PMDB ameaça romper aliança nacional contra candidatura própria do PT no Rio

Pré-candidato petista ao governo fluminense, senador Lindbergh Farias inicia amanhã sua 'Caravana da Cidadania' pelo estado; peemedebistas querem apoio para o vice Luiz Fernando Pezão

Em nome de Pezão (à esquerda), o governador Cabral e o PMDB do Rio parecem dispostos a romper com o PT (Foto: Rafael Andrade/Folhapress)

Rio de Janeiro – A relação entre o PT e o PMDB parece nunca ter sido tão boa. Com a aparente confirmação da manutenção de Michel Temer como vice na chapa que tentará a reeleição da presidenta Dilma Rousseff em 2014 e a recente conquista do comando das duas casas do Congresso Nacional, o PMDB chegará sábado (2) à sua convenção nacional em lua-de-mel com o petismo. Durante o evento, que deverá contar com a presença de Dilma, a aliança nacional entre os dois partidos será reafirmada, mas uma já anunciada marcação de posição da direção do PMDB poderá ser o estopim de um processo de ruptura no Rio de Janeiro, onde o PT faz parte da base de sustentação do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes.

O motivo da discórdia é a pré-candidatura do senador petista Lindbergh Farias ao governo do Rio, que, segundo as sondagens de intenção de voto até aqui realizadas, é uma ameaça mais do que concreta ao projeto de permanência no poder estadual alimentado pelo PMDB. Articulada pelo presidente regional do PMDB, o ex-deputado Jorge Picciani, uma nota de repúdio à candidatura de Lindbergh – por quem foi derrotado nas últimas eleições para o Senado – será lida durante a convenção nacional do partido. Na ocasião, a direção partidária manifestará sua unidade em torno da candidatura do vice-governador, Luiz Fernando Pezão.

A nota do PMDB fluminense, que deverá ser lida no palco pelo próprio Picciani, afirma que a manutenção das políticas implementadas por Cabral “é fundamental para o Rio e muito importante para o Brasil” e cita a política de instalação de Unidades de Policia Pacificadora (UPPs) no estado para fazer a defesa da continuidade: “Pezão é a certeza de que a bem-sucedida política de segurança implementada no estado irá continuar e avançar de forma perene, trazendo a paz e o ambiente necessários para que o Rio prossiga no caminho do desenvolvimento social e econômico sustentáveis, garantindo mais emprego, mais renda e qualidade de vida.”

Picciani, que ainda não sabe se a nota que redigiu será lida na presença de Dilma e Temer, não hesita em colocar sob ameaça o apoio do PMDB do Rio à reeleição da presidenta em caso de confirmação da candidatura de Lindbergh. “Em 2010, o empenho do governador Cabral, reeleito no primeiro turno com quase 70% dos votos, foi fundamental para a vitória consagradora de Dilma no Rio no segundo turno. É uma questão de reciprocidade política e a presidente sabe disso. Se o Pezão não tiver o apoio do PT nacional, ela provavelmente não contará com o apoio do PMDB do Rio”, disse o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, sem, no entanto, precisar quem o partido apoiaria para a Presidência da República neste caso.

Sensível à manutenção da aliança com o PMDB, mas atenta às boas perspectivas de Lindbergh nas urnas fluminenses em 2014, a direção nacional do PT parece disposta a dar tempo ao tempo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou esta semana com Cabral e Pezão e tem sido interlocutor constante de Lindbergh. “O presidente Lula quer a base unida, mas sabe que é natural que isso só ocorra no segundo turno”, diz Lindbergh, sem tocar na possibilidade de que ocorra um segundo turno exatamente entre ele e Pezão, fato que colocaria em xeque a aliança entre PT e PMDB no Rio.

O acordo inicial previa que Lindbergh seria o candidato da coligação no Rio em 2014 (Foto: Pedro França. Agência Senado)

Durante o evento que marcou o início das comemorações pelos 30 anos da CUT, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que a candidatura de Lindbergh ao governo do Rio “é para valer”, mas não descartou um entendimento entre os dois partidos até 2014. É nesse entendimento – de preferência resultando na retirada da candidatura de Lindbergh – que aposta a direção nacional do PMDB: “O Cabral vai pedir a Lula e Dilma que conversem com ele. O Lindbergh é muito novo e, em nome da manutenção da aliança nacional, pode esperar a próxima eleição”, disse aos jornalistas o senador Valdir Raupp (RO), vice-presidente do partido.

PT unificado

No Rio, a pré-candidatura de Lindbergh unificou as tendências internas do PT – coisa rara – e foi aprovada por unanimidade no Diretório Regional do partido. Desde a campanha para as eleições municipais do ano passado, o senador petista intensificou as negociações com os partidos de esquerda que compõem a base de apoio a Cabral – PCdoB, PSB e PDT – para que marchem com ele no ano que vem. Amanhã (1), Lindbergh iniciará pelo município de Japeri, na Baixada Fluminense, sua “Caravana da Cidadania”, com a qual pretende percorrer todo o estado nos próximos meses e consolidar sua candidatura.

A proximidade de Lindbergh com as legendas de esquerda é também motivo de preocupação para o PMDB fluminense. Se alinhadas à candidatura petista ao governo do Rio, com a provável presença do PSB na chapa – o ex-ministro Roberto Amaral é um nome cotado para vice – elas deverão demarcar uma ruptura com o campo peemedebista durante a campanha que poderá sepultar até mesmo as possibilidades de Pezão chegar ao segundo turno. Isso porque o ex-governador Anthony Garotinho (PR) corre por fora e já aparece na frente do peemedebista nas sondagens de opinião.

Político próximo a Lindbergh, que prefere não ser identificado, afirma que a principal batalha para as eleições do ano que vem no Rio está sendo travada agora: “Se houver eleição, o Lindbergh vai para o segundo turno contra o Garotinho e não restará ao PMDB outra alternativa senão apoiá-lo. Por isso, a maior chance do PMDB é barrar no nascedouro a candidatura própria do PT. Mas a candidatura do Lindbergh é um processo irreversível”, diz.