Paes: segundo mandato entre o sonho olímpico e o pesadelo das remoções

Reeleito com dois milhões de votos, prefeito do Rio enfrentará oposição dos movimentos sociais nos próximos quatro anos e terá de garantir uma boa realização de Copa e Olimpíada

Um dia após a reeleição, Paes se reuniu com Dilma e Cabral, fundamentais para garantir os investimentos para o Rio (Foto: José Cruz. Agência Brasil)

Rio de Janeiro – O resultado das urnas no Rio de Janeiro inscreveu o nome de Eduardo Paes (PMDB) na história da cidade como o prefeito mais bem votado de todos os tempos. Reeleito com 64,6% da preferência do eleitorado carioca, desempenho que o permitiu superar a marca dos dois milhões de votos, Paes será o prefeito responsável por organizar e receber a Olimpíada de 2016, primeira edição dos jogos a serem sediadas em um país em desenvolvimento. Será certamente uma oportunidade para o peemedebista se colocar de vez entre os prefeitos mais emblemáticos da história carioca, mas outros desafios administrativos – e políticos – prometem tornar seus próximos quatro anos muito mais agitados do que foi a morna disputa municipal este ano no Rio.

Congelado nas fotografias publicadas em todo o mundo, o momento em que as autoridades brasileiras escutam o nome do Rio como sede escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para receber os jogos em 2016 revela toda a alegria do prefeito da cidade. Ali, Paes parecia antever que, através das portas abertas pela oportunidade olímpica, entrariam investimentos que permitiriam a realização de outros projetos de intervenção urbana. Este ano, o governo federal já repassou ao estado R$ 6 bilhões. O município recebeu outros R$ 991 milhões. Um dos investimentos, se der certo, poderá também entrar para a história do Rio: a revitalização da Zona Portuária. 

A responsabilidade pelas obras do projeto Porto Maravilha é da Empresa Municipal de Obras Públicas (Emop), enquanto a execução dos projetos ligados às Olimpíadas cabe à Empresa Olímpica Municipal (EOM). Os custos estimados oficialmente para os jogos só serão divulgados no segundo semestre de 2013, mas o dossiê da candidatura carioca apresentado ao COI falava em R$ 28,8 bilhões, valor que, como de hábito, deverá ser muito maior ao final da execução do projeto. Para as obras na Zona Portuária ainda não foi feita uma sistematização de custos.

A Olimpíada – além de outros grandes eventos como a Jornada Mundial da Juventude no ano que vem e a Copa do Mundo em 2014 – provocara uma valorização nos preços de terrenos e imóveis na cidade como há muito não se via. O outro lado dessa moeda, no entanto, são as remoções de comunidades pobres programadas para acontecer nos projetos olímpico e de revitalização. Estas revelam uma face menos risonha da prefeitura do Rio.

De acordo com o Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro, que reúne organizações da sociedade civil, movimentos sociais e universidades, o sonho olímpico poderá se transformar em pesadelo para as famílias que serão removidas nos bairros de Vila Autódromo, Restinga, Favela do Metrô (ao lado do Maracanã), Vila Harmonia e Vila Recreio, entre outras, em um total de 29 comunidades e 30 mil pessoas atingidas. Tais estatísticas levaram o Comitê Popular a conceder a Paes o “Troféu Remoção” durante uma manifestação realizada me agosto nas ruas do Rio.

“O troféu simboliza as alterações que a prefeitura tem feito em nossa cidade, com a desculpa da Copa e das Olimpíadas. Milhares de famílias estão sendo expulsas de suas casas de forma truculenta e deslocadas para áreas muito distantes de onde moravam, muitas vezes sem a menor infraestrutura”, disse Clara Silveira, advogada do Comitê Popular. Paes retruca e garante que a “única comunidade a ser removida por causa das Olimpíadas é a Vila Autódromo”. No local, ao lado do futuro Parque Olímpico, está prevista a passagem do traçado da via da BRT Transcarioca, uma das joias do projeto da prefeitura para o setor de transportes.

Porto Maravilha

Outras denúncias de remoções forçadas de moradores, a maioria delas ocorrida no Morro da Providência por conta do projeto Porto Maravilha, foram feitas no ano passado no “Relatório de Violações de Direitos e Reivindicações”, documento organizado pelo Fórum Comunitário do Porto, que reúne diversas organizações da sociedade civil. Segundo o documento, a Secretaria Municipal de Habitação prevê a construção de milhares de novos imóveis na Zona Portuária, sem que nenhum deles obedeça a critérios de interesse social.

Eduardo Paes sempre reage com firmeza às críticas e manifestações contrárias aos projetos para as Olimpíadas e a Zona Portuária. O prefeito também costuma se referir aos setores organizados contra as intervenções urbanas como “os encrenqueiros” ou “a turma do contra”. Mas, o fato é que as remoções previstas na cidade serão seguramente o maior foco de tensão entre o prefeito mais votado da história do Rio e os movimentos sociais nos próximos quatro anos.

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