é fazer com que, consolidados os nomes, tenha início a fase de corpo a corpo com objetivo de permitir a transferência de votos de Marina. E que o candidato do PSB passe a ficar mais conhecido no Sudeste. Campos, inclusive, já transferiu residência para São Paulo, onde está sendo instalado o seu comitê central de campanha.