Professores da USP defendem discussão de projeto de país entre candidatos

São Paulo – As unidade em torno da candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República precisa ser garantida na visão de professores e integrantes de movimentos da sociedade […]

São Paulo – As unidade em torno da candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República precisa ser garantida na visão de professores e integrantes de movimentos da sociedade civil reunidos ato em São Paulo. Um ato nesta sexta-feira (8) na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, indicou a existência de um movimento que tenta inviabilizar a continuidade do projeto iniciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso, eles defendem que a hora é de debater as diferenças de visões de Brasil colocadas na disputa.

Para eles, de um lado, está a candidatura governista, que representa desenvolvimento econômico, inclusão social e respeito aos anseios da sociedade. De outro, a avaliação é de que José Serra (PSDB) significaria a volta de políticas que favorecem os mais ricos e impossibilita a sociedade civil de participar dos debates.

Alysson Mascaro, professor de Direito Político e Econômico da faculdade,  lembrou que atualmente utiliza-se o Judiciário para promover a manutenção das estruturas existentes. “Todas as vezes em que os pobres do Brasil se levantaram, pedras voaram contra eles”, lamenta.

Marilena Chauí, filósofa e professora titular da USP, entende que este começo de segundo turno, pautado por discussões morais polêmicas, favorece Serra à medida em que diminui a importância da discussão de visões de país. “É evidente que José Serra não tem projeto de Brasil. Isso ficou claro. Começou a campanha pela crítica dos programas sociais e terminou defendendo a continuidade dos programas sociais.”

Outro exemplo indicado é o do salário mínimo. Serra promete, se eleito, elevar o piso nacional já no próximo ano a R$ 600. A avaliação dos professores é de que a proposta evidencia a necessidade de uma comparação entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso. Na atual gestão, os participantes do ato lembraram a  criação de uma política de valorização do salário mínimo com um padrão para garantir aumento real todos os anos – com a soma o índice de inflação do ano anterior mais o crescimento da economia do país de dois anos antes. No governo FHC, os aumentos do mínimo eram definidos anualmente sem mecanismos negociados com sindicalistas.

“O governo Lula é o governo da concretização da Constituição. Da superação do subdesenvolvimento”, acredita Alessandro Octaviani, professor da Faculdade do Largo São Francisco. Um dos organizadores do ato, ele pondera que existe um grande avanço na consolidação dos direitos constitucionais básicos ao longo da gestão atual e entende que seria um erro interromper essas conquistas.

Gilberto Bercovici, titular de Direito Econômico e Economia Política, considera que não se trata de conservadorismo, mas de forças reacionárias que querem voltar ao poder para promover o retorno ao status anterior. O professor citou uma “nuvem de gafanhotos” que atacou o patrimônio público, uma referência às privatizações promovidas durante a década de 1990. “Esse grupo tenta a volta ao poder para terminar o desmonte do Estado”, acusa.

João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, pensa que é hora de lembrar como os movimentos sociais eram criminalizados no governo FHC. Para ele, o voto em Dilma no segundo turno é a reafirmação do compromisso nas lutas populares. “O momento não é sobre estarmos do lado de Dilma ou do lado de Serra. Mas ter claro que estamos a favor do trabalhador”, sugeriu.

Alexandre Pariol Filho, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, fez eco às críticas. Ele ponderou que não é preciso voltar a 2002 para saber como o PSDB trata os trabalhadores, bastando estudar como foi o governo Serra em São Paulo. Durante a gestão do atual candidato, a Polícia Militar invadiu o campus da Cidade Universitária e reprimiu manifestantes, algo que não ocorria desde os tempos da ditadura militar (1964-85). O próprio prédio da Faculdade de Direito foi invadido. E professores da rede básica estadual sofreram ataques com bombas de efeito moral e balas de borracha durante manifestação.

“Precisamos enfatizar para as pessoas qual o verdadeiro significado de democracia”, finaliza Marilena Chauí.