Luta pelo poder

Novo bloco com MDB e PSD atrai Republicanos e vira alternativa ao Centrão

Grupo é o maior da Câmara com 142 deputados e tem entre os seus mentores Gilberto Kassab e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Novo bloco, o maior da Câmara, será a quarta força, junto com Centrão de Lira, a base de Lula e a oposição bolsonarista

São Paulo – As articulações e reacomodações na Câmara Federal com a nova legislatura e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que completa três meses, não param. Depois que fracassou a federação que seria formada entre o PP de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, e União Brasil, concretizou-se esta semana um bloco reunindo MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC, uma alternativa ao Centrão. O bloco é o maior da Câmara, com 142 deputados. Um bloco entre PP e União (fusão do DEM e do PSL), que teria 108 parlamentares, ainda pode ser viabilizado.

O novo grupo parece uma geleia geral. O MDB e o PSD de Gilberto Kassab são governistas, embora nem tão confiáveis assim, enquanto o Republicanos e o PSC estão no canto mais à direita do espectro político. O Republicanos tem em seus quadros do Rio de Janeiro, por exemplo, o vereador Carlos Bolsonaro. A legenda tem como seu principal quadro o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Tarcísio e o MDB de Michel Temer estão envolvidos na formação do agrupamento já como alternativa para a sucessão de Arthur Lira à presidência da Câmara em 2025. E, consequentemente, à eleição de 2026. O sempre ardiloso e poderoso Kassab – que está sempre olhando o futuro político – é um dos mentores da ideia que, já em prática, é mais um dos golpes sofridos por Arthur Lira esta semana.

Xeque de Pacheco sobre Lira

No embate com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Lira nos últimos dez dias foi longe demais em sua fome insaciável de poder. Por isso, tomou um “xeque” de Pacheco e teve de recuar em parte na questão do rito de tramitação das medidas provisórias. Seria difícil vencer uma disputa se Pacheco está do lado da Constituição, que determina a formação de comissões mistas para discutir MPs. Lira queria suprimi-las (leia mais aqui).

O novo bloco, por seu tamanho, ganha protagonismo na formação das comissões mistas. No ano passado, Lira perdeu a fonte até então maior de seu poder, o chamado orçamento secreto, que ele sempre negou ser secreto. “Não existe orçamento secreto, existe um orçamento municipalista”, dizia.

“Mais ajuda do que atrapalha”

Para o governo do presidente Lula, o bloco MDB-PSD-Republicanos-Podemos-PSC, neste momento, “mais ajuda do que atrapalha”, na avaliação do jornalista e consultor político Antônio Augusto de Queiroz, ex-diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

É que o bloco representa uma alternativa ao Centrão de Arthur Lira, o líder que monopoliza o poder na Câmara e comanda o bloco informal que reúne PP, Republicanos, Solidariedade, PL e PTB. Ocorre que o Republicanos, que diz não querer fazer parte do governo, tenta se posicionar como “independente” e desse modo se afasta de Lira ao mesmo tempo em que se aproxima do governo.

Se a base de apoio a Lula se somar a esse bloco em votações importantes, pode neutralizar ou diminuir a força de Lira. Em suma, a nova união das cinco legendas dilui e desconcentra os poderes como uma quarta força. As outras são o Centrão/Lira, a base de Lula e a oposição formal (o bolsonarismo).

Esperam-se novos lances no tabuleiro. Arthur Lira não costuma aceitar revezes.