Paes ainda busca bom desempenho em setores essenciais da administração

Críticas dos adversários e avaliações do governo federal mostram que ainda há muito a fazer em saúde, educação, transportes e segurança

Um dos projetos para facilitar o deslocamento nos morros foi a implementação de teleféricos, mas Paes precisará de mais propostas no segundo mandato (Foto: Ministério do Planejamento)

Rio de Janeiro – Não é só da organização dos grandes eventos internacionais que serão sediados pela cidade ou da revitalização da Zona Portuária que viverá Eduardo Paes (PMDB) nos próximos quatro anos à frente da prefeitura do Rio de Janeiro. Seu primeiro mandato recebeu diversas críticas em algumas áreas consideradas essenciais, como saúde, educação, transportes e segurança pública, e o prefeito mais votado da história do Rio terá pela frente o desafio de conjugar a intensa agenda internacional da cidade com a solução dos problemas crônicos que afetam o dia-a-dia do povo carioca.

A saúde é hoje um dos pontos vulneráveis da administração de Paes. De acordo com o Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (IDSUS), novo indicador criado pelo Ministério da Saúde para atestar a qualidade do setor público, o Rio ocupa a última posição entre todas as metrópoles brasileiras analisadas. A nota da cidade é 4,33 em uma escala que vai de zero a dez, índice abaixo da média brasileira, que é de 5,47.

Uma crítica recorrente ao sistema municipal da saúde no Rio diz respeito ao modelo de gestão adotado por Paes, que cedeu o gerenciamento de diversos hospitais públicos a Organizações Sociais (OSs), em regime de parceria público-privada. Durante a campanha, seus adversários acusaram o modelo de dispendioso, além de facilitador da má-gestão nos hospitais: “Dos R$ 4 bilhões destinados à saúde em 2011, o prefeito gastou R$ 1,6 bilhão somente com as OSs. Ele terceirizou a saúde no Rio sem que isso trouxesse nenhum resultado positivo”, afirma o vereador reeleito Paulo Pinheiro (PSOL), que é médico.

Um caso de saúde pública, a epidemia do crack, é outro desafio que Paes terá de enfrentar. O crescimento do problema no Rio e a falta de uma política pública integrada para fazer frente a ele foram um dos temas mais debatidos durante a campanha. Por diversas vezes, o prefeito disse que “pode e vai fazer mais” no combate ao crack e prometeu reativar a Secretaria Municipal de Prevenção às Drogas que, segundo ele, passará a trabalhar em parceria com igrejas católicas e evangélicas. “Vamos cadastrar as igrejas para que estas, com a ajuda da prefeitura, possam receber esses filhos que estão entregues à dependência química”, disse, no último debate entre os candidatos na tevê.

Educação

Também no setor de educação, o desempenho do Rio ainda pode melhorar muito, como atestam os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados pelo Ministério da Educação em 2011. A cidade, apesar de ser a segunda maior economia, ocupa apenas a sexta posição entre as capitais brasileiras, com nota de 5,4 para os anos iniciais do ensino fundamental e de 4,4 para os anos finais. A maior crítica, no entanto, é dirigida à falta de uma política efetiva de valorização do professor e de outros profissionais do sistema municipal de educação.

“Na educação, o maior desafio para Eduardo Paes no segundo mandato será implantar um plano de carreira que valorize os profissionais da educação e respeite a formação e o tempo de serviço do professor. Essa valorização não passa por prêmios”, afirma Túlio Paolino, diretor do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro).

Segundo Paolino, outro desafio para o prefeito é aumentar o número de escolas: “Temos ainda um quantitativo grande de crianças que estão fora da rede. Nós vamos cobrar as promessas de campanha feitas em relação à educação”, diz, fazendo referência ao compromisso, assumido por Paes, de construir cem novas unidades de Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDIs) nos próximos quatro anos.

O sindicalista, no entanto, ressalta que não bastará a Paes construir novas escolas: “É preciso também reformar e ampliar as instalações das escolas existentes. Estamos às portas de uma Olimpíada, e muitas escolas da rede municipal não têm sequer uma quadra para a prática esportiva. É necessário também aumentar o tempo de permanência da criança na escola, mas com qualidade. Não basta o aluno ficar mais tempo na escola se não houver atrativos para que ele realmente se envolva com o trabalho pedagógico”.

Mobilidade e segurança

Outro problema dos cariocas é a quase inexistência de um sistema integrado de transportes na cidade. Apontado no relatório do COI como principal ponto fraco do Rio para receber a Olimpíada, a mobilidade urbana é objeto de inúmeros projetos da Prefeitura. O principal deles é a instalação em vários pontos da cidade de um sistema de BRTs (ou Bus Rapid Transit), carros articulados para 160 passageiros que trafegam em corredores exclusivos. Outros projetos como a ampliação do metrô e a adoção de pequenos trechos de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) também estão sendo levados a cabo pelo prefeito.

Os projetos, no entanto, são considerados insuficientes para deter um crescimento que, segundo projeção divulgada pela UFRJ, fará o Rio se aproximar de uma frota de três milhões de veículos nos próximos anos: “A prefeitura continua privilegiando o transporte rodoviário, mas a solução para a cidade está no transporte sobre trilhos. Ainda não existe um planejamento para isso”, diz a deputada estadual Aspásia Camargo (PV), adversária derrotada por Paes nestas eleições e agora cotada para integrar seu secretariado.

A dificuldade em modernizar a gestão do setor de transportes leva Paes a receber críticas relativas também à segurança pública, área que, em princípio, é da alçada do governo estadual. O problema é que, ao permitir que cooperativas de vans se auto-organizem para explorar o transporte alternativo em alguns pontos da cidade – sobretudo na zona oeste – o prefeito, segundo os críticos, estaria facilitando a organização e desenvolvimento das milícias na cidade.

Esta denúncia foi feita durante a campanha eleitoral por outro adversário derrotado por Paes, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL): “A prefeitura, ao aceitar se sentar com as cooperativas de vans, dá margem ao desenvolvimento dos grupos paramilitares”, disse, durante a campanha. O prefeito refuta esses argumentos, dizendo ser impossível cadastrar os motoristas de vans individualmente.