Problema da segurança pública é de gestão, não de pessoas, dizem deputados

Avaliação é de que troca de secretário de Segurança Pública paulista em meio a onda de violência no estado não ataca os motivos que levam aos crimes

São Paulo – Um episódio foi emblemático na rápida entrevista coletiva realizada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no dia 12, uma segunda-feira, data da assinatura do convênio entre governos federal e estadual para tentar combater a escalada da violência. Em determinado momento, um repórter fez uma pergunta a Alckmin, que, por sua vez, respondeu dizendo que o “secretário de Segurança” poderia responder. Mas, em vez de Antonio Ferreira Pinto, quem apareceu e tomou o microfone foi o delegado-geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro. Naquele momento, parecia evidente que a queda do secretário de Segurança de Alckmin, nomeado, aliás, pelo antecessor José Serra, era questão de dias.

A gestão da segurança pública em São Paulo vai melhorar com a substituição de Ferreira Pinto, homem oriundo da própria Polícia Militar, por um promotor, caso de Fernando Grella Vieira, ex-Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo? Independentemente de seu posicionamento ideológico, dois deputados estaduais ouvidos pela reportagem e ligados a questões de segurança e direitos humanos estão pessimistas quanto a resultados que beneficiem o cidadão e os próprios policiais militares, enquanto trabalhadores.

Para Adriano Diogo (PT), o governador “mudou para tentar aliviar” a situação de crise. Mas o substituto “não é do ramo”, diz o parlamentar. Segundo o deputado, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais da Assembleia Legislativa, “o modelo é que está errado. O modelo de uma política de segurança de reação e de mandar matar”. Diogo entende que “o problema não é de pessoas, mas de políticas para a área”.

Ironicamente, o deputado estadual Olímpio Gomes (PDT), que atuou por 28 anos na Polícia Militar, tem visão muito semelhante. “O que tem de ser mudado é a estrutura da gestão da segurança pública. Ferreira Pinto estava no cargo havia três anos, a crise chegou, o desgaste aumentou. Vejo a substituição como um ato político, para minimizar os efeitos da crise”, diz Olímpio. “Se não mudar o modelo de gestão e o novo secretário não demonstrar conhecimento profundo da segurança pública, trocaremos seis por meia dúzia”, acredita.