NO SENADO

PMDB mantém Renan na liderança e quer menos conflitos entre ele e Temer

Senador falou em “humildade” e “conciliação” e já tinha dado acenos ao Planalto ao elogiar novo ministro da Justiça. Temer tenta reduzir crise com alagoano

Jane de Araújo/Agência Senado

Renan: líder do PMDB pediu a colegas para que o mantivessem no cargo, prometendo ambiente menos hostil

Brasília – A bancada do PMDB no Senado decidiu há pouco, por meio de uma reunião, manter o senador Renan Calheiros (AL) na liderança da legenda na Casa, mas o aceno principal já tinha sido dado dias antes, dentro do clima de “morde e assopra” que sempre fez o estilo do senador alagoano. Renan continua líder, apesar de ter dado declarações tidas como embaraçosas para o governo nos últimos dias, ter sido contra a tramitação das reformas trabalhista e da Previdência e ter trocado cadeiras destinadas a peemedebistas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Mas, em compensação, ele ficou de adotar um tom mais conciliador junto aos colegas e ao Executivo.

A informação foi repassada aos jornalistas oficialmente pelos senadores Raimundo Lira (PMDB-PB) e Hélio José (PMDB-DF), ao final da reunião da bancada. Segundo Lira, os parlamentares chegaram a discutir a possibilidade de achar um consenso, de forma a fazer com que Renan continuasse na liderança e um dos vice-líderes também se manifestasse na defesa das matérias de interesse do governo no plenário. Isto porque Renan possui liderança entre os pares, e há, entre peemedebistas, parlamentares que temem muito mais contrariar o seu líder do que o presidente da República.

Apesar disso, a postura de Renan, em tom mais afável, ajudou a levar ao entendimento de que não seria preciso adotar a estratégia. O clima de divergência entre Renan e o Planalto vinha levando a uma situação desconfortável tanto para o senador como para o presidente Michel Temer. A tentativa de reaproximação começou a ser observada a partir do último final de semana. Primeiro, devido à decisão de Temer de colocar no ministério da Justiça o então ministro de Transparência, Torquato Jardim.

Além de ser próximo de Jardim, o senador nunca engoliu a ida do deputado Osmar Serraglio para a pasta, com quem nunca se deu. Como uma espécie de resposta ao “agrado” do presidente, Renan Calheiros declarou, ontem, que considera Jardim um excelente nome para ocupar a Justiça e suspendeu disparos de sua metralhadora giratória verbal, como têm sido chamadas suas declarações pelos colegas.

Como outro sinal de que tentará buscar uma trégua com o presidente e sua equipe, o líder do PMDB no Senado também pediu a colegas, no início da manhã, para que o mantivessem no cargo, prometendo tornar o ambiente menos hostil em relação ao governo.

‘Humildade e conciliação’

Em entrevista, assim que chegou ao Senado, Renan Calheiros disse que é preciso ter “humildade” e que a bancada do PMDB precisa analisar quem tem mais condições de comandar o partido na Casa, neste momento. “Se for eu, eu não tenho o que fazer,  topo o desafio. Se não for, acato a decisão a ser tomada pela legenda”, afirmou.

Entre os peemedebistas que tentavam tirá-lo da liderança – que embora em reservado, se sabe que estariam sendo capitaneados por Romero Jucá (PMDB-RR) a pedido do Palácio do Planalto – o discurso não era propriamente para retirar Renan da liderança, mas avaliar a postura do senador e evitar que ele volte a criticar o Executivo e o próprio presidente.

Na reunião, também teriam ponderado ao senador que ele deveria levar em conta questões partidárias e da bancada, como sempre fez ao longo do período em que presidiu o Senado, e não se levar por posições pessoais – uma vez que Renan e Michel Temer nunca se bicaram dentro do PMDB.

Até o início da tarde, informações de bastidores eram que 18 dos 22 senadores teriam sido orientados pelo Planalto sobre o assunto – o que dava a entender que existia uma predominância de parlamentares contrários a Renan Calheiros. Mas ninguém computou este número levando em conta o racha da atual base aliada em relação ao governo.

Considerado um articulador nato e procurado até por parlamentares de outros partidos, Renan é um dos caciques do Congresso Nacional com ou sem a liderança do PMDB. Mas sua condução à liderança da sigla causaria um novo tumulto na já complicada relação entre os peemedebistas. Isto porque a condução foi feita por meio de acordo que levou o então líder, Eunício Oliveira (CE), à disputa e vitória pela presidência da Casa, no início do ano. E a destituição de Renan da liderança romperia esse acordo.